SINOPSE — “Os Roses: Até que a Morte nos Separe” fica preso entre o clássico e o esquecimento

Refazer um clássico sempre é uma aposta arriscada e “Os Roses: Até que a Morte nos Separe” prova isso em quase todas as cenas. A nova adaptação do livro A Guerra dos Roses, de Warren Adler, chega aos cinemas carregando o peso de um passado glorioso. O filme original de 1990, dirigido por Danny DeVito e estrelado por Michael Douglas e Kathleen Turner, era uma comédia agridoce irresistível, cheia de sarcasmo, ritmo e personagens memoráveis.

Disponível atualmente no Disney+, ele segue sendo referência no gênero de comédias românticas. Por isso, a expectativa para esta versão era enorme, especialmente pelo elenco estrelar tendo Benedict Cumberbatch e Olivia Colman no centro da narrativa. Mas, apesar da promessa, o resultado final fica muito aquém do esperado.

A história acompanha Theo Rose (Cumberbatch) e Ivy (Colman), um casal que decide se separar depois que suas vidas profissionais tomam rumos opostos: enquanto ela, chef de cozinha talentosa, atinge o auge da carreira, ele vê sua vida como arquiteto desmoronar diante de seus olhos (literalmente). O divórcio que, como esperado, seria doloroso, piora ao se transformar em uma guerra aberta quando Theo exige ficar com a mansão que construiu — com o dinheiro da esposa.

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A premissa continua forte e cheia de potencial, mas a execução peca onde mais deveria acertar: a construção do relacionamento. E, se comparada à joia caótica dos anos 80 cáustica e divertida, aqui o roteiro certamente não consegue brilhar.

O filme opta por acelerar a narrativa, e isso compromete o envolvimento do espectador. Conhecemos o casal durante uma cena de paixão e, num salto brusco de dez anos, já os encontramos no olho do furacão conjugal. Não há tempo para criar laços emocionais com esses personagens, e a consequência é direta: nos importamos pouco com o destino deles.

Jay Roach, diretor experiente que entregou filmes sólidos como “Trumbo – Lista Negra” e “O Escândalo”, faz o possível para dar ritmo e sofisticação à obra, mas se vê preso a um roteiro frágil, assinado por Tony McNamara. Faltam diálogos afiados, falta timing cômico, faltam cenas memoráveis. A ironia, que deveria ser o coração do longa, surge apenas em lampejos, como na breve audiência de separação, que é cena mais divertida de todo o filme, e, ainda assim, pouco aproveitada.

O resultado é um campo de batalha conjugal polido, elegante, mas onde os golpes mais brutais são evitados. Isso pode frustrar quem esperava o caos anárquico do original. No entanto, não podemos negar que, o verdadeiro espetáculo aqui é o duelo titânico entre Olivia Colman e Benedict Cumberbatch. A sintonia entre os dois é a própria razão de existir do filme.

Nos olhos de Colman, a decepção vira estratégia; na postura de Cumberbatch, a arrogância se dissolve em pânico. Mesmo quando o roteiro hesita, eles mantêm o conflito vivo. Não posso dizer o mesmo do elenco de apoio, que, apesar de ser brilhante, é lamentavelmente subutilizado, deixando tudo simplesmente exaustivo.

Ainda assim, é interessante notar como a direção utiliza elementos visuais para representar o ciclo do amor. A fotografia, inicialmente branca e quase estéril, transmite perfeição e pureza, como uma vitrine de vida idealizada. Aos poucos, essa brancura se dissolve, dando espaço a contrastes mais intensos, como o preto dos cenários e o calor sufocante da luz da lareira. Essas cores se encontram na “casa dos sonhos” de Theo, palco do conflito final.

O recurso visual dialoga com a narrativa, mostrando o que era ideal e organizado se transformar em sombras e desgaste. Nos figurinos observamos um interessante jogo cromático, o azul inicial, símbolo de leveza e serenidade, cede lugar ao amarelo, que sugere alerta, exaustão e desgaste emocional, como se o próprio guarda-roupa denunciasse o estado de espírito dos personagens.

A decupagem criativa, cheia de planos que exploram tanto a linguagem corporal dos atores quanto o espaço ao redor deles, tornando o riso quase inevitável mesmo em momentos de tensão. Talvez o grande trunfo do diretor seja bom domínio em equilibrar o riso e o incômodo, fazendo com que cada piada revele algo a mais sobre um relacionamento deteriorado.

Entretanto, em diversos momentos, a sensação é de que o filme deseja homenagear o original, mas se perde tentando reinventá-lo sem oferecer algo genuinamente novo. No fim, “Os Roses: Até que a Morte nos Separe” tenta ser uma comédia de humor ácido sobre o fim do amor, mas entrega algo irregular, preso entre o peso do clássico e a busca por modernidade.

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