Projeto do MPTO busca garantir direitos ao povo indígena Krahô de Itacajá e Goiatins

Fomento da cidadania, estímulo à participação nos processos decisórios, como forma de construção de uma sociedade democrática, justa, inclusiva e respeitadora da diversidade étnica e cultural. Estes são os objetivos do projeto do Ministério Público do Tocantins (MPTO) Elos da Cidadania e Inovação – Defesa dos Povos Indígenas e Quilombolas, que nos dias 19 e 20 de março foi executado junto à etnia Krahô, nos municípios de Itacajá e Goiatins.

Nesses dois dias, os promotores de Justiça Saulo Vinhal da Costa, coordenador do Grupo de Atuação Eleitoral, e Carolina Gurgel, que responde pela Promotoria de Justiça de Itacajá, promoveram uma série de reuniões que envolveram indígenas de 11 aldeias, sendo nove de Itacajá e duas de Goiatins.

Diálogo e escuta ativa

O MPTO adotou uma abordagem participativa e sensível à cultura indígena. Por meio de exposições dialogadas e escuta ativa, os membros da comunidade Krahô tiveram a oportunidade de expressar livremente suas preocupações e demandas.

Questão eleitoral

Um dos focos do projeto é a conscientização quanto à necessidade de manterem o cadastro eleitoral regularizado e também quanto à possibilidade de se organizarem politicamente para eleger candidatos próprios. Conforme verificado, a sobreposição de municípios na Terra Indígena Kraolândia dificulta a organização política para eleger candidatos indígenas. Além disso, relatos de compra de votos levantaram preocupações legítimas com a integridade do processo eleitoral e a liberdade de escolha dos indígenas.

Participação política

De acordo com o último censo do IBGE, Itacajá tem 1.195 indígenas, e Goiatins possui 2.650. Enquanto Itacajá conta com um indígena na Câmara Municipal e outro em Secretaria Municipal, em Goiatins, apesar de numerosos, os indígenas ainda não alcançaram participação política.

Saúde e saneamento básico

A falta de acesso à água potável encanada, o abandono de programas de banheiros públicos e a falta de regularidade da coleta de lixo são questões urgentes a serem resolvidas. A precariedade de estruturas prediais, a escassez de medicamentos e a deficiência na logística de atendimentos também afetam diretamente a saúde e o bem-estar dos indígenas.

Educação e mobilidade

A falta de material didático, merenda escolar e de infraestrutura básica comprometem a qualidade da educação. Além disso, a deficiência na mobilidade devido à falta de transporte coletivo e manutenção precária de estradas impacta negativamente o acesso aos serviços essenciais.

Vulnerabilidade socioeconômica

A dependência de programas assistenciais e a falta de educação financeira contribuem para a vulnerabilidade socioeconômica dos indígenas. Muitos deixam seus cartões de benefícios sob a gestão de comerciantes locais, o que compromete sua liberdade. “Isso induz a um impacto em termos de liberdade e autonomia, algo por eles referido como uma espécie de ‘escravidão modernizada'”, diz o relatório produzido pelo MPTO.

Encaminhamentos e perspectivas futuras

O relatório apresenta uma série de encaminhamentos a órgãos e entidades, visando à melhoria das condições de vida do povo Krahô. Houve redirecionamento de demandas para:

• Procuradoria Regional Eleitoral e Promotorias de Justiça Eleitorais: delineamento de estratégias para combater a compra de votos e assegurar a liberdade de voto dos indígenas;

• Promotorias de Justiça: acompanhamento da aplicação de verbas, criação de transporte público, recuperação de estradas e pontes;

• Procuradoria da República: investigação da atuação de organização não governamental na localidade, sem autorização da Funai, e da retenção de cartões de benefícios assistenciais e previdenciários por comerciantes;

• Distrito Sanitário Especial Indígena e Conselhos Municipais de Saúde: adoção de providências sobre acesso à água, estrutura de saúde e discriminação no transporte;

• Superintendência Regional de Educação: melhorias na educação, incluindo material didático, merenda, estrutura escolar e consultas prévias aos indígenas;

• Municípios de Goiatins e Itacajá: atendimento às demandas indígenas, incluindo saneamento, transporte, educação e fomento à agricultura familiar;

• Funai: Fiscalização e providências sobre problemas de saúde, educação, mobilidade e ingresso não autorizado na Terra Indígena Kraolândia;

• Sebrae, Ruraltins, Embrapa e Unitins: promoção de capacitação, assistência técnica, extensão e programas universitários para os indígenas;

• DNIT: Avaliação da viabilidade de asfaltamento da BR-010, para reduzir exclusão dos indígenas;

• Secretaria do Turismo: identificação de potenciais turísticos na Terra Indígena Kraolândia;

• Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais: coordenação de políticas públicas relacionadas à saúde, educação e mobilidade.

Segundo o promotor de Justiça Saulo Vinhal, “cabe ao Ministério Público, na qualidade de ouvido e voz das comunidades tradicionais, induzir políticas públicas para melhoria das condições de vida do povo Krahô”.

Cidadania ativa

O resultado do trabalho será disponibilizado à comunidade Krahô, para acompanhamento de seus desdobramentos, em estímulo ao exercício da cidadania ativa e à participação nos processos de formulação de políticas públicas.

Leia também

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está de acordo com isso, mas você pode optar por não participar, se desejar. AceitarLeia mais