Mês da Mulher: Vereadora MaryCats e o início de uma jornada como protetora dos animais
A luta pelos direitos dos animais tem sido impulsionada por pessoas que, com dedicação, recursos e muito amor, abraçam essa causa — uma bandeira, em grande parte, erguida por mulheres. Por isso, neste mês de março, o Jornal Primeira Página compartilha histórias inspiradoras de mulheres que transformaram suas vidas em defesa do bem-estar animal.
Em Palmas, um dos principais nomes desse movimento é a vereadora MaryCats, que transformou sua paixão pela proteção animal em um compromisso político, quando foi eleita em 2024 com 2.015 votos.
Nesta entrevista ao Jornal Primeira Página, Mariana Almeida, a MaryCats da Causa Animal, conta como iniciou sua trajetória como protetora e o que despertou nela um propósito maior: lutar por políticas públicas que garantam mais dignidade aos animais abandonados. Sua dedicação a levou a um marco inédito — tornar-se a primeira parlamentar da Câmara Municipal de Palmas eleita com essa bandeira.
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Jornal Primeira Página – Antes de iniciar seu trabalho na causa animal, conte um pouco sobre sua história pessoal e profissional.
Vereadora MaryCats – Meu nome é Mariana Almeida, tenho 43 anos, sou formada em Administração, com mestrado em Educação e doutorado na área Ambiental. Morei 21 anos em São Paulo, mas minha família é de Minas Gerais, e há 22 anos resido em Palmas. Iniciei minha carreira como administradora em cursos da FGV [Fundação Getúlio Vargas]. Também passei em um concurso para a Infraero, onde trabalhei em aeroportos em Brasília e Palmas. Também fui aprovada em concurso para professora do curso de Administração na Universidade Federal do Tocantins (UFT). Atualmente, continuo atuando como professora e vereadora de Palmas. Optei por não pedir licença da instituição porque amo meu trabalho, meus alunos e o projeto de extensão que envolve animais.
Jornal Primeira Página – Quando a MaryCats surgiu como protetora de animais?
Vereadora MaryCats – Comecei a atuar como protetora em 2016. Sempre tive cachorros, e naquele ano, via ONGs pedindo ajuda e contribuía financeiramente. Certa vez, encontrei uma cadela quase morrendo na rua e pedi ajuda a uma protetora, que disse não poder resgatá-la por falta de recursos e espaço. Decidi agir: se eu não ajudasse, ela ia morrer! Resgatei a cadela, levei-a ao veterinário e a escondi no meu condomínio, cuidando dela. Depois, consegui um lar temporário para ela na casa da minha mãe. Esse foi o pontapé inicial para me envolver mais profundamente com o resgate de animais.
Quanto aos gatos, nunca havia tido contato por preconceito, mas um dia, pedalando com meu esposo, vi uma gatinha atravessando a rua, na pista do aeroporto em Palmas. Aprendi a cuidar dela naquele momento. Meu esposo inicialmente não gostou, mas acabou se apegando à gatinha, que batizamos de Nina. Ela está conosco até hoje. Esse episódio me fez conhecer o amor pelos gatos, e comecei a resgatá-los também.
Jornal Primeira Página – Como foi o início da sua jornada como protetora?
Vereadora MaryCats – No começo, levava os animais para casa e cuidava deles no banheiro. Logo, a situação ficou caótica. Pedia ajuda a outros protetores, mas todos estavam lotados. Foi então que decidi agir por conta própria: castrava os animais em clínicas veterinárias que faziam preços mais acessíveis e os doava para quem quisesse adotar. Em 2016, criei a página “MaryCats Palmas” nas redes sociais para divulgar meu trabalho, e os animais para adoção.
Em 2017, com muitos gatinhos dentro de casa, a situação estava complicada. Acabei comprando um lote perto de casa, construí um espaço para abrigar os gatos. Fiz tudo com meus próprios recursos, chamei os pedreiros para erguer um muro e fiz tudo sozinha. Hoje, esse local é o meu gatil e funciona desde março daquele ano.
Jornal Primeira Página – Quantos animais, entre gatos e cachorros, já passaram por você?
Vereadora MaryCats – Cerca de 2.500 animais. Tenho esse número porque, desde o início, registro todos os Termos de Adoção que fiz. Além disso, nas ações de doação em parceria com a Petz e também nas castrações, mantenho todas as guias e documentos. A maioria dos animais resgatados são gatos, mas cães também passaram por mim. Eu escolhi os gatos porque, antes, eu era preconceituosa e tem muitas pessoas preconceituosas também, não gostava, mas aprendi a gostar profundamente deles, e o envolvimento foi natural. Então, vejo isso como uma missão de vida.
Jornal Primeira Página – Agora, falando das eleições de 2024, como foi a construção do projeto para se lançar como candidata com a pauta de protetora dos animais?
Vereadora Mary Cats – Vejo minha candidatura como um propósito e uma missão de vida. Durante anos, vivenciei e acompanhei de perto a luta de todos nós protetores de animais, e todos nós enfrentando inúmeras dificuldades devido à falta de recursos e apoio. Percebi que, sozinhos, não conseguiríamos transformar essa realidade. Era fundamental ocupar um espaço dentro do poder público para dar voz à causa animal.
Minha trajetória política começou em 2022, quando participei das eleições para deputado estadual dentro de um coletivo de protetores. Naquele momento, um colega sugeriu que uníssemos forças para lançar um projeto coletivo, e aceitei a ideia, embora não quisesse ser a titular da candidatura. Sem estrutura de campanha, conseguimos 3.500 votos apenas com a mobilização de pessoas que acreditavam no projeto. Esse resultado me mostrou que havia um grande potencial para alcançarmos um mandato e, mais do que isso, a necessidade de uma representatividade real da causa animal no legislativo.
Em 2024, decidi disputar as eleições para vereadora e levei essa experiência como base para construir uma campanha sólida e focada. Naquele momento, ao avaliar com quem eu caminharia politicamente, fiz questão de escolher alguém que também tivesse sensibilidade e respeito pelos animais. O prefeito Eduardo Siqueira Campos sempre demonstrou esse cuidado, tendo resgatado vários gatinhos ao longo dos anos. Isso foi um fator determinante para minha decisão, pois eu queria estar ao lado de alguém que, de fato, entendesse e valorizasse essa causa. Ao conversar com ele, recebi seu apoio e a confirmação de que, mesmo que não fosse eleita, teria um espaço dentro da gestão, assumindo a Secretaria de Bem-Estar Animal.
Minha campanha foi planejada estrategicamente e estruturada com uma equipe de multiplicadores que realmente acreditavam no propósito. Desde o início, eu tinha uma convicção muito forte de que daria certo. Chamei para a equipe apenas pessoas que já atuavam na causa animal, garantindo que todos estivessem alinhados com a missão da campanha.
O dia da eleição foi de grande emoção, pois fui muito bem votada, mesmo com poucos recursos.Esse resultado mostrou que, mais do que uma campanha tradicional, construímos um movimento genuíno, impulsionado pelo compromisso real com a causa animal.
Jornal Primeira Página – Durante a campanha e o início do mandato, algo chamou sua atenção sobre a causa animal?
Vereadora MaryCats – Todos os dias recebo mensagens e visito meus colegas protetores; todos os dias confirmo a urgência das ações pelos animais. Vejo que o sofrimento dos animais é enorme, muito mais do que eu tinha noção. Mas a votação expressiva que tive chamou a atenção de muita gente e de outros políticos para a causa animal. Acho isso fantástico, chamamos muita atenção para esse tema. Agora, muitos falam em ajudar. Se isso resultar em ações concretas, ótimo, pois a demanda é grande e não podemos atuar sozinhos.
Jornal Primeira Página – O que você viu de positivo e negativo no exercício do mandato dentro da Câmara Municipal de Palmas?
Vereadora MaryCats – O lado positivo é que há muitos vereadores novos na Casa, com causas específicas e vontade de trabalhar. Senti isso de muitos aqui. No meu caso, já apresentei diversos requerimentos e projetos de lei. Tem muito trabalho a ser feito nessa área, e isso me deixa animada. Também há as emendas parlamentares, e no próximo ano pretendo destinar a maior parte dos recursos para castração e controle populacional de animais, além de ações educativas para a população.
O lado negativo é a falta de experiência política. Essa é a minha primeira experiência como vereadora. Vejo e escuto algumas coisas que geram receio, como cair em alguma armadilha ou maldade. Mas mantenho um bom relacionamento com todos, porém atenta e alerta ao que está acontecendo ao redor.
Jornal Primeira Página – Falando da inédita Secretaria de Proteção e Bem-Estar Animal em Palmas, qual sua expectativa do trabalho que essa pasta tem a desenvolver?
Vereadora Mary Cats – A criação da Secretaria de Proteção e Bem-Estar Animal é um marco histórico para Palmas e um avanço essencial para garantir políticas públicas eficazes na proteção dos animais. Essa pasta a qual contribui para estruturar foi baseada em três pilares fundamentais: castração, educação e combate aos maus-tratos. Sem essa base, qualquer outra iniciativa se tornaria insustentável, pois hospitais veterinários e abrigos não dariam conta da demanda se não houvesse um trabalho preventivo eficiente e contínuo.
Quando recebi o convite para assumir a secretaria, entendi a importância desse cargo, mas também sabia que fui eleita para representar a população no legislativo e precisava honrar esse compromisso. É fundamental que a causa animal tenha uma voz dentro da Câmara Municipal, garantindo que leis sejam criadas e que o tema continue sendo pautado. Se eu assumisse o executivo, perderíamos essa representatividade na casa legislativa, o que poderia comprometer avanços importantes.
Por isso, estamos construindo um trabalho conjunto entre o legislativo e o executivo, em parceria com o prefeito Eduardo Siqueira Campos e a Secretaria de Bem-Estar Animal, comandada por Gabriela Siqueira Campos. A Gabi tem um amor genuíno pelos animais e uma capacidade incrível de articulação, o que é essencial para captar recursos e transformar projetos em realidade. Essa união entre os dois poderes é o que permitirá que Palmas avance de forma concreta na proteção animal, garantindo ações estruturadas e duradouras.
Jornal Primeira Página – Estamos no mês de março, o mês da mulher. Na sua visão, por que a maioria das pessoas envolvidas com a causa animal são mulheres?
Vereadora MaryCats – Acredito que as mulheres têm uma sensibilidade maior, um lado materno que as motiva a cuidar de seres vulneráveis. Os animais não têm hospitais para eles, não têm ambulância para atendê-los, dependem do ser humano para comer e beber. Isso tudo chama mais a atenção da mulher.
No entanto, essa sensibilidade também traz sobrecarga, pois os recursos financeiros são escassos e os procedimentos veterinários, caros. Além disso, há a dificuldade de encontrar lares temporários e a falta de apoio familiar, pois é um trabalho solitário muitas vezes. Temos que alimentá-los, medicá-los, recuperá-los para terem a chance de serem adotados. Tudo isso faz parte desse universo das protetoras dos animais. Nós, mulheres, sofremos muito com todo esse cenário.
Jornal Primeira Página – Quais pontos de atenção a sociedade e o poder público devem ter quando falamos em causa animal?
Vereadora MaryCats – É essencial que sociedade, ONGs e poder público trabalhem juntos. A causa animal não pode depender apenas do governo ou da prefeitura. Também é preciso paciência, pois as mudanças serão graduais. A castração em massa, por exemplo, é fundamental para controlar a população de animais de rua. Vamos buscar esse momento para reduzir a população nas ruas. O censo que será feito em Palmas será fundamental, pois teremos uma base de metas para trabalhar.
Jornal Primeira Página – Que recado você deixa aos protetores que fazem esse trabalho e também às famílias que adotam os animais resgatados?
Vereadora MaryCats – Para as famílias, peço que entendam o esforço por trás de cada adoção, que é muito sofrido e difícil, e que cuidem dos animais com amor e responsabilidade. Infelizmente, às vezes acontece esse trabalho imenso, e as pessoas não tomam o devido cuidado e deixa fugir. Por trás daquele animalzinho, há todo o sofrimento dele próprio e das pessoas que ajudaram a cuidar dele. É necessário completar o ciclo de amor, dar o lar e a proteção que eles merecem.
Para os protetores, reforço a importância da união e da esperança. Agora, com representantes no Legislativo e Executivo, temos mais ferramentas para melhorar a vida dos animais e daqueles que os protegem. Eu, como protetora, e agora como vereadora, estou fazendo o máximo em busca das soluções e das ações que precisamos melhorar.