Agrotóxicos ameaçam modos de vida das quebradeiras de coco no Bico do Papagaio

Durante a primeira etapa da 4ª Conferência Estadual de Saúde do Trabalhador e da Trabalhadora, realizada em Augustinópolis, movimentos sociais, sindicatos e organizações agroecológicas da região do Bico do Papagaio denunciaram os impactos crescentes do uso de agrotóxicos nos territórios tradicionais, com destaque para os prejuízos sofridos pelas quebradeiras de coco babaçu.

Em carta entregue às autoridades presentes no evento, os representantes da Rede Bico Agroecológico e da Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA) alertaram para o avanço da pulverização aérea e da aplicação indiscriminada de venenos em plantações de soja, eucalipto, pastagens e, de forma mais alarmante, diretamente sobre pindovas e palmeiras adultas de babaçu — plantas centrais ao modo de vida das quebradeiras.

As substâncias utilizadas, como o glifosato e o triclopir butotílico, estão sendo aplicadas em misturas com óleo diesel ou queimado e injetadas nos troncos das palmeiras, comprometendo a extração do coco e ameaçando a subsistência de centenas de famílias extrativistas. Além disso, a pulverização aérea com drones tem causado a destruição de lavouras, hortas, árvores frutíferas e colmeias, prejudicando a segurança alimentar e a biodiversidade local.

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Conceição Barbosa, coordenadora do Movimento Interestadual das Quebradeiras de Coco Babaçu (MIQCB) – Regional Tocantins, relatou os efeitos do avanço do agronegócio e do uso de agrotóxicos nas comunidades tradicionais. “Estamos adoecendo por causa do envenenamento das palmeiras. Esse uso desenfreado de venenos mata – e nos mata – silenciosamente. O veneno mata quem aplica, quem sente o cheiro, quem bebe da água contaminada. Mata primeiro quem está na linha de frente”, afirmou.

Entre as principais reivindicações do documento estão:

  • A proibição da pulverização aérea com aviões e drones;
  • A inclusão, na Lei Estadual nº 1.959/2008, da vedação do uso de agrotóxicos nas pindovas e palmeiras vivas;
  • A reclassificação do glifosato como produto “extremamente tóxico” e sua proibição pela Anvisa;
  • O aumento da carga tributária sobre os agrotóxicos;
  • A aprovação do Programa Nacional de Redução de Agrotóxicos (PRONARA), no âmbito federal.

Magna Dias, gerente de Saúde do Trabalhador, destacou a importância da mobilização popular. “A entrega dessa carta mostra que os movimentos atuam em rede e precisam de apoio. É necessário envolver os conselhos de segurança alimentar, saúde, educação e assistência social. Isso é vigilância popular”, afirmou.

A etapa estadual da conferência ocorrerá nos dias 10 e 11 de junho, em Palmas, quando as propostas serão discutidas por delegados eleitos na etapa regional. As quebradeiras de coco esperam que seus apelos ganhem força e se transformem em políticas públicas que garantam a vida e a permanência nos territórios.

Informações: Articulação Tocantinense de Agroecologia (ATA)

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