No Jalapão, artesãos e extrativistas celebram início da colheita do capim-dourado

Conforme Lei nº 3.594/2019, liberação da colheita teve início na última sexta-feira, 20, e se estende até o dia 30 de novembro.

Responsável pela gestão do Parque Estadual do Jalapão (PEJ) e da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, o Naturatins desempenha um papel fundamental na preservação e no manejo sustentável do capim-dourado nas Unidades de Conservação (UC). A liberação da colheita teve início na última sexta-feira, 20, e se estende até o dia 30 de novembro, período estabelecido para garantir a preservação da espécie.

Colhido de forma sustentável por comunidades locais, que seguem as normas previstas na Lei nº 3.594/2019, que estabelece a Política Estadual de Uso Sustentável do capim-dourado e do Buriti, o brilho do capim-dourado começa a reluzir nas mãos dos artesãos e extrativistas, marcando o início de mais uma colheita que une tradição e preservação. Neste fim de semana, nos dias 21 e 22, o campo Brejo do Capão, situado na região do Rio Novo, a cerca de 60 km da comunidade Quilombola Mumbuca, tornou-se um dos locais onde o tom dourado do capim se uniu à dedicação e ao trabalho de famílias que mantêm essa tradição há gerações.

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A supervisora da Área de Proteção Ambiental (APA) do Jalapão, Rejane Nunes, acompanhou as coletas reforçando a importância de respeitar a legislação. “Estamos visitando os campos e aproveitado para distribuir alguns pentes, que facilitam a retirada das florzinhas/cabecinhas do capim-dourado, garantindo que a semente fique no local, cumprindo o que está na legislação”, explicou.

Tradição

A colheita do capim-dourado não é apenas uma prática extrativista, mas um elo cultural e econômico que sustenta a vida das famílias do Mumbuca e da região do Jalapão. A matéria-prima transformada em peças de artesanato conhecidas mundialmente, simboliza o cuidado com a natureza e a sabedoria de um povo que sabe extrair dela o sustento sem esgotá-la.

Conhecida como uma tradição que atravessa gerações, a colheita do capim-dourado é motivo de celebração para as famílias que dependem do Ouro do Cerrado para seu sustento. A artesã e extrativista Nina Tavares da Silva descreve a rotina no acampamento, onde a comunidade se instala durante o período de colheita, destacando o ritmo intenso de trabalho que marca essa época do ano. Para ela, é um momento de esforço coletivo e união, em que a tradição e o sustento caminham lado a lado. “Ao chegarmos ao acampamento, organizamos tudo com muito cuidado. No dia seguinte, por volta das cinco da manhã, iniciamos o percurso de um quilômetro até o campo de coleta. Permanecemos lá até cerca de dez horas, evitando o calor intenso do sol de setembro. Em seguida almoçamos e retornamos no início da tarde, continuando a colheita até o entardecer”, detalhou.

Nina explicou que o tempo de permanência no campo, durante todo o período da colheita, varia entre as famílias. Algumas permanecem por uma semana inteira, enquanto outras vão e voltam de acordo com a maturidade do capim-dourado. “Nós colhemos a matéria-prima somente quando está madura. Às vezes, é necessário esperar de 10 a 15 dias para retornar, pois algumas hastes ainda estão verdes.”, explicou.

Este ano, os artesãos comemoram a fartura do capim-dourado, especialmente após as perdas causadas por incêndio em um dos campos de coleta no ano anterior. “Graças a Deus, este ano a colheita de capim-dourado está farta, e a alegria é contagiante entre todos. Já estamos há dois dias no campo, colhendo com toda a comunidade, e a fartura é realmente impressionante”, relatou Nataniel Alves, morador do povoado Quilombola Mumbuca.

Natanael destacou a forma correta da coleta e manejo sustentável da matéria-prima. “É fundamental deixar a florzinha\cabecinha no solo, pois ela representa o futuro da planta. Se não a dispersarmos, o capim-dourado não se renova, comprometendo a colheita nos anos seguintes. A preservação é essencial para garantir que as futuras gerações continuem a usufruir desse recurso tão precioso”, explicou.

A colheita do capim-dourado é um processo manual e cuidadoso, que envolve técnicas tradicionais transmitidas de geração em geração. Caminhar entre os campos úmidos representa um verdadeiro desafio. Para Taiane Gomes, esse momento especialmente significativo, conta com o apoio do Naturatins e de várias instituições parceiras para proteger essa riqueza natural. Ela expressa com alegria o sentimento que acompanha a realização deste trabalho. “Este ano, tivemos nossos campos protegidos, graças ao empenho do órgão ambiental e diversas instituições, além dos próprios moradores da comunidade. É uma alegria muito grande dar continuidade a essa tradição. No futuro, será meu filho colhendo, assim como meus avós e minha mãe fizeram antes de mim”, destacou.

Além de ser um símbolo do artesanato sustentável da região, a matéria-prima exerce um significativo impacto socioeconômico nas comunidades locais, especialmente entre as mulheres artesãs. A expectativa é que, nos próximos meses, o capim-dourado colhido se transforme em obras de arte, como bolsas, chapéus, acessórios e outros artigos que circularão tanto no território nacional quanto internacionalmente.

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