Vocifer lança videoclipe com Tambores do Tocantins; Confira entrevista com o vocalista, João Noleto

Passando pelo álbum “Boiuna”, de 2020, e na sequência com “Jurupary”, de 2023, a banda tocantinense Vocifer tem conquistado espaço no metal mundial, levando consigo a bandeira da preservação da floresta e da cultura amazônica. Mas, foi com o lançamento do “Jurupary”, que o grupo consolidou sua identidade musical e conceitual, explorando mitos e histórias do norte do Brasil.

Em janeiro deste ano, a Vocifer lançou o videoclipe de “We Are”, sua sexta produção audiovisual do álbum, marcando um encontro inédito com o tradicional grupo “Tambores do Tocantins”. A parceria resgata ritmos e sonoridades brasileiras, ampliando o impacto da canção.

“We Are” fala sobre superação, mostrando como a arte e os instrumentos sagrados podem transcender com a velocidade do heavy metal. O videoclipe tem direção e edição de Daniel Mazza e contou com a produção de Thiago Bianchi (Noturnall, ex-Shaman) no Estúdio Fusão, além das participações de Fábio Laguna nos teclados e dos integrantes dos Tambores do Tocantins nas percussões.

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A Vocifer surgiu em 2014, e atualmente é formada por João Noleto (vocais), Lucas Lago (baixo), Pedro Scheid e Gustavo Oliveira (guitarras) e Richard Rodrigues (bateria). O som da banda segue percorrendo frequências fora do Brasil, conquistando reconhecimento tanto na América Latina quanto na Europa.

Em entrevista ao Jornal Primeira Página, o vocalista João Noleto falou sobre a trajetória da banda e a construção de “Jurupary”.

Jornal Primeira Página – Primeiro, vamos falar sobre o “Boiuna”, esse trabalho que projetou a Vocifer para fora do país e rendeu boas críticas.

João Noleto: A ideia do “Boiuna” começou com uma conversa de bar sobre a identidade da banda. Queríamos algo que fugisse do tradicional “metal espadinha” e que não fosse algo do Sudeste. Um amigo mencionou a lenda da Boiuna, uma cobra gigante da mitologia amazônica. Como professor e pesquisador que sou, mergulhei no estudo desse mito e descobri um universo vasto e pouco explorado.

Jornal Primeira Página: Como foi a recepção de “Boiuna” no Brasil e no exterior?

João Noleto: No Brasil, a divulgação foi limitada, mas no exterior chamou atenção. Tivemos muitas audições em países como Polônia, Alemanha e Suécia. Mandamos material físico para lá e recebemos boas críticas, especialmente pelo diferencial da temática. “Boiuna” é um álbum mais cru, direto, com menos orquestração.

Lucas Lago (baixo) junto com os Tambores do Tocantins na gravação de “We Are” no município de Porto Nacional

Jornal Primeira Página: Como foi a transição para “Jurupary”?

João Noleto: O álbum teve aceitação imediata na América do Sul, especialmente na Argentina e no Uruguai. A produção de “Jurupary” foi mais ousada e sofisticada, e a resposta foi muito positiva. “The Voice of the Light”, o primeiro single, teve um clipe animado que chamou bastante atenção.

Jornal Primeira Página: Como surgiu a ideia de trabalhar com os Tambores do Tocantins?

João Noleto: Desde que me mudei para Palmas, em 2012, pensava em fazer algo com eles. No “Boiuna”, a parceria não foi possível, mas em “Jurupary” conseguimos. Mandamos “We Are” para o Márcio (dos Tambores do Tocantins), e ele imediatamente viu que a suçia poderia encaixar, e acabou conectando perfeitamente. A gravação aconteceu em Porto Nacional, trazendo um elemento ancestral forte para a música, passando por cenários tradicionais da cidade.

Pedro Scheid (guitarrista) e Richard Rodrigues (baterista) com membros do grupo musical Tambores do Tocantins

Jornal Primeira Página: O álbum também tem participações especiais. Como surgiram essas parcerias?

João Noleto: O Fábio Laguna já havia trabalhado conosco em “Boiuna” e topou de imediato repetir a parceria. A Daísa Munhoz, uma das maiores vozes do heavy metal nacional, também participou após uma longa conversa que tivemos sobre projetos e cultura. Além disso, tivemos o privilégio de contar com o baixista Luis Mariutti (Angra, Firebox, Shaman, Henceforth), que já conhecia nosso trabalho e aceitou gravar uma faixa.

Jornal Primeira Página: O que diferencia “Jurupary” de “Boiuna”?

João Noleto: Enquanto “Boiuna” apresenta histórias isoladas de mitos amazônicos, “Jurupary” segue uma narrativa contínua, inspirada nos relatos de um antropólogo. Jurupary é uma figura messiânica, cuja jornada é permeada por dilemas entre o bem e o mal. Adaptamos esse mito para um contexto moderno, mantendo sua essência espiritual.

Jornal Primeira Página: Como a banda enxerga a indústria musical?

João Noleto: Ainda estamos aprendendo muito, mas percebemos que todos enfrentam desafios para conquistar espaço. Nos dedicamos à mídia e à divulgação, mas, acima de tudo, mantemos nossas convicções. Defendemos a preservação da Amazônia e buscamos resgatar nossa cultura ancestral. Somos contadores de histórias do Tocantins, levando nossa identidade para o mundo através do metal.

Marcio Belo e os Tambores do Tocantins, grupo fundado em 1992

Tambores do Tocantins

O projeto Tambores do Tocantins tem como objetivo valorizar e preservar a cultura musical tradicional do estado por meio de pesquisa, estudo e oficinas permanentes. Desenvolvido em parceria com escolas, universidades e associações comunitárias, o projeto promove inclusão social e amplia o acesso à cultura para crianças, adolescentes e jovens.

O grupo se diferencia ao combinar ritmos tradicionais do Tocantins, como suçia, catira e roda, com influências contemporâneas, criando fusões com gêneros como samba e baião. Fundado pelo percussionista Márcio Bello em 1992, o projeto alia tradição e inovação para manter viva a musicalidade regional.

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