SINOPSE: a provocativa reflexão de “Guerra Civil” sobre a humanidade em tempos de conflito

SINOPSE é a nova coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!

“Guerra Civil”, dirigido por Alex Garland, adentra no cenário do cinema bélico, desafiando as convenções ao buscar a humanidade em meio ao caos. Reconhecido por “Ex Machina”, o diretor entrega um filme que não apenas retrata um conflito, mas também expõe a fragilidade das democracias. Longe de ser uma narrativa de ação exagerada, a produção da A24 apresenta uma análise política contundente, refletindo os conflitos contemporâneos nos EUA. Com Kirsten Dunst e Wagner Moura no elenco, a obra revela o horror cotidiano e os dilemas morais dos personagens, destacando uma perspectiva pouco explorada no gênero. Em vez de focar apenas nos soldados, há um mergulho na complexidade dos indivíduos e das relações, desafiando o espectador em uma experiência intensa de quase duas horas.

Com sua abordagem realista e política, “Guerra Civil” marca uma nova direção para a A24, expandindo seu catálogo com ambições de “blockbuster” sem perder a profundidade e a reflexão características de suas produções anteriores. Ao trazer à tona questões atuais, o filme se destaca como uma obra provocativa e relevante para os tempos modernos, convidando o espectador a refletir não apenas sobre as consequências da guerra, mas também sobre os limites da humanidade e da sociedade. Aqui retrata-se, de forma engenhosa, a desintegração da sociedade e a luta pela sobrevivência em um ambiente desolado e hostil. As cenas de combate nas ruas americanas evocam um sentimento de desespero e desamparo, enquanto os personagens enfrentam dilemas morais e emocionais ao testemunharem a brutalidade do conflito.

Anúncio no meio do texto

O longa-metragem expõe, com destreza, a violência, a xenofobia e o preconceito de forma brutal, destacando como esses males estão enraizados na sociedade contemporânea. Garland habilmente extrai performances marcantes de Kirsten Dunst e Wagner Moura, cujos personagens retratam a dessensibilização e o questionamento moral enfrentados por jornalistas em zonas de conflito. A dinâmica entre os protagonistas revela diferentes perspectivas, mostrando que não há mocinhos ou bandidos diante daquela situação. A imersão do público na narrativa é amplificada pelo excelente trabalho de edição de som, que contrasta momentos de calma com explosões ensurdecedoras. A trilha sonora discreta e a fotografia naturalista complementam a atmosfera sombria.

Kirsten Dunst entrega uma atuação brilhante como a fotojornalista Lee, capturando a angústia e a determinação de uma mulher lutando para documentar a verdade em um momento conturbado. Wagner Moura traz profundidade ao seu papel como Joel, um jornalista determinado a contar a história por trás dos conflitos. O elenco de apoio, incluindo Stephen McKinley Henderson e Cailee Spaeny, complementa perfeitamente o tom lúgubre e atmosférico do filme. O diretor consegue reunir tudo isso em cenas que mantém um clima emocional envolvente, apesar de sua natureza desafiadora. É uma obra cinematográfica que instiga o espectador a assisti-la novamente, mesmo sendo tão impactante. A trama é complexa, sua narrativa é perturbadora, e a execução é eficiente, no sentido de cativar e prender a atenção do público.

No entanto, apesar de seus méritos, “Guerra Civil” peca em ritmo e em conexão emocional com os personagens, deixando lacunas que poderiam ser preenchidas para uma experiência mais convidativa. Essas pequenas fraturas tiram o brilho, mas não comprometem o longa-metragem. Afinal de contas, ele é certeiro ao criar um retrato angustiante que equilibra o espetáculo e a reflexão. Um trabalho que se esforça para ser abrangente o suficiente para que qualquer um se coloque na pele dos personagens, que precisam não apenas sobreviver, mas buscar humanidade em um contexto em que ela é rapidamente sacrificada.

“Guerra Civil” é um verdadeiro desafio ao espectador. Apesar da palavra “blockbuster” normalmente carregar uma conotação contrária ao que a A24 e Alex Garland costumam levar aos cinemas, sua nova película é um banquete para espectadores atentos. Longe de ser vazio ou sem sentido, ele também é um convite para aqueles que estiverem dispostos a se abrir para esse novo modelo. É uma obra dilema de uma profissão de risco, a força do jornalismo de verdade em nome da informação.

Clique nos links abaixo e siga Carolinne Macedo e a coluna SINOPSE nas redes sociais:
@carolinnecmacedo
@sino.pse

Leia também

Este site usa cookies para melhorar sua experiência. Vamos supor que você está de acordo com isso, mas você pode optar por não participar, se desejar. Aceitar Leia mais