Operação Sisamnes: policial Marco Albernaz usou estrutura da Secretaria de Segurança para repassar dados sigilosos a Eduardo Siqueira

Uma das formas de atuação clandestina do Oficial Investigador da Polícia Civil, Marco Albernaz, envolve o uso de Estações Rádio-Base (ERBs) — estruturas operadas por empresas de telefonia móvel que registram a localização e a movimentação de celulares conectados à rede. Em nota, Secretaria de Segurança informou “que o caso está sendo acompanhado pela Corregedoria-Geral da SSP, e que serão tomadas todas as providências administrativas cabíveis.”

O Jornal Primeira Página obteve acesso a decisão do ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), que autorizou a nova fase da Operação Sisamnes da Polícia Federal (PF) nesta sexta-feira, 27.  A reportagem mostra os detalhes da atuação do Oficial Investigador da Polícia Civil, Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz, que está preso desde ontem (27) e o uso da estrutura da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins para monitorar investigações sigilosas e operações da PF.

As informações, segundo a decisão, eram reunidas de forma clandestina e repassadas ao Prefeito de Palmas, José Eduardo Siqueira Campos (Podemos), que foi afastado do cargo e segue preso desde ontem (27), junto com Marco Albernaz e o advogado, Antônio Ianowich Filho, também alvos da operação.

Segundo o ministro Cristiano Zanin, os elementos apontam para uma atuação articulada entre os três investigados, com o objetivo de interceptar e compartilhar dados confidenciais para o prefeito, o que teria permitido o alerta antecipado a pessoas investigadas e o fortalecimento de sua rede de influência política.

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“Todos esses elementos revelam atuação concertada dos investigados para monitorar e obter dados sigilosos de operação investigativa complexa destinada a apurar atuação de organização criminosa envolvendo autoridades do Estado do Tocantins, o que corrobora a hipótese policial, no sentido de que o Prefeito se utilizava dessas informações para alertar determinadas pessoas, incrementando sua rede de influência na política local.”

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Acesso a dados das Estações Rádio-Base (ERBs)

Uma das formas de atuação do Oficial Investigador da Polícia Civil, Marco Albernaz, descritas na decisão do STF, envolve o uso de Estações Rádio-Base (ERBs) — estruturas operadas por empresas de telefonia móvel que registram a localização e a movimentação de celulares conectados à rede.

Por meio desses dados obtidos por sistemas da Secretaria de Segurança Pública, Marco Albernaz teve acesso a movimentações de agentes da Polícia Federal e de outras autoridades envolvidas em operações.

“Há registro de troca de informações sigilosas entre o policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz e José Eduardo Siqueira Campos, revelando investigações no Tribunal de Justiça de Goiás, inclusive com compartilhamento de dados provenientes de Estações Rádio-Base (ERBs). A esse respeito, em 19/11/2024, Eduardo Siqueira mencionou: ‘Chuva manhã ou depois’. Na sequência, reencaminhou mensagens do advogado [Antônio Ianowich], a respeito da vinda de quatro equipes de Brasília [da Polícia Federal], compostas por Delegado, escrivão e dois agentes, cada uma. Marco Augusto, então, afirmou que Tiago Sulino [advogado e um dos alvos da Operação Máximus da Polícia Federal] seria ouvido na Procuradoria da República, fazendo colaboração sobre agentes da polícia federal e da polícia civil. Ainda, Eduardo Siqueira pergunta sobre pareceres da Procuradoria-Geral da República, ao que Marco Augusto confirma, e indica possíveis investigados”.

Os “possíveis investigados” mencionados pelo ministro Zanin no trecho acima foram repassados ao prefeito Eduardo Siqueira Campos por Marco Albernaz: “TJGO Gedeon [Gedeon Pitaluga, presidente da Ordem dos advogados do Tocantins] e Adwardys [Adwardys De Barros Vinhal, advogado e genro da desembargadora e presidente do Tribunal de Justiça do Tocantins (TJTO), Etelvina Maria Sampaio Felipe].

Adwardys De Barros Vinhal e Etelvina Maria Sampaio foram alvos da Operação Máximus, de agosto de 2024.

Imagem retirada da decisão do STF sobre uso da ERB’s por Marco Albernaz

Investigados anteciparam ações de combate ao crime organizado no Tocantins

O uso da estrutura da Secretaria de Segurança Pública para fins ilícitos, de acordo com o STF, comprometeu operações policiais e permitiu que os alvos se antecipassem às ações de combate ao crime organizado no estado do Tocantins, essencialmente com relação as operações Máximus (que investiga o poder Judiciário), Fames-19 (fraudes na compra de cestas básicas que investiga o Governo do Tocantins) e Sisamnes (vazamento de informações sigilosas dentro do Superior Tribunal de Justiça).

“A gravidade concreta dos casos narrados mostra-se até aqui manifesta, exigindo pronta resposta desta Suprema Corte, pois denota o uso da posição política do prefeito e da função pública do investigador da polícia civil Marco Augusto para monitorar membros da polícia federal, antecipando operações policiais e, dessa forma, impedindo o êxito de ações destinadas a desbaratar organização criminosa em atuação no Estado.”

Como medida cautelar contida nessa decisão do ministro Zanin, todos os três investigados, Eduardo Siqueira, Marco Albernaz e Antônio Ianowich, estão proibidos de realizar qualquer contato com alvos das operações Fames-19, Máximus e Sisamnes.

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Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz foi alvo da Polícia Federal nesta sexta-feira, 27 – Foto Divulgação

Monitoramentos seguiram em 2025

As investigações da Polícia Federal e os registros destacados pelo ministro do STF apontam que a prática dos investigados se estendeu até os dias atuais, fator que foi usado para sustentar as medidas cautelares de prisão e afastamento das funções públicas do prefeito e do servidor da Secretaria de Segurança Pública, Marco Albernaz.

“Os diálogos, ainda, sugerem que a cogitada prática ilícita perdura até os dias atuais, deixando nítido o preenchimento ao requisito legalmente estabelecido: a contemporaneidade.”

O ministro Zanin menciona que em abril desde ano, Marco Albernaz repassou novos dados oriundos de monitoramento clandestino de Estações Rádio-Base (ERBs) a Eduardo Siqueira Campos.

A “ousadia adotada pelo grupo”

A atuação de Marco Albernaz, junto ao prefeito Eduardo Siqueira e ao advogado Antônio Ianowich Filho, é descrita como ousada e contínua pelo ministro Cristiano Zanin, do Supremo Tribunal Federal (STF), com acesso privilegiado a inquéritos sigilosos que tramitavam em instâncias superiores.

“De fato, a atuação dos investigados José Eduardo de Siqueira Campos, Antônio Ianowich Filho e Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz é demonstrada de forma veemente nos autos, destacando-se a facilidade com que o Prefeito demonstra ter acesso a inquéritos sigilosos em trâmite no Superior Tribunal de Justiça, por meio do advogado, e a ousadia adotada pelo grupo, ao monitorar equipes da Polícia Federal, antecipando operações em curso.”

Com relação as medidas cautelares que prenderam e afastaram Eduardo Siqueira e Marco Albernaz, o ministro do STF assinalou possível ameaça direta às investigações em curso.

“O afastamento do exercício da função pública de José Eduardo Siqueira Campos e de Marcos Augusto Velasco Nascimento Albernaz é fundada no risco da utilização de sua atuação funcional para continuidade ou ocultação das condutas ilícitas, o que justifica a medida. Na espécie, os elementos trazidos na representação demonstraram que Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz utilizou seu cargo para o fornecimento de informações sigilosas a José Eduardo Siqueira Campos, mediante o acesso a sistemas policiais restritos e a informações reservadas. Evidente, assim, o risco que a sua permanência no cargo traz à investigação em curso.”

Secretaria de Segurança Pública

O Jornal Primeira Página solicitou posicionamento da Secretaria de Segurança Pública sobre o uso indevido da estrutura de investigação e o acesso a dados sigilosos pelo Oficial Investigador da Polícia Civil, Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz. Em nota, a Secretaria informou “que o caso está sendo acompanhado pela Corregedoria-Geral da SSP, e que serão tomadas todas as providências administrativas cabíveis.”

Não foi possível localizar a defesa de Marco Albernaz. O espaço para manifestação nesta reportagem segue aberto.

Marco Albernaz e o ex-governador Mauro Carlesse

Essa não é a primeira vez que Marco Albernaz é citado em investigações policiais. Ele já foi investigado por associação criminosa junto com o ex-governador do Tocantins, Mauro Carlesse, e outros sete integrantes da Polícia Civil tocantinense.

Segundo o Ministério Público do Tocantins (MPTO), entre abril e junho de 2020, o ex-governador teria ordenado que vários policiais conduzissem uma investigação clandestina — sem respaldo em qualquer procedimento oficial — com o objetivo de identificar o autor da produção e divulgação de um vídeo que atribuía à então primeira-dama do Estado um relacionamento extraconjugal. A apuração irregular teria resultado em diversos atos de abuso de autoridade.

Em 2023, a Justiça aceitou a denúcia dos envolvidos por crimes como organização criminosa, abuso de autoridade, tráfico de drogas, associação para o tráfico e denunciação caluniosa. Além do ex-governador Mauro Carlesse, também foram citados o delegado Ênio Walcacer Oliveira Filho; os policiais civis Antônio Martins Pereira Júnior, Carlos Augusto Pereira Alves e Santhiago Araújo Queiroz; o escrivão Victor André Sabará Ramos; e os agentes José Mendes da Silva Júnior, Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz e Ricardo José de Sá Nogueira.

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