Maior operação policial do Brasil termina com 18 mortos e cinco suspeitos presos

Foram quase 40 dias de buscas, confrontos com intensas trocas de tiros na maior operação integrada do Brasil. 350 policias vindos do Tocantins, Mato Grosso, Pará, Goiás e Minas Gerais se uniram para capturar o grupo que é suspeito de aterrorizar a cidade de Confresa no Mato Grosso atacando uma base da polícia militar e tentando roubar uma transportadora de valores.

O saldo da operação registrou 18 suspeitos mortos e cinco presos. Dois homens foram presos na região dos confrontos e também houve prisões em Araguaína e Redenção no Pará. São suspeitos de envolvimento com apoio logístico destinado a quadrilha responsável pela tentativa de assalto no Mato Grosso.

A engenhosidade da quadrilha e a quantidade de armas e munições chamam a atenção. Os criminosos usaram além de um verdadeiro arsenal de guerra, vários artifícios para tentar despistar os policiais.

O Jornal Primeira Página fez um apanhado dos episódios que marcaram a operação Canguçu.

O ataque

Foi no dia 9 de abril, um domingo, que o grupo botou o plano de assaltar uma transportadora de valores em ação. O alvo fica na cidade de Confresa, a 1.160 KM de Cuiabá, capital do Mato Grosso. Fortemente armados com fuzis o grupo entrou em uma base da PM, rendeu policiais e ateou fogo no prédio. Os bandidos usaram explosivos para destruir as paredes da transportadora de valores. Eles chegaram a entrar no cofre da empresa, mas não conseguiram levar nada.

A ação criminosa foi cronometrada com base no tempo que levaria para que a polícia especializada chegasse até Confresa.

A fuga

Para escapar da cidade de Confresa os criminosos utilizaram táticas de guerrilha. Com as rodovias e divisas estaduais fechadas pela polícia, eles fugiram de barco utilizando os rios Araguaia e Javáes.
“São criminosos que cruzaram uma região de difícil acesso, onde há dificuldades para atravessar até a cavalo”, disse o delegado Evaldo Gomes.

“Eles fizeram, inclusive, simulação, de fuga. Todos estão com dinheiro em espécie no bolso, prevendo uma situação dessas”, disse o Major Marcos Morais.

A caçada

Já no dia seguinte ao ataque, a polícia do Tocantins destinou agentes para atuar na buscas aos suspeitos. Foi uma patrulha rural que encontrou parte do grupo no dia 10 de abril na zona rural de Pium. Houve intensas trocas de tiros que deixaram os moradores assustados.

Integração entre as polícias

Foi a partir do dia 11 de abril que outros estados se juntaram ao efetivo do Tocantins e do Mato Grosso para reforçar a caçada contra os criminosos. Tocantins, Pará, Goiás, Mato Grosso e Minas Gerais comandaram a maior operação conjunta do Brasil.

Equipamentos de última geração como drones com câmeras termais para identificar focos de calor foram utilizados para localizar os bandidos que se esconderam em regiões de mata fechada. Também foi empregado o uso de aeronaves para localizar os suspeitos.

Medo e insegurança

Durante os quase 40 dias de operação a vida nas cidades da região oeste do Tocantins mudou drasticamente. A cidade de Pium decretou situação de emergência. Por medidas de segurança esses municípios como Marianópolis, Caseara e Araguacema suspenderam aulas, atendimentos médicos na zona rural.

A orientação da polícia foi de não trafegar por rodovias e estradas vicinais. O acesso a fazendas da região ficou restrito e era necessário que todos os carros passassem por revistas.

Comerciantes da região também tiveram prejuízos financeiros com o fluxo de pessoas reduzido. Em um dos confrontos entre a polícia e criminosos em Marianópolis, áudios da população revelaram medo da troca de tiros.

Estratégias e artifícios

Para sobreviver durante tanto tempo com poucos recursos os criminosos estavam comendo o milho plantado nas fazendas e sal com ureia que é utilizado na alimentação do gado. Além disso muitos ficaram dias em cima de árvores para tentar despistar os policiais.

Criminosos também amarravam sacos nos pés para evitar deixar rastros e pegadas. A estratégia só foi descoberta após policiais resgatarem um corpo.

Arsenal de guerra

O poder de fogo em posse dos criminosos chamou atenção durante toda a operação. Os bandidos tinham fuzis que poderiam derrubar aeronaves e atravessar coletes a prova de balas. Algumas das armas apreendidas após confrontos com os criminosos eram de uso exclusivo da polícia de São Paulo. A suspeita é de que os criminosos conseguiram ter acesso a essas armas após invadirem a 3ª Companhia do 1º Batalhão de Policiamento Rodoviário (1º BPRv), em Santos. O crime aconteceu em 2021 e foram furtados seis fuzis, dois deles Scar, calibres 7,62.

Os criminosos

Grande parte dos mortos durante a operação Canguçu tem fichas criminais extensas. Alguns tem ligação com o PCC (Primeiro Comando da Capital) um dos maiores grupos criminosos do país. É o caso de Celio Carlos de Monteiro, de 62 anos, conhecido como “Ceará”, Ronildo Alves dos Santos, de 41, conhecido como Magrelo e Danilo Ricardo Ferreira, de 46 anos.
Além deles diversos criminosos mortos na operação já tem histórico com prisões e condenações por roubos a instituições financeiras, tráfico de armas, homicídios.

Autoridades

O trabalho das polícias envolvidas na operação Canguçu foi endossado pelos governadores dos estados. Ainda durante a operação, o governador Wanderlei Barbosa falou da resposta necessária aos criminosos.
“O que aconteceu lá em Confresa (MT) foi um absurdo, então não vamos deixar que esse sentimento prevaleça nos nossos estados. Nosso objetivo aqui é caçar até encontrar o último desses bandidos “, disse.

O recado foi claro: temos e vamos continuar tendo tolerância zero com a criminalidade. O que esses criminosos fizeram foi um atentado contra Mato Grosso e os mato-grossenses. Eles tentaram promover um grande roubo e não conseguiram nada. As consequências foram duras para quem ousou afrontar o povo de Mato Grosso”, disse o governador do Mato Grosso Mauro Mendes (União).

Em visita ao Tocantins, o presidente da Câmara Federal, o deputado Arthur lira (PP-AL) comentou o resultado do trabalho da polícia durante a caçada.

“O que aconteceu aqui não foi uma operação policial, foi limpeza urbana. Bandido quando não é na cadeia, é no lugar onde essa operação deixou”, disse.

Homenagens

Em comboio, os policiais que estavam na região oeste do Tocantins se deslocaram para a capital Palmas com o fim da operação. O chamado do Comando Geral da Polícia Militar e do Governo do Tocantins foi uma forma de marcar o fim da 1ª fase da operação.

A PM acredita que não existe mais criminosos ligados ao grupo que atacou o interior do Mato Grosso na região, mesmo assim, não será retirado todo o efetivo policial e a população ainda vai contar com o apoio da polícia para garantir a segurança nos municípios.

Ao longo desses quase 40 dias nenhum policial foi ferido durantes os confrontos e como forma de agradecimento os agentes foram condecorados com medalhas.

O comandante geral da Polícia Militar do Tocantins, coronel Márcio Barbosa elogiou o trabalho realizado pelas tropas da PM. “Fizemos um grande cerco com 350 homens, bloqueamos todas as possíveis rotas de fuga e impedimos que o resgate chegasse”, disse.

Durante a cerimônia de entrega de medalhas, o secretário Nacional de Segurança Pública Tadeu Alencar disse que a operação integrada deve ser um modelo adotado para enfrentar o criminalidade.

Participaram da cerimônia o governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), deputados estaduais, federais, secretários de estado e outras autoridades .

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