Doença de Chagas: Tocantins amplia vigilância e confirma mais de 200 casos em 2025

A Secretaria de Estado da Saúde do Tocantins confirmou 216 casos de Doença de Chagas no segundo quadrimestre de 2025, além de 164 registros nos primeiros quatro meses do ano. Ao todo, 12 ocorrências no início do ano e outras 10 no período seguinte foram classificadas como crônicas, segundo dados do Sistema de Informação de Agravos de Notificação (SinanNet) e do Gerenciador de Ambiente Laboratorial (GAL). Não houve registro de óbitos no estado em 2025.

Vigilância e controle

Entre janeiro e abril, foram 23 casos suspeitos e 164 confirmados. De maio a agosto, os números subiram para 50 suspeitas e 216 confirmações. Os relatórios também mostram o avanço das ações de monitoramento. A busca ativa, quando equipes visitam residências, passou de 22% no primeiro quadrimestre para 36% no segundo. A busca passiva, que depende da notificação dos moradores, aumentou de 33% para 41%. O controle químico subiu de 56% para 61%.

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Segundo Anderson Brito Soares, biólogo da Unidade de Vigilância e Controle de Zoonoses de Palmas, o trabalho é dividido em duas frentes:
“A gente vai nessas casas onde houve barbeiros e faz a visitação, passando informações de prevenção. Esse caso é a busca ativa. Mas o mais importante é a parte de educação em saúde, que é repassar informações de como a pessoa vai se prevenir e identificar se aquele inseto pode ser um barbeiro”, explicou.

Ele destacou que os moradores também podem colaborar.
“Se encontrar algum inseto suspeito de ser barbeiro, o morador pode encaminhar para a unidade de saúde mais próxima ou diretamente para a gente. Recolhemos o inseto e fazemos a identificação para saber se ele está ou não infectado”, afirmou.

O médico infectologista Flávio Milagres, que atua no Tocantins há 15 anos e desenvolve trabalhos voltados à vigilância e assistência hospitalar, também reforça a importância do diagnóstico precoce e explica como é feito o tratamento.
“Quando esse paciente tem uma fase inicial, sem muito dano, ele tem hoje essa indicação de um tratamento. É um tratamento longo, no mínimo de 60 dias, com uma medicação liberada pelo Ministério da Saúde, que é a benzonidazol. Ele então vai agir tentando e matando esse parasita, esse que está dentro do organismo. E com isso nós conseguimos muitas vezes reduzir a progressão da doença. Não existe a regressão da doença, mas nós conseguimos equilibrar. Seja na criança, no adulto ou até mesmo no idoso.”

O especialista ressalta ainda que o estado clínico de cada paciente precisa ser avaliado antes de iniciar o uso do medicamento.
“O que nós temos que sempre avaliar ao tratamento é como é que é o estado do paciente, se ele já tem doenças muito avançadas ou se ele tem vários fatores de debilidade que impeçam esse tratamento com as medicações adequadas”, completou.

O que é a Doença de Chagas

A Doença de Chagas é causada pelo protozoário Trypanossoma cruzi, transmitido principalmente pelas fezes do inseto barbeiro infectado. Também pode ocorrer transmissão oral, por alimentos contaminados, de mãe para filho na gestação, por transfusão de sangue ou transplante de órgãos.

A fase aguda pode durar até 12 semanas e apresenta sintomas como febre prolongada, inchaço no rosto e membros, dor no corpo, icterícia (amarelamento da pele e dos olhos) e fraqueza intensa. Já na fase crônica, a maioria dos pacientes não apresenta sintomas, mas alguns podem desenvolver complicações cardíacas, como insuficiência, e digestivas, como megacolon e megaesôfago.

O vetor

O barbeiro, conhecido também como chupão, chupança ou bicudo, mede de 1 a 4 centímetros e se alimenta de sangue. Tem hábitos noturnos e costuma se esconder em frestas, rachaduras, telhados de palha e atrás de móveis. A falta de higiene doméstica e a estrutura precária das casas favorecem sua presença.

Prevenção

As principais medidas de prevenção incluem:
• rebocar paredes e vedar rachaduras;
• manter quintais limpos e sem entulhos;
• afastar criações de animais das residências;
• usar telas em portas e janelas;
• adotar cortinados e mosquiteiros;
• higienizar alimentos antes do consumo.

Tratamento

O tratamento é definido por avaliação médica. O medicamento mais utilizado é o Benznidazol 100 mg, disponibilizado gratuitamente pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Nos casos recentes, a terapia é direcionada ao parasita; na fase crônica, busca controlar os sintomas.

Ao final, o infectologista Flávio Milagres reforçou a importância da conscientização e da prevenção.
“É uma doença secular descrita por um pesquisador brasileiro, Carlos Chagas, que descobriu o barbeiro, descobriu o vetor, descobriu a sua forma de transmissão e também o tratamento e que ainda hoje, infelizmente, compromete populações em regiões onde há mais ruralidade. Nós temos que fazer uma ampla divulgação, nós temos que orientar a população para nós vencermos e erradicarmos essa doença que traz tanto mal, mas que é prevenível com as medidas de cuidados da vida habitual.”

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