Documentário “Da Aldeia à Universidade” expõe desafios de estudantes indígenas e já soma 16 festivais e sete prêmios pelo Brasil

Em entrevista exclusiva ao Jornal Primeira Página, diretores relatam bastidores da produção e repercussão nacional da obra

O documentário “Da Aldeia à Universidade”, dirigido por Leandro de Alcântara e Túlio de Melo, tem chamado atenção do público e da crítica ao retratar os desafios enfrentados por estudantes indígenas no acesso e na permanência no ensino superior. Em entrevista exclusiva ao Jornal Primeira Página, os cineastas falaram sobre a motivação, o processo de produção e a repercussão da obra em festivais nacionais.

A ideia surgiu durante a graduação de Filosofia, quando Túlio percebeu as dificuldades de colegas indígenas em acompanhar as aulas e concluir os cursos. Segundo dados da Universidade Federal do Tocantins (UFT), apenas oito alunos indígenas se formaram desde a implantação do sistema de cotas. “Foi a partir dessa realidade que decidimos documentar a trajetória de Romário Srowasde Xerente, indígena que, além de protagonista, atuou como assistente de direção, garantindo que o filme fosse narrado a partir de sua própria percepção”, explicou Leandro.

Narrativa indígena no centro da obra

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Para Leando, o diferencial do documentário é justamente a participação ativa do protagonista no processo criativo. “Por mais que tenhamos dado o suporte técnico, esse é um filme de um indígena contando a sua própria história. Essa autenticidade é o que tem sensibilizado o público”, afirmou.

A presença de Sandra, esposa de Romário e acadêmica de Geografia na UFT, também ampliou a narrativa. Sua participação emocionou plateias, especialmente pela forma como relatou as dificuldades de conciliar os estudos com a vida na aldeia. “Ela chorou durante o depoimento e tocou muita gente, mostrando a dimensão real desses obstáculos”, relembrou Túlio.

Denúncia

A obra funciona ainda como uma denúncia sobre a ausência de políticas públicas de permanência para estudantes indígenas. “Existe a cota, mas não basta apenas garantir o acesso. É preciso criar mecanismos que permitam a permanência, desde tradutores até programas de apoio acadêmico. Hoje, a maioria não conclui os cursos”, destacou Túlio.

Por isso, o filme se passa integralmente dentro da aldeia, numa escolha intencional dos diretores. “Queríamos mostrar que, mesmo quando vão para a universidade, os estudantes continuam conectados à sua comunidade. A universidade já tem visibilidade; o que falta é enxergar os indígenas, que permanecem invisíveis”, completou Leandro.

Repercussão e impacto

Exibido pela primeira vez em Palmas, no Cine Cultura, em março deste ano, o documentário emocionou estudantes indígenas que pensavam em desistir da graduação. Uma acadêmica chegou a afirmar, após a sessão, que seguiria estudando inspirada pelo exemplo de Sandra.

No circuito de festivais, “Da Aldeia à Universidade” já soma 14 seleções e sete prêmios, incluindo menções honrosas e reconhecimentos em mostras no Rio de Janeiro, Maranhão e no Festival de Gramado, no Rio Grande do Sul. “É uma surpresa para nós, mas também uma conquista para o cinema tocantinense, que muitas vezes é esquecido fora do eixo Rio-São Paulo. Quando subimos ao palco, sempre fazemos questão de dizer: existimos, o Tocantins faz cinema”, disse Leandro.

Próximos passos

Segundo os diretores, o documentário está atualmente na fase de distribuição em festivais, que deve durar até dois anos. Nesse período, as exibições são restritas a mostras e competições. Em casos específicos, como no Festival Olhar do Norte, em Manaus, o filme foi disponibilizado temporariamente na plataforma Itaú Cultural Play.

Após o circuito de festivais, a obra deve chegar ao streaming, repetindo o caminho de trabalhos anteriores da dupla, como Invisibilidade, já disponível no Canal Brasil e em plataformas de TV por assinatura.

Sobre os diretores

Leandro de Alcântara e Túlio de Melo já acumulam experiências no audiovisual tocantinense com produções premiadas. O novo trabalho, que une denúncia social e narrativa poética, reforça o papel do cinema local em dar voz a histórias invisibilizadas. A entrevista foi concedida à jornalista Morgana Gurgel, na redação do Jornal Primeira Página.

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