Caso não consiga decisão favorável no STF, Wanderlei pode renunciar ainda este ano para priorizar o Senado
Por Sandra Miranda – Jornalista e advogada
O futuro político do governador afastado do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), está em discussão entre seus aliados. A avaliação dos companheiros é de que, caso ele não consiga reverter o afastamento do cargo por meio do Habeas Corpus sob a relatoria do ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Luís Roberto Barroso, ele deveria renunciar ao cargo ainda em 2025 para dedicar-se à pré-candidatura ao Senado.
A expectativa é que o HC seja julgado nos próximos 20 dias. Segundo parlamentares que preferiram não se identificar, a renúncia após uma possível negativa colegiada da Segunda Turma do STF abriria espaço para que Wanderlei, que deixou o governo com popularidade acima dos 70%, tenha tempo para se articular politicamente, principalmente junto aos próprios deputados, prefeitos e vereadores em busca de apoio.
O Republicanos, partido de Wanderlei Barbosa, conta com a maior base na Aleto, com sete deputados, a maior quantidade de prefeitos, 56 e mais de 300 vereadores.
Pesquisas de consumo interno estariam mostrando que Wanderlei lidera na corrida ao Senado, à frente de outros pré-candidatos, como o senador Eduardo Gomes (PL) e os deputados federais Carlos Gaguim (UB), Alexandre Guimarães (MDB) e Vicentinho Júnior (Progressistas), além do também senador Irajá (PSD).
Outra possibilidade, ainda que remota, seria aguardar o fim do prazo de seis meses de afastamento do Wanderlei, determinado pelo ministro do Superior Tribunal de Justiça (STJ), Mauro Campbell, e referendado pelos colegas. O período se encerra em 3 de março de 2026, apenas 30 dias antes do prazo final de desincompatibilização, exigido pela Justiça Eleitoral, aos agentes públicos que pretendem disputar as eleições de 2026.
O problema, neste caso, é a manutenção da instabilidade política no cenário estadual e a cooptação de parlamentares que estaria ocorrendo por parte do governador em exercício, Laurez Moreira, com vistas a um possível impeachment na Assembleia Legislativa. Há ainda o risco da prorrogação do prazo de afastamento pelo STJ. Além disso, a espera reduziria muito o tempo para buscar interlocução com prefeitos e vereadores, que já têm hipotecado apoio a alguns dos pré-candidatos ao Senado.
Articulações eleitorais
A decisão de Wanderlei também passa pela composição das chapas majoritárias. Em 2026, duas vagas para o Senado estarão em disputa, e as alianças com os pré-candidatos a governador e os demais pré-candidatos a senador serão determinantes. A possibilidade de concorrer em “dobradinha” com outro candidato ao Senado ou mesmo de forma independente deve ser considerada.
Até setembro, Wanderlei mantinha uma base de apoio sólida na Assembleia, com 18 dos 24 deputados, incluindo o presidente da Aleto, Amélio Cayres (Republicanos), mesmo partido de Wanderlei e que, até o afastamento do governador, era o pré-candidato do grupo para sucedê-lo.
Contudo, dez desses aliados também foram atingidos pela mesma operação da Polícia Federal que levou ao afastamento do governador. Antes da decisão do STJ, Wanderlei afirmava que não renunciaria para não entregar o comando do Executivo ao vice-governador Laurez Moreira, com quem estava rompido. Agora, porém, sua pré-candidatura ao Senado depende exatamente dessa escolha, a da renúncia.
Operação Fames-19
Wanderlei Barbosa foi afastado no dia 3 de setembro deste ano por decisão do STJ, no âmbito da Operação Fames-19, que investiga suspeitas de desvio de recursos destinados à aquisição de cestas básicas durante a pandemia, o que ele nega. Desde então, o vice Laurez Moreira assumiu como governador em exercício.