A IRONIA: Eduardo Siqueira apostou no afastamento do governador Wanderlei e acabou ele mesmo preso e afastado

Assim que Wanderlei tornou-se governador em 2021, Eduardo, que havia anunciado desistência da sua carreira política, tentou aproximar-se do Palácio Araguaia, mas, acabou sendo recusado e obviamente estremeceu sua relação com o atual governador.

A política, como a história, tem suas ironias. E poucas são tão emblemáticas quanto a que envolve o atual prefeito de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), preso e afastado do cargo (hoje em prisão domiciliar), desde a última fase da Operação Sisamnes da Polícia Federal, no dia 27 de junho, por decisão do Ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin.

Eleito no ano passado com a promessa de que havia amadurecido e mudado no seu estilo tão conhecido, com renovação e experiência, Eduardo não chegou a completar seis meses de mandato, antes de ser alvo de duas fases da Operação Sisamnes da PF – sem relação com atos de sua gestão.

A Operação Sisamnes, que envolve um grande escândalo nacional, investiga o vazamento criminoso de inquéritos sigilosos do Superior Tribunal de Justiça (STJ), venda de sentenças e vazamentos de operações da Polícia Federal, em vários estados brasileiros, não só no Tocantins. O episódio tem contornos interessantes diante das movimentações de bastidores que o próprio Eduardo Siqueira Campos protagonizou nos últimos anos, de acordo com a Justiça.

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Segundo as investigações da Polícia Federal, Eduardo teria se dedicado intensamente a buscar informações privilegiadas e até monitorado deslocamentos de agentes da Polícia Federal no Tocantins sobre um possível afastamento do governador Wanderlei Barbosa (Republicanos), depois que este foi alvo da Operação Fames-19, que envolve fraudes na compra de cestas básicas durante a pandemia do coronavírus.

É importante destacar que o interesse de Eduardo nas investigações da Polícia Federal vai além. Ele próprio, enquanto era deputado estadual, destinou R$ 2,15 milhões em emendas para compra de cestas básicas para quatro das nove empresas investigadas na Operação Fames-19. Eduardo foi o nono parlamentar que mais enviou verba para esse escândalo, que por sinal, deve chegar em breve na Assembleia Legislativa.

Nesse ponto vale lembrar: assim que Wanderlei tornou-se governador em 2021, Eduardo, que havia anunciado desistência da sua carreira política, tentou aproximar-se do Palácio Araguaia, visando ser nomeado para o cargo de Secretário de Governo, mas acabou sendo recusado e obviamente estremeceu sua relação com o atual governador.

Desta forma, uma nova trama começou a germinar. Eduardo passou a alimentar a expectativa de que, em caso de vacância no Executivo Estadual, o vice-governador, Laurez Moreira (PDT), assumiria o cargo. A partir desse novo cenário, Eduardo costurou uma aproximação estratégica com Laurez, vislumbrando ganhos políticos e pessoais com uma eventual troca de comando no Estado.

Não à toa, Laurez Moreira apoiou Eduardo nas eleições de 2024, quando ele foi eleito no segundo turno para a Prefeitura de Palmas.

Não é fofoca

A Polícia Federal apurou que o envolvimento de Eduardo em obter informações sobre investigações e informações privilegiadas não se trata apenas de especulações ou fofoca de bastidores, como a defesa dele e alguns jornalistas tentam fazer crer.

A movimentação era articulada, deliberada e paciente – típica da experiência e estilo político que Eduardo aperfeiçoou ao longo dos anos. E provavelmente, na sua tentativa de conseguir derrubar o governador Wanderlei, deve ter contado com a ajuda da “sempre poderosa em Brasília”, a ex-senadora, Kátia Abreu e o seu filho, senador Irajá Abreu (PSD).

Eduardo Siqueira em sua longa experiência como deputado federal, prefeito, senador e deputado estadual, via na suposta instabilidade de Wanderlei Barbosa a oportunidade de ressurgir como político central no cenário estadual, usando a prefeitura de Palmas como ponto de passagem para chegar ao cargo com o qual sempre sonhou: o de governador do Tocantins, como o seu pai, por quatro mandatos.

Uma aposta de alto risco que, por ironia, acabou se voltando contra o próprio jogador. O que seria um xeque-mate contra um adversário político, transformou-se num xeque duplo contra si mesmo – jurídico e moral.

Wanderlei Barbosa continuou no comando do governo, com índices elevados de aprovação e base política unida. O vice Laurez Moreira, que pretende ser candidato ao governo no ano que vem, por sua vez, viu Eduardo abandoná-lo quando ele anunciou seu apoio, de forma precipitada, à senadora Dorinha Rezende, como pré-candidata ao governo.

Eduardo, ainda que prefeito de direito, vê-se em prisão domiciliar e afastado, com sua imagem pública fragilizada e seu capital político ofuscado pelo vice-prefeito, Carlos Velozo (Agir), que hoje segue no comando da capital, e que não parece estar minimamente alinhado com ele. Lembrando que o relacionamento entre ambos e o partido Agir já vinha em clima de tensão, com acordos não cumpridos e até situações humilhações impostas a Carlos Velozo, como eu já publiquei anteriormente.

Essa reviravolta em Palmas expõe um aspecto estrutural da política tocantinense, e triste para o eleitor: o vício em estratégias de bastidor, o apego ao poder pelo poder e a aposta em atalhos. O caso de Eduardo Siqueira Campos é um lembrete claro de que, por mais experiência ou influência que um político acumule, não há inteligência estratégica que resista ao peso das escolhas erradas.

O tempo dirá qual será o desfecho jurídico e político desse episódio. Mas, por ora, a ironia é incontornável: quem trabalhou muito para tirar outro do poder, acabou colhendo – e rapidamente – a própria queda.

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