Ecos da Liturgia — Todos os Santos: a santidade que veste rostos comuns

Morgana Gurgel - Jornalista e fotógrafa de 21 anos, católica praticante e observadora atenta do mundo religioso. Apaixonada pela escrita, encontrou na coluna Ecos da Liturgia um espaço para refletir sobre fé e sociedade. O objetivo é mostrar como a liturgia e os discursos da Igreja ressoam no cotidiano e nos debates atuais.

O Dia de Todos os Santos é um convite a enxergar a santidade como presença viva e próxima, não como relíquia distante. É o tempo em que a Igreja recorda não apenas os santos canonizados, de nomes gravados em altares e calendários, mas também os santos anônimos. Aqueles que, no silêncio dos dias, amaram com fidelidade, serviram com alegria e permaneceram firmes na esperança.

A liturgia do 1º de novembro, quando celebramos o Dia de Todos os Santos, é um verdadeiro hino à humanidade redimida.

É como se o céu se abrisse por um instante e nos permitisse contemplar uma multidão de rostos que viveram a fé nas formas mais simples e belas: mães que criaram filhos com ternura e coragem; trabalhadores que transformaram o cansaço em oração; jovens que escolheram o bem quando o mundo oferecia atalhos; idosos que fizeram do sofrimento uma silenciosa intercessão.

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Cada gesto escondido, cada perdão silencioso, cada ato de amor não contado.

Na Solenidade, a Igreja reafirma uma verdade antiga e sempre nova: a santidade é universal.

Não é privilégio de alguns, mas chamado de todos. É a resposta pessoal e única de cada coração ao amor de Deus. Ser santo não é ser perfeito, mas permitir que a graça nos transforme, mesmo entre quedas, dúvidas e fragilidades. É caminhar, com pés de barro, na direção da Luz.

Jesus, no Evangelho das Bem-aventuranças, revela o rosto concreto dessa santidade: os pobres em espírito, os mansos, os que choram, os que têm fome e sede de justiça, os misericordiosos, os puros de coração, os que promovem a paz.

Ali está o retrato dos santos. Ali está também o retrato de cada um de nós, chamados a viver o Evangelho não de forma extraordinária, mas fiel.

A santidade do cotidiano

Há uma santidade que não sobe aos altares, mas sustenta o mundo.

Ela habita as cozinhas, os ônibus lotados, as filas de hospital, as salas de aula, os campos de trabalho. É a santidade que se disfarça de gentileza, de escuta, de paciência. É a santidade de quem reza pouco, mas ama muito. De quem não tem tempo de falar de Deus, porque está ocupado vivendo o Evangelho.

É essa santidade escondida que o Papa Francisco chama de “a classe média da santidade”, pessoas que não aparecem, mas sustentam o tecido invisível da graça no mundo. Elas são o coração pulsante da Igreja.

Neste Dia de Todos os Santos, somos convidados a olhar ao redor, e reconhecer os santos vivos que caminham conosco.

Talvez estejam em nossa casa, no trabalho, na comunidade, ou até nas ruas.

E, ao mesmo tempo, somos chamados a reconhecer que a santidade também nos habita: tímida, às vezes cansada, mas real.

 

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