OPINIÃO – UPA lotada é sintoma. O diagnóstico está no colapso silencioso.
Por Dr. Vinicius Pires – Cardiologista e Vereador de Palmas-TO
Há algo errado quando a exceção vira regra.
Quando a urgência se transforma em porta de entrada, e o desespero do paciente se mistura com o cansaço de quem deveria acolher.
Palmas possui duas UPAs de porte 3. São estruturas robustas, desenhadas para atender uma população de até 300 mil habitantes cada — o dobro do tamanho da nossa cidade. Mas mesmo com esse porte, as unidades não conseguem responder. E a resposta está no diagnóstico, não no tamanho.
A rede está doente. E o sintoma está na tela lotada, no soro escasso, no grito abafado dos corredores.
As equipes estão desfalcadas. Onde deveriam estar 22 técnicos de enfermagem por turno, sobram 8 ausências constantes. Onde deveriam atuar 8 enfermeiros, metade não está.
O profissional chega para cuidar, mas encontra a estrutura fraturada. Vê cem nomes na tela.
Sabe que metade dos casos não deveria estar ali.
Dor de garganta, febre leve, dor muscular — sintomas leves, que deveriam ser tratados no postinho, com calma, com escuta, com tempo. Mas os postinhos estão esvaziados. O médico da demanda espontânea foi retirado. A população vai até a unidade básica e ouve da recepção: “Hoje não tem médico.”
Então ela faz o que pode: corre para a UPA. E lá encontra o mesmo sistema que a empurrou, agora saturado, exausto, indignado. O problema de Palmas não é a falta de estrutura.
É a falta de organização.
É o fluxo doente.
É a atenção básica negligenciada.
É a escolha política de remendar a urgência e abandonar a prevenção.
Quem governa precisa saber diagnosticar. E o diagnóstico está gritando nas telas superlotadas, nas brigas na recepção, na ausência dos profissionais, no plantão que não fecha escala, na ausência de insumos e na perda da dignidade.
A gestão que não ouve esses sinais, agrava o quadro. Insiste em cuidar do sintoma e ignora a doença.
Eu me recuso a aceitar esse colapso como normalidade. Como médico, como vereador, como cidadão, sigo cobrando a reorganização do que é básico: Rede estruturada, equipes completas, atenção primária fortalecida e gestão que saiba cuidar de gente.
Porque a saúde pública de Palmas está mandando sinais. E quem ignora o diagnóstico, perde o paciente.