OPINIÃO: ignorado por muitos, Cacique Raoni veio a Palmas para um dia histórico com os povos indígenas
A maior liderança indígena do mundo tem nome e é brasileira: Raoni Metuktire, o Cacique Raoni, cuja idade estimada é de 95 anos. Na última terça-feira, 21, ele esteve em Palmas para uma palestra intitulada “Direitos Humanos, Meio Ambiente e Povos Indígenas” e falou para uma plateia muito importante: Kaiapó, Tapirapé, Juruna, Xerente, Karajá, Javaé e Krahô.
Assim que chegou a Palmas na noite de domingo (19), Raoni, ainda no aeroporto, fez um pedido à equipe que o recepcionou: comer um peixe. O líder indígena veio diretamente do Vaticano, em Roma, onde estava com o Papa Francisco. Foi a Igreja Católica, inclusive, quem pagou pela passagem aérea de sua vinda para o Tocantins.
Raoni, conforme apurado pelo Jornal Primeira Página, não estava muito satisfeito com as refeições que lhe foram servidas no Vaticano, e por isso chegou a Palmas querendo logo um belo peixe, já que carne vermelha ele não come. O jantar, na Praia da Graciosa, foi organizado às pressas pela equipe da Funai e deixou o Cacique muito satisfeito.
Na foto abaixo, Lusmar Soares Filho, Procurador Federal na Funai com 38 anos de carreira, aparece ao lado de Raoni – ambos desfrutando do peixe. Foi Lusmar quem costurou a vinda do Cacique para Palmas, com o desejo de conceder uma honraria ao mestre-amigo antes de sua aposentadoria da Fundação, que está prestes a acontecer.
Lusmar Soares, em entrevista ao Jornal Primeira Página, contou que conhece Raoni há 30 anos. E foi depois de muita conversa com o Instituto Raoni e com o próprio Cacique que a vinda para Palmas foi viabilizada.
Conforme o Procurador Federal, o argumento definitivo para convencer Raoni a vir para o Tocantins foi a promessa de que representantes de todos os povos indígenas do estado estariam presentes. E de fato, estavam. Somente os Apinajé da região norte do Tocantins não conseguiram chegar por motivos de transporte. Os Xavante de Mato Grosso, pelos mesmos motivos, também não vieram.
A partir dessa decisão, o Cacique Raoni requisitou seu próprio povo para marchar rumo ao Tocantins: vieram os Kaiapó do Mato Grosso, sua terra natal, e do estado do Pará.
Suas tradicionais cores amarelas preencheram os salões do Tribunal de Justiça, com um belíssimo e inesquecível momento de resistência, cultura e admiração pelo seu líder.
Dia Histórico
O dia histórico para os povos indígenas e o estado do Tocantins ocorreu em parceria com a Funai e a Escola Superior da Magistratura Tocantinense (ESMAT), no auditório do Tribunal de Justiça (TJ/TO), que pela primeiríssima vez recebeu uma quantidade expressiva dos nossos povos originários: cerca de 250 estavam presentes.
Ao todo, foram mais de 700 pessoas presencialmente no Tribunal de Justiça. O evento, transmitido ao vivo na internet, repercutiu também em todos os cantos do Brasil. Um sucesso de público e repercussão.
A foto abaixo mostra um ancião indígena assistindo à palestra do Raoni. Seja nas cidades ou nas aldeias, todos buscaram acompanhar ao vivo as palavras do Cacique.
Nos Bastidores
A agenda do Cacique Raoni é muito requisitada. Para se ter ideia, no mês de julho, o ancião irá para os Estados Unidos (informação confirmada por sua assessoria). A agenda por lá está em construção, mas acredita-se que dois encontros já estão no horizonte: com o presidente Joe Biden e com o ator e ativista Leonardo DiCaprio.
Antes disso, haverá uma parada em Brasília para a celebração oficial do aniversário do Rei Charles III, que irá ocorrer na embaixada britânica no Brasil. Evento exclusivo e somente para convidados.
Ignorado por quem mais deveria ouvir
Já no Tocantins, nossos principais gestores mostraram não ter tempo nem interesse na figura do “velho índio”. O Governador Wanderlei Barbosa, a Prefeita Cinthia Ribeiro, o Deputado Amélio Cayres e o Vereador José do Lago Folha, chefes do Executivo e Legislativo, optaram por outras atividades e compromissos.
Por parte da Assembleia Legislativa, nenhum dos 24 parlamentares estava presente para ouvir as palavras do Cacique Raoni. O mesmo pode-se dizer da Câmara Municipal, onde nenhum dos 19 vereadores compareceu ao evento no Tribunal de Justiça.
Da parte do Governo do Estado, estavam presentes dois secretários: Sebastião Pinheiro (da Secretaria de Cultura) e Narubia Werreria (da Secretaria dos Povos Originários e Tradicionais). Em nota, o governador Wanderlei Barbosa informou estava cumprindo “agenda referente a entrega da reforma do 10° Batalhão de Polícia Militar (10° BPM) em Arraias e da sede da 8ª Companhia Independente (8ª CIPM) em Palmeirópolis. “
O Jornal Primeira Página entrou em contato com as assessorias das presidências das duas Casas de Leis, mas não houve retorno. A assessoria de comunicação da Prefeitura de Palmas também não deu retorno sobre o questionamento feito pela redação.
Convites também foram enviados à Ministra dos Povos Indígenas, Sonia Guajajara, e à Presidente da Funai, Joenia Wapichana. Porém, optaram por não comparecer.
Do outro lado, a Defensoria Pública Estadual, o Ministério Público do Tocantins e a Ordem dos Advogados do Brasil – Tocantins enviaram seus representantes. Assim como dezenas de movimentos sociais, que foram prestigiar e participar deste grande dia.
Na terra onde o desmatamento é o líder, aos olhos de uma fiscalização enfraquecida propositalmente, a luta dos povos indígenas não deixa a boiada passar por inteira. Nosso agradecimento a todos os Kaiapó, Tapirapé, Juruna, Xavante, Xerente, Karajá, Javaé, Krahô, Apinajé e tantos outros povos que seguem firmes nessa batalha.