Opinião | A triagem das UPAs de Palmas não pode ser palco de improviso

Por: Dr. Vinicius Pires – médico cardiologista e vereador de Palmas/TO

A porta de entrada da urgência não é lugar para improvisos. Nos últimos meses, a gestão municipal de Palmas tem adotado uma prática preocupante: o uso de médicos contratados por cooperativas para realizar a classificação de risco nas Unidades de Pronto Atendimento (UPAs). Trata-se de uma medida que distorce a lógica do Sistema Único de Saúde (SUS), desrespeita o papel técnico da enfermagem e compromete o fluxo de atendimento.

Na noite de 1º de agosto de 2025, a UPA Norte operou com um déficit de quatro enfermeiros e dez técnicos de enfermagem. Setores como sutura, ECG, curativos, expurgo, enfermaria e ambulatório estavam sem cobertura. A resposta da gestão foi deslocar médicos da assistência para a triagem — uma manobra que pode parecer pragmática, mas que, na prática, desorganiza o cuidado e sobrecarrega ainda mais uma equipe já no limite.

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Enquanto isso, há um cadastro de reserva de profissionais aguardando chamamento. Ignorá-lo e improvisar com mão de obra médica terceirizada expõe o sistema a riscos clínicos, fragiliza vínculos e perpetua uma lógica de remendo institucional.

Em diálogo com profissionais da linha de frente, a realidade relatada é clara e direta:

“A sala virou fila do atestado.”
“Isso não é prioridade clínica, é tapa-buracos.”
“Faltam profissionais, sobra improviso.”
“Quem deveria ser atendido primeiro é quem corre risco de morte.”

Essa é a percepção de quem enfrenta, todos os dias, a rotina de uma urgência em colapso. A implementação do modelo Fast Track — vendido como ganho de eficiência — tem sido usada como vitrine política, enquanto a estrutura da saúde pública desaba silenciosamente sob o peso do improviso.

Como médico e vereador, coloco meu mandato à disposição para propor soluções reais. Entre elas:

• Chamamento imediato do cadastro de reserva de técnicos e enfermeiros;
• Reorganização das escalas e do fluxo nas UPAs com base em critérios técnicos;
• Fim do uso de médicos cooperados em funções fora do escopo clínico;
• Fortalecimento da atenção básica como porta de entrada efetiva do SUS.

O cuidado em saúde exige planejamento, respeito ao papel de cada profissional e responsabilidade com a vida. Improvisar com a saúde é custoso. Persistir no erro é negligência.

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