Em 34 anos, a capital mais jovem do país já tem seu jeito próprio de falar
O modo como uma comunidade fala, se comunica é uma das partes fundamentais da cultura daquele lugar, daquele povo. O sociólogo Fábio Amorim conta que a fala e as expressões de fala são elementos de identidade.
Em uma conversa, em um diálogo duas ou mais pessoas estão atuando. Existe um estímulo e uma resposta. Esse estímulo é decodificado pela nossa língua, mas existem peculiaridades que são comuns a uma determinada região. São gírias, chavões, expressões que só aquele povo está acostumado a usar e é isso faz parte do processo de construção de identidade”, afirma.
Com 34 anos, nascida cerca de um ano depois da criação do estado do Tocantins, Palmas é a capital mais jovem do Brasil e já conquistou um jeito próprio de falar. Mas como é que o palmense raiz fala?
Para comemorar mais um aniversário de Palmas, o Jornal Primeira Página foi conferir o que está na boca do povo, literalmente…
Recém-chegado de Londres Eduardo Santos se assustou em não saber o significado de algumas expressões que ouviu por aqui. “Apesar de ser tocantinense, eu moro fora há muitos anos e acaba que a gente perde o convívio e fica sem entender muita coisa que estão falando pelas ruas”, conta.
Eduardo conta que se surpreendeu com a própria irmã falando com o sobrinho. “Meu sobrinho é palmense e minha irmã estava chamando a atenção dele. Logo após a bronca, ela virou para mim e disse que o Fabinho estava ficando cada vez mais custoso. Eu fiquei sem entender e tive que perguntar sobre o que ela estava falando”, relembra.
Mas afinal, o que é custoso? De acordo com o dicionário palmense a palavra é utilizada para identificar alguém levado, sapeca, que gosta de aprontar. O dicionário de quem vive por aqui, não é feito só de palavras, mas também de expressões.
Já ouviu alguém falar “me mata bem aqui”? A expressão é usada para indicar surpresa ou quando o palmense ficou chocado com alguma coisa.
Agora, as vezes a expressão é tão regional que não vai constar em nenhum dicionário. Por exemplo: “diguénada”. Confuso? Que nada, a mistura de palavras para um bom palmense tem significado e quer dizer que você está reprovando algo ou algum comportamento.
E a lista desse jeito palmense/tocantinense de falar é imensa. Repara os exemplos abaixo:
Orgulho de viver em Palmas
Não dá pra negar que existem problemas que afetam a vida da população todos os dias em Palmas. Mas também não dá pra não olhar para essa cidade e não enxergar os aspectos positivos que fazem da capital tocantinense ser um lugar único. São cenários especiais, paisagens que marcam a memória. Palmas tem seus encantos!
Aline da Silva está aqui desde a construção da cidade. Hoje com 36 anos ela lembra do comecinho de tudo e diz que não pretende sair da terrinha. “Uma das memórias que sempre estão na minha cabeça está relacionada ao progresso. É bonito de ver como a cidade se transformou em 34 anos. Eu lembro de tantas áreas com tanta poeira. Aquela poeira vermelha. Hoje está tudo diferente”, conta.
Só quem vive em Palmas pode encher o peito de orgulho e dizer que está na cidade com o pôr do sol mais bonito do Brasil. A mistura de cores no céu é um espetáculo à parte e observar tudo isso do Lago de Palmas reforça o sentimento que essa terra é única.
Por falar nesse momento exuberante da natureza, antes do sol se pôr, o palmense precisa enfrentá-lo durante o dia. Ele é escaldante, o calorão não dá trégua, mas não tem como não dizer que o sol faz parte da cultura palmense.
“Vai ter gente que vai amar e tem gente que vai odiar. Eu costumo dizer que a cidade seria outra se nós não tivéssemos um sol para cada um. Talvez teríamos muito mais habitantes do que temos hoje”, reflete o motorista de aplicativo Márcio Jorge.
Ainda podemos exaltar o trânsito tranquilo, se comparado ao de uma grande capital. A tranquilidade e a beleza das cachoeiras do distrito de Taquaruçu e a nossa comida. Quem nunca se esbaldou com um pratão de chambari que atire a primeira pedra!
É preciso expressar o orgulho de onde nós viemos, de onde nós tiramos nosso sustento. Não é nenhum pecado parabenizar a cidade, mesmo tendo ciência de tudo que precisa melhorar. Vamos aproveitar essa aniversário de Palmas para celebrar. Esse é o momento”, afirma o sociólogo.