De volta ao front: o meu retorno definitivo ao Tocantins e o jornalismo com coragem
Por Sandra Miranda – Jornalista, Advogada e Fundadora do Jornal Primeira Página
Como sabem as pessoas do meu convívio e quem me acompanha nas redes sociais, passei vários anos me dividindo entre o Tocantins e Santa Catarina, mas optei por voltar a morar definitivamente em Palmas. Ainda que o calor da nossa terra continue agravando meu problema respiratório – que encontra algum alívio no clima mais frio – a minha chegada ocorreu há 15 dias.
Volto para continuar exercendo o jornalismo que sempre conheci: aquele que incomoda políticos e autoridades – e que, de perto, incomodará ainda mais. Fico triste por já ter percebido que, de governo em governo, de prefeito em prefeito, de parlamentar em parlamentar, de juiz em juiz, de órgão de fiscalização em órgão de fiscalização, a corrupção continua campeando no Tocantins. E as constantes operações da Polícia Federal mostram apenas uma ínfima parte do que ocorre na calada dos corredores.
Sobre minha saúde, aqui em nossa capital também reside um médico especialista que já propôs tentarmos uma nova cirurgia no meu nariz (seria a terceira), após eu passar muitos anos me consultando com diversos otorrinolaringologistas renomados dos maiores centros do país, sem obter nenhum resultado satisfatório. Mas esse médico de Palmas me deu um pouco de esperança e afirmou que – pelo menos – meu problema não irá piorar. Vou tentar! Até porque tentar sempre e nunca desistir, é o lema da minha vida.
Nesta cidade que escolhi, também estão todos os meus sonhos: meus filhos, Renata e Rafael; os netos que não devem demorar a chegar; meus irmãos; meus amigos. E, claro, minha história de vida, meu trabalho com o Jornal Primeira Página, que – coincidindo com meu retorno a Palmas – este ano completa 40 anos desde sua fundação por mim, em Araguaína, no então norte goiano.
Destaco que, mesmo tendo estado longe, nunca deixei de trabalhar um dia sequer na minha função de jornalista, acompanhando passo a passo tudo o que acontecia no Tocantins e vindo a Palmas com frequência. Em Florianópolis, busquei aprimorar minha formação, cursando Direito e tornando-me também advogada, mesmo sem a intenção de exercer. Fiz questão de prestar aqui o Exame de Ordem e obter a carteira da OAB do Tocantins, onde tive a honra de ser, por um ano, membro de uma comissão importante da Seccional, numa das minhas estadas mais prolongadas em Palmas, durante a pandemia.
No mundo da corrupção, tudo é uma teia perfeitamente entrelaçada: um é parceiro do outro, um colabora e acoberta o outro, num vice-versa cruel que garante a continuidade na drenagem do dinheiro público – e o consequente enriquecimento. E o povo? Ah, que sofra as consequências disso! É muito preocupante o vácuo de lideranças que insiste em perdurar no Tocantins. Eleição após eleição, vence o “melhor pior”, como resultado de um triste campeonato. E o ano que vem, de eleições estaduais, já bate à porta.
Volto para incomodar os que insistem em continuar com os abusos do dinheiro público, com os abusos de poder – e sabendo, como sempre soube e senti muitas vezes na pele, dos abusos também cometidos contra jornalistas que ousam trazer à luz da população o que realmente ocorre.
Sei que meu jornal nunca fechou as portas e conseguiu atingir os 40 anos porque, volta e meia, fui obrigada a agir como o bêbado equilibrista. Mas afirmo: jornalismo chapa-branca, jornalismo-assessoria de imprensa e jornalismo-bipolar (aquele que, no mesmo texto, elogia primeiro para depois criticar – como tenho visto com frequência) nunca fiz e nunca farei. E quando os poderosos exagerarem nos abusos, nunca se esqueçam: 40 anos não são 40 dias!