Foi na semana passada que dois estudantes de 16 anos foram apreendidos pela polícia ao serem flagrados com maconha. A apreensão foi no Centro de Ensino Médio Tiradentes, que fica localizado na região sul de Palmas. Foi logo cedo, por volta de 8h da manhã, quando a equipe de patrulhamento escolar achou a atitude dos dois adolescentes suspeita. Conversando com os jovens, eles confessaram que eram usuários de drogas.
Os policiais revistaram os dois e as porções da droga foram encontradas na mochila de um deles. Os PMs também acharam acessórios para utilização da maconha como papéis de seda, colírio e um dichavador.
Sobre esse caso específico, a Secretaria de Estado da Educação (Seduc) informou que a apreensão não ocorreu dentro da unidade escolar, mas que eles foram encaminhados para o orientador educacional, que avisou aos responsáveis, e os mesmos se apresentaram na Delegacia de Polícia Civil.
O número de jovens e adolescentes que estão caindo no mundo das drogas tem se multiplicado ano após ano. Aqui no Tocantins, de 1º janeiro até o dia 12 de abril de 2023, 86 jovens entre 14 e 21 anos foram presos ou apreendidos por causa do consumo de drogas. Palmas é a cidade com mais registros.
Atualmente a legislação no Brasil, através da lei 11.343 de 2006 determina que comprar, guardar, transportar, cultivar drogas para consumo próprio são considerados crimes. A mesma lei informa que as penas para esses crimes são mais brandas.
“A legislação quer educar esse usuário de drogas, por isso as penas são advertências sobre os efeitos das drogas, fazer com que o usuário frequente programas ou cursos educativos, além de prestação de serviços à comunidade. Agora a lei estabelece que para determinar se a droga é para consumo pessoal o juiz deverá observar a quantidade, local e condições da apreensão, circunstâncias sociais e pessoais, bem como conduta e antecedentes do acusado”, informa o advogado Murilo Chaves.
Hoje com 30 anos, um publicitário que prefere não se identificar, lembra bem do período que experimentou drogas pela primeira vez. “Eu tinha 14 anos, um amigo foi na minha casa fazer um trabalho da escola. Ele trouxe um cigarro de maconha e me desafiou a usar. Eu nem queria, mas nessa época você quer provar para o outro que é capaz. Acabei fumando e depois de um, vem outro cigarro e quando você percebe não consegue mais parar”, conta.
Fumar maconha virou um hábito para o publicitário, com o passar do tempo vieram outras drogas. “Eu sempre gostei de música eletrônica e comecei a frequentar festas e nesses locais usava todo tipo de droga. Eu não tinha clareza que tinha um problema crônico, não era eu que usava a droga, a droga é quem estava me usando”.
Só quando a família percebeu que algo estava errado é que a ajuda veio. “Eu precisava da droga todo o dia. Ficava irritado, as vezes trancado no quarto, eu não vivia mais, não tinha alegria, estava magro, feio. Meu irmão percebeu e me colocou contra a parede, acabei confessando e minha mãe buscou ajuda médica. Fiquei por um bom tempo numa casa de recuperação e hoje eu digo que ainda estou em tratamento”, afirma.
Perceber sinais em casa pode indicar que o jovem ou adolescente está se envolvendo com atividades ilícitas. A psicóloga Katerine Lima garante que o adolescente deixa “rastros” quando usa drogas.
“Seu filho mudou o comportamento do nada? Antes era alegre, agora está agressivo, introspectivo? Ele não consegue mais dormir durante a noite, ao contrário dorme o dia inteiro? Mudou os hábitos alimentares? Não permite que a família se aproxime do quadro? São perguntas que vão indicar quando é necessário uma investigação mais detalhada”, pontua.
Segundo a especialista promover um espaço seguro para conversas, alertas de perigos é essencial para conquistar a confiança desse jovem. “O jovem ainda não sabe pedir ajuda, ele se acha um herói e que vai dar conta de resolver os problemas sozinho. Essa autossuficiência pode ser devastadora, já que o tempo vai passando e esse adolescente vai se afundando cada vez mais nas drogas”, alerta.
As principais dicas da psicóloga são: observe e converse. “Não adianta você garantir comida, roupa, alimento se você não dá atenção ao seu filho. Observe quais são os interesses dele, se ele trocou de amigos. Converse mais, seja alguém que educa, mas também seja alguém que é parceiro”.
Dependência química precisa de tratamento
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS) a dependência química é reconhecida como doença. A comunidade médica ainda estuda quais são as causas que contribuem para que uma pessoa se torne dependente de alguma substância. Mesmo sem um parecer conclusivo já se sabe que a combinação de fatores como predisposição genética, traumas, depressão e o ambiente social podem influenciar.
Para o médico da família Tiago Amorim, que estuda os impactos das drogas no ambiente familiar, a pessoa que tem contato com drogas pode ter até três perfis. “Em um dos casos é aquele que fez o uso, para experimentar, mas que não usou em outras oportunidades. Tem aqueles que vão fazer abuso dessas substâncias. São aquelas pessoas que sempre querem mais e já até começam a ficar com o comportamento alterado. E tem aqueles que serão dependentes, que é a pessoa que não consegue ficar sem a substância”, pontua.
O médico conta que é essencial que o dependente tenha acesso a uma rede de tratamentos. “Não é um processo fácil. Um dependente químico pode ter que enfrentar a doença para a vida toda. Outro erro que muita gente comete é achar que é possível tratar a dependência sozinho. Nós estamos falando de efeitos psíquicos e quem não entende que precisa de ajuda pode até piorar o caso”, alerta.
O tratamento para o dependente químico passa por uma equipe multidisciplinar envolvendo médicos, psicólogos, terapeutas. Em todo o Tocantins existem clínicas de recuperação que oferecem acompanhamento para jovens e adultos que foram diagnosticados com dependência químico. Nesses espaços, o paciente vai fazer diversas atividades com o intuito de superar o vício.
A Lei Antidrogas do Brasil estabelece que dependentes químicos podem ser internados de forma voluntária e involuntária. Quando a internação é contrária a vontade do paciente é necessário um pedido de familiar ou responsável legal ou, na falta deste, de servidor público da área de saúde, de assistência social ou de órgãos públicos integrantes do Sistema Nacional de Políticas Públicas sobre Drogas (Sisnad). Esta internação terá duração máxima de 90 dias, e dependerá de avaliação sobre o tipo de droga, o padrão de uso e a comprovação da impossibilidade de uso de outras alternativas terapêuticas.
Quantidade de jovens no tráfico também preocupa
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins (SSP) mostram que houve aumento nas prisões de jovens suspeitos de crimes relacionados ao tráfico de drogas. Em 2022, 453 jovens entre 14 e 21 foram para a prisão ou para centro socioeducativos.
Na comparação entre 1º de Janeiro e 12 de abril de 2023 e o mesmo período do ano passado foi registrado um aumento de quase 13% no número de prisões. Palmas foi a cidade onde esse percentual mais cresceu. A capital registrou um aumento de 62% de jovens presos respondendo por tráfico de drogas.
Conscientização e combate
Segundo a Secretaria de Estado da Saúde (SES), o governo do Tocantins tem atuado no combate e na conscientização sobre o uso de drogas. A SES informou que uma das principais pautas em destaque para este ano é a saúde mental da criança e adolescente. E que ações com foco nas escolas e espaços comunitários serão realizadas. A intenção é capacitar multiplicadores e levar à população tocantinense mais informação e destaque do que é necessário à saúde de nossas crianças e jovens.
Quem também desempenha um trabalho essencial de conscientização sobre os perigos causados pelas drogas na juventude é o Programa Educacional de Resistência às Drogas e à violência (Proerd) realizado pela Polícia Militar.
O Proerd está presente em todas as unidades da PMTO, por meio das coordenações regionais e na capital, a coordenação estadual está localizada no Quartel do Comando Geral (QCG), em Palmas.
Em 2023 são desenvolvidas nas escolas por meio da aplicação dos currículos da educação infantil e séries iniciais, 5º ano, 7º ano e currículo para pais. Também estão são realizadas palestras dentro da temática de prevenção às drogas e ações que gerem violência.
A previsão é que sejam realizados 26 mil atendimentos durante o ano. As escolas interessadas podem solicitar o atendimento do programa por meio de documento enviado ao comando da PMTO ou aos comandantes das unidades mais próximas.