Agronegócio tocantinense: entre cercas invisíveis e a chance histórica de liderar a sustentabilidade

O Tocantins, estado mais jovem do Brasil e uma das últimas fronteiras agrícolas do país, vive um momento decisivo. Em um ano em que os olhos do mundo se voltam para a Amazônia e a região Norte, com a realização da COP30 no Pará, seria natural que o agro tocantinense estivesse unido em torno de uma agenda comum: consolidar-se como referência em produção sustentável. No entanto, o que se vê é o contrário: o palco que deveria ser de convergência virou arena de disputas narrativas e de vaidades.

No centro do debate estão dois temas estratégicos. O primeiro é o REDD+, sigla em inglês para Redução de Emissões por Desmatamento e Degradação Florestal. Trata-se de um mecanismo internacional que prevê compensações financeiras a países e regiões que preservam suas florestas, mantendo o carbono estocado nelas. O segundo é a atualização do ZEE – Zoneamento Ecológico-Econômico, instrumento de planejamento territorial que define, de forma científica e legal, quais áreas podem ser usadas para produção, preservação ou ocupação urbana, equilibrando meio ambiente e desenvolvimento.

Na teoria, esses dois instrumentos poderiam ser aliados de primeira grandeza para atrair investimentos, dar previsibilidade ao setor produtivo e posicionar o Tocantins na vitrine global da sustentabilidade. Na prática, no entanto, viraram motivos de divisão. Divergências entre governo, associações e representantes de classe têm dado mais espaço ao que separa do que ao que une.

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É preciso reafirmar: o futuro do agronegócio tocantinense está na defesa de um modelo sustentável, moderno e altamente produtivo, guiado pelo mercado e pela demanda mundial por alimentos, sempre dentro dos marcos do Código Florestal Brasileiro, que já é um dos mais rígidos do planeta.

Nesse sentido, o REDD+ merece uma reflexão madura. Se praticado com transparência, clareza de regras e participação efetiva da classe produtiva, pode ser não apenas compatível com o agronegócio, mas um instrumento para colocar o Tocantins na vanguarda das questões climáticas.

Mas para isso, o Estado precisa dar sua parte. Transparência não é favor, é dever. É inaceitável que contratos relacionados ao REDD+ tramitem sem clareza e acesso irrestrito à classe produtiva, justamente a mais interessada e impactada. Também é legítima a preocupação com uma possível “leniência” na concessão de licenças ambientais. A política de licenciamento no Tocantins nunca foi reconhecida pela eficiência e qualquer sinal de fragilidade abre espaço para insegurança jurídica e para a desconfiança de quem investe, planta e produz.

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