Afogamento expõe precariedade na segurança do público nas praias de Palmas

Um afogamento registrado em Palmas na última quinta-feira, 18, que vitimou Nivia Lara Moreira dos Santos, de 25 anos, chamou a atenção para a falta de sinalizações adequadas nas praias da capital, que, devido ao alto fluxo de frequentadores, segue colocando em risco a segurança do público palmense.

A Redação do Jornal Primeira Página foi até as principais praias da capital e constatou a falta de placas de sinalização para as áreas com alto risco de afogamento. Comerciantes que atuam nestes espaços relataram também a falta de agentes de segurança, tais como policiais e bombeiros, para atendimento de emergências e ocorrências.

Conforme dados divulgados pela Secretaria de Segurança Pública do Tocantins, foram registrados 35 afogamentos em todo o estado durante o ano de 2023.

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No caso envolvendo a última vítima em Palmas, Nivia Lara, que não sabia nadar, uma placa indicando “área de embarcações”, “use colete salva-vidas” e “proibido banhistas” está fixada próxima, porém, foi colocada de forma inadequada e sem informar claramente os riscos de entrar naquele local.

Em visita à praia do Prata, a Redação refez o trajeto que Lara usou para acessar a água, e seria impossível visualizar a referida placa, por ser muito pequena e por estar virada para o lago, ou seja, somente é possível tomar conhecimento do risco quando já se está dentro do lago.

Em consulta com profissionais que atuam na área de Segurança no Trabalho e Prevenção de Riscos, foi relatado que esta placa está fora dos padrões de sinalização de segurança e que não é clara quanto ao risco de afogamento.

“Essas informações devem ser apresentadas dentro de um padrão gráfico já existente e devem ser muito claras, especialmente pensando em crianças e pessoas que não sabem ler ou escrever”, relatou um profissional com passagem por empresas de Segurança no Trabalho com alto risco de acidentes.

Nivia Lara, conforme testemunhas que a viram entrando na água, informaram que ela afundou rapidamente e desapareceu. Neste espaço, que fica ao lado esquerdo das telas de proteção contra os peixes, existe uma vala muito funda e que surge repentinamente para quem está na água.

A jovem, que era DJ e produtora cultural em Palmas, foi encontrada após mais de duas horas de busca pelas equipes de resgate e a cinco metros de profundidade.

Jovem morreu na frente de um posto dos Bombeiros abandonado

Nivia morreu exatamente na frente de um posto de Bombeiros que existe na praia do Prata. Contudo, nenhum profissional da corporação estava presente no momento do afogamento. O local, que não tem identificação, está com sinais evidentes de abandono, com muita sujeira e marcas de fogueiras nas paredes.

Em nota enviada ao Jornal Primeira Página, corporação informou que local não é mais utilizado pelos Bombeiros. Confira ao final da reportagem.

Comerciantes do Prata informaram que nem mesmo durante os finais de semana, quando o movimento de banhistas é intenso, os Bombeiros estão presentes para fazer a segurança do público.

“Somente em julho quando estamos na alta temporada eles colocam salva-vidas ali, fora isso nada. Cabe a nós avisar o público que aquele local é perigoso e muito fundo”, relatou Antônio Oliveira, garçom na praia.

Nivia desceu as escadas de frente ao posto dos Bombeiros na praia do Prata e morreu afogada em seguida – Foto: Jornal Primeira Página

Sem placas e sem tela de proteção, banhistas correm risco na praia do Caju

Em entrevista ao Jornal Primeira Página, o vice-presidente da associação de comerciantes da praia do Cajú, Joaquim Alves da Costa, 50 anos, falou sobre os riscos aos quais os banhistas estão expostos.

Segundo o empresário, a tela de proteção está totalmente rasgada e foi instalada para delimitar a área dos banhistas e conter a entrada de peixes, como piranhas, que podem atacar o público. Logo após o término dessa delimitação, um espaço muito fundo surge e coloca em risco a segurança dos frequentadores.

“Quanto à tela de proteção, não existe! A prefeitura mandou instalar aqui uma tela de plástico, tipo tela de galinheiro, e isso aqui não serve para uma praia, né? Até os próprios peixes conseguem rompê-la. Nós, donos de restaurantes e os garçons aqui, estamos sempre avisando aos clientes”, comentou.

Na praia do Cajú, há um espaço afastado da água destinado à Guarda Metropolitana, Bombeiros e atendimento de primeiros socorros, mas, de acordo com os comerciantes, não funciona efetivamente.

“Nós temos um espaço aqui, para a Guarda Metropolitana, a Polícia Militar, e também para os bombeiros, além de uma área de pronto atendimento. No entanto, isso nunca funcionou. A prefeitura nunca olhou para nós nesse aspecto, ela nos esqueceu, nunca pisou aqui para se manifestar, nada. Durante o verão, ela aparece aqui, coloca algumas placas e está tudo certo. Mas durante o resto do ano, nada. Aqui na Praia do Cajú, sempre há muitas pessoas. Graças a Deus, temos clientes fiéis que frequentam sempre. A única coisa que falta é o Poder Público”, finalizou o vice-presidente.

Joaquim Alves tem um restaurante na praia do Cajú e falou sobre a falta de segurança no local – Foto: Jornal Primeira Página

A Redação visitou as praias das Arnos, Graciosa e Buriti, onde também faltam sinalizações adequadas aos banhistas quanto a áreas de risco, além de profissionais para atuarem em emergências e ocorrências.

O Jornal Primeira Página solicitou uma nota da Prefeitura de Palmas, responsável pela gestão das praias da capital, e dos Bombeiros, que são responsáveis pela segurança dos banhistas na água.

Até o fechamento desta reportagem, não houve retorno por parte da Prefeitura de Palmas. Espaço segue aberto.

Confira nota na íntegra dos Bombeiros:

“O Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Tocantins esclarece que as estruturas das Praias de Palmas, bem como de outras regiões no Estado, são de responsabilidade das Prefeituras e/ou dos organizadores, tendo a Normal Técnica nº 34, publicada pelo CBMTO, por meio do Comando de Atividade Técnica (CAT), em nosso site, conforme o link, que trata da segurança em áreas balneares, referente à sinalização terrestre, aquática e o emprego de guarda-vidas civis.

Sobre outras questões pontuadas pelo veículo de comunicação, segue:

  • Posto de Segurança na Praia do Prata: trata-se de uma estrutura de responsabilidade da Prefeitura de Palmas, e que não é mais um local usado pelo CBMTO, que tem a Companhia Independente de Busca e Salvamento (CIBS), na Orla da Praia da Graciosa.
  • Sinalização das Praias: cabe à Prefeitura a adoção do sistema de sinalização, implantando o padrão estabelecido pela Norma Técnica nº 34 do CBMTO, em que avisa aos banhistas os pontos permitidos para banhos, pontos para embarque e desembarque, bem como os locais proibidos para banho. O CBMTO fiscaliza e estabelece o que precisa ser adequado para garantir a segurança dos banhistas, bem como diz qual é o prazo para a solução dos problemas encontrados.
  • Segurança das Praias: o CBMTO trabalha em parceria com as Prefeituras, formando guarda-vidas civis que têm o papel de fazer a parte de prevenção junto aos banhistas nas áreas balneares. Na Temporada de Praia, equipes de bombeiros militares são destacadas para os principais pontos do Tocantins, porém, no dia a dia, são os guarda-vidas civis que devem ser contratados para as ações mais pontuais. E, em caso de necessidade, os bombeiros militares devem ser acionados.
  • Placa de Sinalização: todo o sistema de sinalização recomendado pelo Corpo de Bombeiros Militar do Tocantins é padrão e está em conformidade com o que outras corporações adotam para as praias, inclusive, tem a aprovação da Sociedade Brasileira de Salvamento Aquático (SOBRASA).

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