Do diagnóstico ao retorno à rotina: avanço técnico no Tocantins melhora tratamento de tumores da hipófise
O Tocantins ampliou o acesso a cirurgias de hipófise com técnica minimamente invasiva, consolidando um avanço que antes só estava disponível em grandes centros do país. A abordagem endoscópica endonasal — realizada pela cavidade nasal, sem necessidade de abrir o crânio — tem sido aplicada por equipes multidisciplinares no Estado e reduz o risco cirúrgico, o tempo de internação e o trauma pós-operatório.
O procedimento envolve o trabalho conjunto de neurocirurgiões e otorrinolaringologistas. Entre eles está o especialista otorrinolaringologista Dr. Guilherme Solé Sampaio, que explicou ao Jornal Primeira Página que o uso do endoscópio transformou o acesso às estruturas profundas da base do crânio.

“O endoscópio oferece visão ampliada e angular, permitindo acesso seguro a regiões antes muito restritas. Isso reduz sangramentos, trauma cirúrgico e aumenta a precisão na remoção dos tumores”, afirmou.
Com essa técnica, conhecida como abordagem endoscópica endonasal, o Tocantins passa a realizar procedimentos que até pouco tempo exigiam deslocamentos longos, custos elevados e meses de espera em outras capitais.
A trajetória do paciente Luís, que compartilhou sua experiência em entrevista ao Jornal Primeira Página, mostra a dimensão do impacto humano desse avanço.
De um zumbido persistente ao diagnóstico de um tumor hipofisário
Os primeiros sintomas de Luís surgiram em 2013, quando ele desenvolveu um zumbido intenso no ouvido direito.
“Comecei a buscar ajuda médica, fiz tratamentos, usei medicamentos, passei por procedimentos de lavagem. Precisei até me afastar do trabalho”, relatou.
Naquele período, a suspeita era tinnitus e otite, mas anos depois os sintomas evoluíram, e uma investigação aprofundada revelou um adenoma de hipófise de 1,2 cm.
“Ouvir a palavra ‘tumor’ me deixou completamente sem rumo”, disse.
Com o crescimento acelerado da lesão, que passou a comprimir o quiasma óptico e estruturas profundas, a cirurgia tornou-se a única alternativa.

A técnica e seu papel no procedimento de alta complexidade
Segundo o Dr. Guilherme Solé Sampaio, o procedimento endoscópico é realizado inteiramente pelas vias nasais. O otorrinolaringologista cria o acesso até a base do crânio, e o neurocirurgião atua na remoção do tumor.

O documento técnico do especialista detalha que a técnica utiliza endoscópios rígidos de diferentes angulações, microinstrumentos e sistemas de navegação que guiam o cirurgião durante a operação.
“O sucesso depende de integração. O otorrino prepara um acesso seguro; o neurocirurgião remove o tumor com precisão”, disse o médico.
Entre as vantagens do método estão:
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ausência de cicatriz externa;
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menor tempo de internação;
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redução de riscos associados à abertura do crânio;
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melhor visualização de estruturas profundas;
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preservação das funções neurológicas.
O dia da cirurgia e o enfrentamento pós-operatório
A cirurgia de Luís durou cerca de sete horas. Ele recorda o momento como uma experiência emocionalmente intensa.
“Foi um dia que transcendeu o físico. A fé não nega nossa fragilidade; ela é o que nos sustenta dentro dela”, afirmou.
A recuperação incluiu complicações hormonais, como Síndrome de Secreção Inapropriada de ADH, hiponatremia grave e poliúria — o que exigiu sete dias de UTI e quatro na enfermaria.
“No fim, consegui superar graças à competência da equipe médica e de enfermagem”, disse.
No pós-operatório, o paciente precisou seguir cuidados rígidos para evitar riscos como fístula liquórica.
Qualidade de vida e acompanhamento contínuo
Após a cirurgia, Luís relata melhora significativa na qualidade de vida, embora ainda monitore os impactos na visão devido à compressão prolongada do quiasma óptico.
“A melhora é perceptível, mas sigo em avaliação. Meu foco agora é acompanhar o sistema hormonal e a visão”, disse.
Ele segue em acompanhamento com a equipe multidisciplinar há nove meses.
A adoção da técnica no Estado representa um marco para o tratamento de tumores da hipófise e reduz a necessidade de deslocamentos para outras capitais.
Luís deixou uma mensagem a quem recebe o diagnóstico:
“Jamais percam a esperança. Busquem diagnóstico preciso e profissionais abertos ao diálogo. A cirurgia pode ser, sim, uma nova chance de vida.”
