“O Santo e a Porca” ganha nova montagem em Palmas com a Cia Fernanda Montenegro
A peça O Santo e a Porca, clássico de Ariano Suassuna, estreia nesta quarta-feira (3), em Palmas, com duas sessões no Parque da Pessoa Idosa (18h30 e 20h30). A montagem é assinada pela Cia Fernanda Montenegro, projeto da Fundação Cultural de Palmas (FCP), e marca o encerramento do ano para o grupo, que trabalha há meses na adaptação e construção do espetáculo.
A comédia, escrita em 1957 e ambientada no sertão nordestino, explora temas como ganância, religiosidade popular e hábitos familiares, sempre permeados pelo humor característico de Suassuna. Para a atriz Jaqueline Braga, que interpreta Margarida, dar vida à personagem exigiu encontrar equilíbrio entre doçura e explosão, traço herdado do pai rabugento presente na trama.
“A Margarida é muito doce, mas também muito ativa. Ela grita muito, tem muita força. O maior desafio foi encontrar esse equilíbrio entre a doçura dela e a explosão que vem do pai”, disse a atriz.

Processo de criação e referências
A atriz explica que, embora Suassuna seja amplamente conhecido pelas obras O Auto da Compadecida e A Pedra do Reino, a construção de Margarida exigiu outras fontes de estudo.
“A gente bebe da fonte do Ariano, mas procurei outras versões da peça, referências de novelas e atuações com teor nordestino. Precisávamos nos aproximar do Nordeste daquela época”, afirmou.
O elenco buscou ainda entender o ritmo cômico do autor, conhecido por diálogos rápidos e situações carregadas de ironia. “No começo, a gente ria tanto que mal conseguia entregar o texto. Precisamos testar com o público, porque é fácil perder o ritmo quando o humor é tão forte”, contou.
A atriz relata dois momentos decisivos na trajetória da montagem: a primeira apresentação do ato inicial, no hall do Espaço Cultural, e a finalização dos três atos completos, após sete meses de trabalho.
“A primeira apresentação foi essencial para termos um termômetro do público. Depois, quando finalizamos os três atos, sentimos que a peça realmente tomou corpo”, disse.
A importância cultural e a emoção da estreia
“O Santo e a Porca” chega ao público como um espetáculo leve, mas carregado de crítica social, traço marcante de Suassuna. “A leveza com que o Ariano trata temas críticos é absurda. As pessoas sempre saem aprendendo algo”, afirmou.
Em sua fala final, Jaqueline fez questão de destacar a ausência do Teatro Municipal Fernanda Montenegro, fechado há mais de quatro anos para manutenção. “Teríamos um suporte muito maior se tivéssemos nosso teatro funcionando. Teatro é coxia, caixa cênica, iluminação, acústica. O auditório não oferece o mesmo suporte”, criticou.
Direção buscou respeitar cultura nordestina e aproximar peça do público atual
A diretora da Cia Fernanda Montenegro, Arabelle Hadife, afirma que a escolha da obra foi motivada pelo desejo de valorizar a cultura brasileira e destacar o olhar sensível de Suassuna para o cotidiano do povo nordestino.
“O Ariano Suassuna é um dos maiores expoentes da valorização da cultura brasileira. Ele vê importância nas mínimas coisas. A escolha da peça foi uma extensão desse olhar”, disse.
A diretora explica que a adaptação do texto foi mínima, com o objetivo principal de reduzir a duração para adequar ao ritmo atual do público. “O texto comunica muito bem. Apenas enxugamos um pouco para deixá-lo mais fluido, sem mexer na estrutura original”, explicou.

Desafios e construção coletiva
Entre os maiores desafios esteve o trabalho com o sotaque nordestino, feito com cuidado para evitar exageros ou caricaturas.
“Nossa preocupação era não cair na caricatura. Queríamos um sotaque respeitoso, sem estereótipos”, destacou.
A diretora também ressaltou que o processo foi totalmente coletivo, com elenco envolvido em todas as etapas — da adaptação ao audiovisual e divulgação.
Temporada e apresentações
As duas primeiras apresentações acontecem no dia 3 de dezembro, no Parque da Pessoa Idosa, às 18h30 e 20h30. As demais datas e locais serão divulgados nas redes oficiais da Fundação Cultural de Palmas.
Arabelle reforça que a peça celebra a cultura brasileira e convida o público a refletir sobre desigualdades e valorização do trabalho.
Ao comentar a mensagem que deseja transmitir,
“A peça celebra as potências de ser brasileiro, mas também critica a desvalorização do nosso povo e o modo como o trabalho é estruturado. É rir pensando”, disse.
