“Não temos o que comemorar”; educadores do Tocantins expressam desânimo após mais de uma década sem atualização do PCCR

Neste 15 de outubro, Dia dos Professores, a data é marcada mais pela mobilização do que pela comemoração entre os profissionais da educação da rede estadual do Tocantins. Com o Plano de Cargos, Carreiras e Remuneração (PCCR) sem atualização há mais de dez anos, professores afirmam viver um cenário de desvalorização, perda salarial e adoecimento profissional.

O professor Mayst Marcos de Sousa Santos, que leciona Geografia no Colégio Estadual Guilherme Dourado, em Araguaína, é um dos que relatam o sentimento de frustração. Servidor desde junho de 2010, ele diz que o tempo de espera por uma atualização no plano transformou a carreira docente em um desafio de resistência.

“Ser professor é algo magnífico, poder ajudar pessoas em suas carreiras e na vida é motivo de orgulho. Mas estar há mais de 11 anos sem um PCCR atualizado é triste. Isso mostra que somos desvalorizados pelos gestores públicos. Entra governo, sai governo, e todos falam em defender a educação, mas quando assumem o poder, começam a procrastinar”, afirma o professor.

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“Hoje não temos o que comemorar. Estamos cansados, tristes e desmotivados. Fazemos a nossa parte, mas o Estado não faz a dele.” – Foto: Arquivo Pessoal.

Defasagem e desmotivação

Mayst, que é mestre em Filosofia e especialista em Desenvolvimento Regional e Urbano pela UFT, afirma que a defasagem salarial e a falta de valorização têm levado colegas a abandonar a profissão. Segundo ele, muitos professores recorrem a empréstimos para cobrir despesas básicas, e parte significativa da categoria enfrenta problemas de saúde mental ligados à sobrecarga e à falta de reconhecimento.

“Tem colegas pedindo dinheiro emprestado porque o salário não cobre mais as contas. Muitos estão adoecendo, em depressão ou afastados por patologias relacionadas ao trabalho. A carreira do professor no Tocantins se tornou tóxica, marcada por baixos salários, pressões e cobranças constantes”, lamenta.

O educador relata que, com descontos obrigatórios, o salário líquido de muitos professores não ultrapassa R$ 3 mil, valor que considera insuficiente para garantir condições dignas de vida.

“As pessoas acham que o professor ganha bem, mas o valor real é bem menor. Não temos condições adequadas nas escolas, arcamos com internet, transporte e material. A desvalorização afeta nossa motivação e também a qualidade do ensino”, reforça.

Categoria mobilizada e insatisfeita

Segundo o Sindicato dos Trabalhadores em Educação no Estado do Tocantins (Sintet), a categoria está em paralisação geral nesta terça-feira (14), véspera do Dia dos Professores, para cobrar do Governo do Estado o envio do novo PCCR à Assembleia Legislativa.

A mobilização ocorre em doze regionais, incluindo Araguaína, Tocantinópolis, Colinas, Guaraí, Paraíso, Porto Nacional, Gurupi e Arraias. Em Palmas, um ato público unificado das redes estadual e municipal está marcado para o dia 15, às 9h, na Avenida JK.

De acordo com o Sintet, o PCCR está parado na Casa Civil há mais de um ano. O governo alega necessidade de “conhecer o plano” antes de avançar, mas o sindicato classifica a demora como injustificável.

“Temos mantido diálogo com a nova gestão, mas é impossível manter a paciência diante da morosidade. Queremos a aprovação do PCCR já”, afirmou o presidente do Sintet, José Roque Santiago.

Perdas salariais e condições de trabalho

De acordo com cálculos do professor Mayst, a falta de atualização do plano gera uma perda mensal entre R$ 2,8 mil e R$ 3 mil para cada docente. Ele afirma que essa defasagem impacta diretamente a qualidade de vida e a capacidade de investimento em formação continuada.

“Esse dinheiro faz falta para estudar, comprar livros, participar de congressos, ter lazer e se alimentar bem. A cada ano, a situação piora. Temos colegas que desistiram da profissão ou morreram por exaustão e doenças agravadas pelas condições de trabalho”, relata.

O professor defende que o governo priorize a valorização do magistério como base para o desenvolvimento do estado.

“Não adianta dizer nas redes sociais que foi inspirado por um professor e, ao mesmo tempo, ignorar a nossa realidade. Valorizar a educação começa com bons salários e condições de trabalho dignas. O Tocantins só vai crescer de verdade quando respeitar seus educadores”, afirma.

Dia dos Professores sem motivos para comemorar

Para muitos profissionais, o 15 de outubro deste ano será um dia de luta e não de festa.

“Hoje não temos o que comemorar. Estamos cansados, tristes e desmotivados. Fazemos a nossa parte, mas o Estado não faz a dele. Queremos apenas respeito e valorização. É o mínimo que o professor tocantinense merece”, conclui Mayst.

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