“Conclave” – poder, fé e conspiração nos bastidores do Vaticano

SINOPSE é a coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!

A sucessão papal pode não parecer um tema palpitante para um thriller cinematográfico, mas Edward Berger prova o contrário com “Conclave”. O diretor, que já havia demonstrado sua habilidade com a tensa reconstrução histórica de “Nada de Novo no Front” (vencedor de quatro Oscars), agora mergulha nas intrigas do Vaticano, transformando um ritual secular em um xadrez de ambição e poder. Baseado no livro homônimo de Robert Harris, o filme é um forte candidato à nomeação para o Oscar de Melhor Filme deste ano, por conseguir construir um drama religioso que serve de palco para Ralph Fiennes novamente mostrar todo seu potencial dramático.

A trama começa com a morte do Papa, um líder cujo legado se revela mais complexo do que seus fiéis imaginavam. É nesse cenário que acompanhamos o Cardeal Thomas Lawrence (Ralph Fiennes, em uma de suas melhores performances dos últimos anos), decano encarregado de conduzir o conclave que definirá o novo chefe da Igreja. Com quatro candidatos principais disputando o posto – o progressista Bellini (Stanley Tucci), o conservador Tedesco (Sergio Castellitto), o moderado Tremblay (John Lithgow) e o africano Adeyemi (Lucian Msamati) –, inicia-se então um jogo de alianças e traições com uma austeridade típica de thriller europeu.

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Berger conduz essa história com precisão, evitando digressões desnecessárias e apostando na força dos personagens e de seus dilemas morais. A ausência de flashbacks para explicar o passado dos personagens, por exemplo, é uma decisão audaciosa que respeita a inteligência do público. O filme exibe uma fotografia primorosa que cria uma atmosfera claustrofóbica nos corredores do Vaticano. Os enquadramentos, muitas vezes angulados para reforçar a sensação de enclausuramento, colaboram para a crescente tensão narrativa. O diretor opta por uma cenarização esparsa, moderadamente iluminada, muito centrada no cumprimento ritualístico do protocolo. A trilha sonora com tons solenes e pesados, pontua bem os momentos mais carregados do longa.

O roteiro, assinado por Peter Straughan, é mais um dos trunfos da obra. Não apenas constrói personagens tridimensionais, mas também introduz reflexões profundas sobre o papel da Igreja na contemporaneidade. Os cardeais não são retratados como figuras puramente virtuosas; ao contrário, eles são humanos, falhos e, acima de tudo, movidos por interesses próprios. Não há vilões óbvios, apenas homens lidando com o peso da fé e do poder, o que torna tudo ainda mais fascinante. O filme conduz o espectador por um labirinto de alianças, traições e segredos que ameaçam não apenas a sucessão papal, mas a própria estrutura da Igreja Católica. Se em “Nada de Novo no Front” Berger fez da guerra um espetáculo visual aterrador, aqui ele transforma o Vaticano em um campo de batalha silencioso.

“Conclave” é um thriller sofisticado que se destaca não apenas pela sua temática incomum, mas pela execução primorosa. Edward Berger reafirma sua capacidade de contar histórias densas com maestria visual e narrativa. O filme oferece uma imersão fascinante nos bastidores do poder religioso e deixa um impacto duradouro incentivando o espectador a refletir não apenas sobre o conclave em si, mas também sobre as forças invisíveis que moldam instituições e crenças pessoais. No tabuleiro de xadrez do Vaticano, cada peça tem seu papel, e “Conclave” nos lembra que, quando se trata de poder, nem mesmo a fé está imune às sombras da ambição.

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