Cine Xerente: Comunidades indígenas recebem mostra de cinema patrocinada pela Lei Paulo Gustavo
Em uma iniciativa inédita e transformadora, o projeto “Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela” traz uma mostra de cinema indígena para as aldeias Xerente, localizadas na região de Tocantínia, no estado do Tocantins. A programação será aberta no próximo sábado, 08, ao longo de todo o dia com abertura solene na Aldeia Kâkakarê (Cahoeirinha).
Na próxima semana, dias 15 e 16, a mostra será exibida também nas aldeias Kripe (Salto) e Sakrepra (Funil). Além dessas comunidades, o projeto acolhe ainda os povos das aldeias Nrõzawi (Porteira), Kâwrakurerê (Brejo Cumprido), Kakumhu (Riozinho), Ktêkaká (Rio do Sono), Brupre e Krite (Recanto).
A realização é da Associação dos Brigadistas Akwe Xerente de Prevenção e Controle às Queimadas e Combate a Incêndios (Abix) com o patrocínio do edital de Audiovisual, da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins. De acordo com a presidente da ABIX, Ana Shelley Xerente, o objetivo é de não apenas entreter, mas também fortalecer e valorizar a rica cultura dos povos indígenas através da sétima arte.
Todos os filmes exibidos incluem temática indígena, produzidos por produtores indígenas e não indígenas, que expressam e celebram aspectos da diversa cultura por meio da grande tela. A proposta é amplificar a voz das comunidades, oferecendo um espaço de compartilhamento de suas histórias, visões de mundo e desafios, inspirando diálogo, entendimento mútuo e respeito a sua cultura, através da Sétima Arte.
Programação
A mostra será dividida em programação dedicada ao público infantil, apresentando filmes que dialogam com a realidade das crianças indígenas e suas tradições. E também filmes voltados para o público adulto, com obras que abordam questões sociais, ambientais e culturais pertinentes aos povos indígenas.
Neste contexto serão exibidos os filmes “Dasipe: O Festar Xerente” e “Terra Krahô” para o público adulto e o infantil “Dasihâ zumze: um registro da infância Xerente”, além de vídeos produzidos por pessoas da própria comunidade, criados e roteirizados durante a oficina de produção audiovisual do projeto.
Além das exibições, o projeto inclui debates pós-filme com a presença de convidados como profissionais dos direitos humanos e especialistas, promovendo um espaço de diálogo e reflexão sobre os temas apresentados. “Essa troca de experiências enriquecerá ainda mais a compreensão e o reconhecimento da cultura indígena dentro e fora das aldeias”, declara a presidente da Abix.
Curadoria
Com uma curadoria focada em produções que retratam a vida, os costumes, as lutas e as histórias dos povos indígenas, o Cine Xerente se propõe a ser uma janela para o mundo através da perspectiva dos próprios indígenas. De acordo com a curadora da Mostra, a cineasta Mariah Soares, o “Cine Xerente” visa não apenas a difusão cultural, mas também fortalecer o reconhecimento de seus patrimônios materiais e imateriais.
Oficina
Além da mostra de filmes, o projeto Cine Xerente incluiu ainda oficinas de produção audiovisual utilizando celulares. A capacitação aconteceu ao longo do mês de Maio e beneficiou cerca de 20 pessoas da comunidade. A oficina de produção audiovisual é uma iniciativa pioneira que busca proporcionar aos participantes conhecimentos práticos sobre filmagem, edição e publicação de vídeos utilizando apenas celulares.
A metodologia da primeira etapa de oficina incluiu roda de conversa sobre Comunicação Vinculativa e Não Violenta com a produtora executiva e Mestre em Comunicação Andrea Lopes e também de técnicas para produção de vídeos sobre captação de imagem e som, edição de vídeos, criação de roteiros e estratégias de divulgação nas redes sociais com o produtor audiovisual Ramon Dias. Já na segunda etapa a mestre em cinema indígena Mariah Soares apresentou referências de filmes e uma linha do tempo da produção cinematográfica tendo indígenas na frente e atrás das câmeras. “Mostrei a linha do tempo sobre a representação do indígena no cinema brasileiro, que ao longo da história mostrou o indígena, ora romântico, exótico, além de outros esteriótipos. Neste contexto surge o cinema indígena no processo de descolonização do Terceiro cinema, quando o indígena assume o protagonismo produzindo seus próprios filmes. O projeto Vídeo nas aldeias é um exemplo dessa virada de chave”, afirmou Mariah.
Na parte práticas os participantes aprenderam a editar e finalizar os vídeos com celulares e o resultado será exibido na Mostra.
Patrocínio
O projeto Cine Xerente: Olhares Indígenas na Grande Tela é uma realização da Abix com patrocínio do edital 023/ Audiovisual Tocantins, da Lei Paulo Gustavo, via Secretaria Estadual de Cultura do Tocantins. O “CineXerente” também conta com a colaboração da Secretaria Estadual da Pesca e Aquicultura.
Sobre a ABIX
A Abix é uma associação de Brigadistas indígenas da Terra Indígena Xerente e Funil, composta atualmente por 74 brigadistas, homens e mulheres do povo Xerente. A entidade foi criada em 2014 e atua desde então em parceria com o Ibama, a Funai e outras entidades estaduais e municipais. Desde sua criação, a ABIX tem empreendido esforços para o combate ostensivo das queimadas que são muito frequentes na região e também em projetos de empoderamento aos povos indígenas em áreas como agricultura, agroecologia e cultura.