Prova de Escola Estadual causa polêmica ao abordar temas como ereção e menstruação

A Escola Estadual Professor João Alves Batista em Araguaína se envolveu em uma grande polêmica após a aplicação de uma atividade avaliativa para alunos do 8º ano, esses estudantes são pré-adolescentes e têm em média 13 anos de idade. A prova com conteúdo voltado para educação sexual foi realizada dentro da disciplina de ciências.

Foi o conteúdo das questões que causou a polêmica. As perguntas estavam relacionadas a menstruação, ereção, relacionamentos amorosos e métodos contraceptivos. A atividade também causou revolta na Câmara de Vereadores de Araguaína. O vereador Terciliano Gomes usou a tribuna para dizer que ficou indignado com o teor da atividade.

“Não estou criticando a abordagem técnica da ciência. São situações que ao meu ver não são conteúdo para uma criança, de 10, 12, 13 anos e isso foi colocado em uma escola da rede pública. Ou nós teremos um posicionamento para defender o posicionamento da instituição família em determinadas questões, ou nós vamos nos calar e depois vamos estar arrependidos amargamente”, pontuou.
O vereador chamou a atenção sobre os enunciados das questões, que são diferentes para meninos e meninas e dizem o seguinte:

Anúncio no meio do texto

1- “MENINAS, nesse momento você está sendo convocada a entrar no mundo masculino e todos os seus desafios. Leia cada texto, instrução e responda as perguntas abaixo como se MENINO você fosse”.

2- “MENINOS, nesse momento você está sendo convocado a entrar no mundo feminino e todos os nossos desafios. Leia cada texto, instrução e responda as perguntas abaixo como se MENINA você fosse”.

É uma aberração! Nós precisamos preparar um documento acerca desta temática e se for preciso, encaminhar para a secretaria de Educação. Nós estamos tratando das nossas crianças”.

O vereador Ygor Cortez também se posicionou contrário a atividade dentro da grade curricular de uma escola pública. “Isso não condiz a nenhum professor passar para um aluno. Isso é uma aberração curricular, isso não é atividade escolar. É preciso identificar o professor e penalizar o mesmo”, vereador Ygor Cortez.

O Jornal Primeira Página teve acesso a prova que foi aplicada para os alunos e procurou especialistas em educação para discutir os problemas envolvendo esse tipo de conteúdo nas escolas.

Enunciado – meninos no lugar de meninas e meninas no lugar de meninos

A primeira questão que provoca estranhamento na prova é o pedido para que os alunos pensem como se fossem do gênero oposto, ou seja os meninos deveriam tomar decisões como se fossem meninas e as meninas deveriam tomar decisões como se fossem meninos.

A psicóloga Katherine Lima explica que dentro da psicologia social é trabalhado o conceito de empatia e que essa pode ter sido a motivação da professora que elaborou os enunciados. “O que é a empatia? É a capacidade de me colocar no lugar do outro. É claro, a empatia é um conceito que pode ser trabalhado com crianças e adolescentes, mas é preciso ter parcimônia nas situações que vão ajudar a formar esse conceito nos jovens”, afirma.

Questionada se esse tipo de atividade pode interferir na identificação do aluno com seu sexo biológico e sua identidade de gênero, a especialista descarta a possibilidade. “Saber me colocar no lugar do outro é importante para pensarmos no coletivo, em solidariedade. Mas não será a capacidade de ser empático que vai modificar quem eu sou. Quero usar um exemplo, uma pessoa vegana que não come ou usa nada de origem animal tem empatia por outros seres vivos. Não é por isso que essa pessoa vegana vai sentir que não é mais uma pessoa e sim um animal”, exemplifica.

Relacionamentos amorosos e ereção

Em uma página inteira, a prova aplicada para os alunos do 8º ano tratou de temas voltados para ereção e relacionamento. A atividade começa informando aos estudantes que o mundo está repleto de estímulos sexuais, o enunciado também explica as condições anatômicas do corpo masculino que possibilitam uma ereção.

Na opinião do doutor em educação Atos Maurício Oliveira os problemas começam quando as questões envolvem situações de relacionamento. Uma das perguntas por exemplo diz o seguinte: “Você está namorando em um canto escondido com aquela garota que você demorou conseguir chegar. Porém, ela que é bem mais nova, se chateia com você, pois percebe seu pênis ereto. Como explicar e não perder a confiança dela?”.

O nosso papel como educador é o de fornecer ao estudante as habilidades necessárias para saber discernir o certo do errado. Mas foge do meu controle, determinar situações sociais para esse jovem. Sem uma decisão prévia curricular eu não posso entrar nessa seara”, afirma.

A advogada Marcela Costa lembra ainda que no Brasil é proibido qualquer tipo de relacionamento envolvendo menores de 14 anos de idade. “Essa questão é muito problemática. Se estamos falando de alunos de 13 anos e a menina é bem mais nova, não deveria existir a hipótese de um relacionamento amoroso. Criança não namora. Para a legislação também não importa se ambos os envolvidos são menores de idade”, pontua.

O doutor em educação explica qual deve ser o papel da educação sexual dentro da atividade escolar. “Eu não tenho que falar sobre a possibilidade ou relacionamentos amorosos envolvendo alunos. Meu papel como educador é por exemplo mostrar para essas crianças o que pode ser considerado um toque inapropriado, uma situação de abuso. É mostrar para esse aluno como se proteger de infecções sexualmente transmissíveis, de predadores sexuais. Eu não estou na sala de aula para incentivar qualquer tipo de prática”.

Meninos, menstruação e absorventes

Em outra parte da atividade escolar, os meninos são cobrados sobre conhecimentos envolvendo a menstruação. Apesar do fluxo menstrual ser uma condição biológica exclusivamente das mulheres, os alunos tiveram um tutorial com o passo a passo de como usar um absorvente.

O pai de um dos estudantes que fez a prova e prefere não se identificar disse que ficou confuso com todas essas atividades.

“Eu realmente não sei o que pensar. Não sei se está correto tratar desses assuntos com meu filho agora. Eu sei que tenho o dever de ensiná-lo, mas eu preciso sentir que ele está preparado. Por exemplo, qual é a finalidade do meu garoto saber usar um absorvente? O que isso vai agregar na vida dele hoje?”, questiona.

A professora pode até ter tido uma boa intenção. Mas na minha visão superficial, que só viu a prova e não acompanhou as aulas, houve falta de planejamento e sinergia com a coordenação pedagógica, com o currículo escolar. Situações assim precisam ser discutidas por vários profissionais, ensinar educação sexual demanda tempo, dedicação e planejamento”, aponta Atos.

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