SINOPSE é a nova coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!
Na última sexta-feira (12), tive o prazer de assistir à estreia de “A Flor do Buriti”, no Cine Cultura Palmas. A exibição contou com a presença dos diretores João Salaviza e Renée Nader, além da equipe de produção e atores. O longa-metragem é um potente retrato da resistência do povo indígena Krahô, situado no norte do Tocantins. Premiado no Festival de Cinema de Cannes, o filme narra a história da comunidade Krahô, focando em eventos marcantes como o massacre de 1940 e o recrutamento forçado de jovens indígenas para unidades militares durante a ditadura brasileira em 1969. A coprodução luso-brasileira combina elementos de ficção, documentário e narrativas indígenas para oferecer um olhar profundo sobre a luta contínua dos Krahô pela preservação de suas terras e tradições.
Filmado ao longo de 15 meses, “A Flor do Buriti” é resultado de uma colaboração estreita entre os diretores e a comunidade da aldeia Pedra Branca. Esta parceria é evidente na autenticidade das performances e na profundidade das histórias apresentadas. A trama se desenrola em três épocas distintas, cada uma ilustrando as diferentes formas de resistência do povo Krahô: o massacre de 1940, a coerção para integrar unidades militares em 1969 e a luta atual contra as invasões de terras promovidas pelo agronegócio durante o governo Bolsonaro. Essa estrutura não linear é um dos aspectos mais marcantes do filme, pois reflete a complexidade das narrativas indígenas.
A obra mistura elementos lúdicos, ficcionais e reais para apresentar um panorama das múltiplas lutas enfrentadas pelos Krahô. Esta abordagem não convencional pode parecer complexa para espectadores não familiarizados com as narrativas indígenas, mas abre possibilidades para uma maior compreensão da pluralidade de pontos de vista. A produção é notável pela sua estética visual e sonora. Filmado em película 16mm, o filme utiliza sons diegéticos como trilha sonora, criando uma imersão profunda na realidade da comunidade Krahô. A direção de fotografia utiliza cores vibrantes e planos fechados para intensificar a sensação de intimidade com os personagens. A direção de arte, por sua vez, faz uso criativo das limitações da locação, muitas vezes deixando as conclusões de cena para a subjetividade do espectador.
O longa-metragem destaca a importância da ancestralidade e das tradições na luta dos Krahô. Canções, rituais e vestimentas são elementos recorrentes que mostram o respeito da comunidade pelos seus antepassados. No entanto, longe de serem vistos como pessoas presas no tempo, os Krahô utilizam essas tradições como uma fonte de força para lutar por melhorias para a comunidade e para as gerações futuras. “A Flor do Buriti” é um longa politicamente urgente, que denuncia a invasão de terras indígenas e as atrocidades cometidas contra os Krahô. A narrativa entrelaça passado e presente para reforçar a perpetuidade dos crimes cometidos contra os povos indígenas no nosso país.
”A Flor do Buriti” triunfa ao integrar corpos indígenas no cinema. A presença de Ilda Patpro Krahô como assistente de produção e coautora do argumento, junto com a participação de outros membros da comunidade Krahô na equipe de roteiro, confere ao filme uma autenticidade rara. O resultado é algo orgânico e profundamente enraizado na realidade indígena. É uma obra que merece – e precisa – ser vista, não apenas pela sua importância histórica e política, mas também pela sua contribuição para a preservação e divulgação das vozes dos povos originários do Brasil.
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