EDITORIAL: a censura da imprensa pela Ordem dos Ministros Evangélicos de Palmas

Tradição e credibilidade são marcas que acompanham o jornalismo que fazemos desde 10 de novembro de 1985, quando o Jornal Primeira Página foi criado na época em que o Tocantins ainda era parte do estado de Goiás. E foi justamente no ano em que terminou a ditadura militar no Brasil, que a nossa fundadora – a jornalista e advogada Sandra Miranda, então com 20 anos de idade, deu início à sua jornada pioneira e corajosa.

E por falar em coragem, outra característica de nossa atuação, é que não podemos nos calar diante do ocorrido na última sexta-feira, 02 de fevereiro de 2024, quando o Jornal Primeira Página foi alvo de ataques da OMEP – Ordem dos Ministros Evangélicos de Palmas, a partir da publicação da reportagem “Palmas tem mais igrejas que escolas e hospitais somados juntos”.

Destaca-se que a reportagem, assinada pelo jornalista Rafael Miranda, foi divulgada no mesmo dia em que o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) apresentou dados inéditos a respeito do perfil dos endereçamentos dos municípios no Brasil. O instituto informou recortes do Censo 2022 sobre a quantidade de comércios, obras, prédios públicos, escolas, hospitais e igrejas e templos religiosos por todo o país.

Assim como revelado por outras dezenas de reportagens que saíram naquele dia, a imprensa brasileira destacou o fato de que existem muitas cidades no país onde o número de igrejas e templos é muito superior à quantidade de unidades educacionais e de saúde. A nível nacional, são 579.700 templos e 511.900 hospitais e escolas.

Em Palmas, como informado na matéria publicada, são 919 igrejas contra 558 escolas e hospitais somados juntos. Certamente, o cenário que salta aos olhos é justamente a falta de atendimento à saúde e ensino para o cidadão, algo que passou despercebido aos olhos da Ordem dos Ministros Evangélicos de Palmas.

Dessa forma, ancorada nas fontes oficiais e abastecida com dados extraídos de um grandiosíssimo instituto deste país, que é o IBGE, a reportagem do Jornal Primeira Página apresentou somente dados, sem fazer qualquer juízo de valor à interpretação das informações dispostas.

A nota assinada pelo presidente da Ordem, o apóstolo Sebastião Tertuliano, aponta indubitavelmente para uma tentativa de censura ao trabalho da imprensa. Sem coesão, a OMEP afirmou que o Jornal Primeira Página “criticou as igrejas” e pediu ainda uma revisão de nossa “abordagem jornalística”, que segundo ele, não promove imparcialidade.

Por fim, fomos amparados pela Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins (Sindjor-TO), que manifestam repúdio à nota emitida pela OMEP através de um posicionamento firme, como deve acontecer mediante avanços contra a liberdade de imprensa.

Restam os seguintes questionamentos: se a reportagem apenas apresentou dados oficiais de fontes públicas, sem fazer juízo de valor, qual foi o problema que chamou a atenção da OMEP no comparativo dos números? Além disso, por que a Ordem dos Ministros Evangélicos, ao invés de atacar a imprensa, não aproveitou para cobrar das autoridades mais escolas e hospitais para a população?

Também se questiona o fato de que somente a OMEP se manifestou contrária à reportagem veiculada pelo Jornal Primeira Página, e nenhuma outra entidade que representa a riqueza de nossas matrizes religiosas sentiu-se incomodada com os dados apresentados.

O Jornalismo vive!

NOTA DE REPÚDIO

A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins (Sindjor-TO) manifestam repúdio à nota emitida pela OMEP – Ordem dos Ministros Evangélicos de Palmas – TO, referente à matéria jornalística do Jornal Primeira Página do dia 02 de fevereiro de 2024, escrita pelo jornalista Rafael Miranda e intitulada “Palmas tem mais igrejas que escolas e hospitais somados juntos”.

Tal posicionamento da Ordem, assinado pelo seu presidente, Sebastião Tertuliano, denota uma tentativa de censura e limitação à liberdade de imprensa, ferindo princípios democráticos essenciais. É imperativo ressaltar que a reportagem em questão foi embasada em dados oficiais do IBGE, o que confere legitimidade ao seu conteúdo.

O jornalista cumpriu seu dever de informar a sociedade sobre uma realidade concreta, utilizando-se de fontes confiáveis e pautando-se pela ética jornalística. A liberdade de expressão e o direito à informação são garantias fundamentais em uma sociedade democrática, e qualquer tentativa de cerceá-los deve ser firmemente repudiada.

A imprensa desempenha um papel crucial na fiscalização do poder e na promoção do debate público, e é inadmissível que seja alvo de intimidação ou retaliação por parte de entidades religiosas ou quaisquer outras.

Instamos a Ordem dos Ministros Evangélicos de Palmas a rever sua postura e a reconhecer a importância do jornalismo na construção de uma sociedade mais justa e transparente. Reiteramos nosso apoio ao jornalista Rafael Miranda e à equipe do Jornal Primeira Página, e estaremos atentos para garantir que casos como este não se repitam, preservando assim os princípios democráticos e a liberdade de imprensa em nosso estado.

Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins – Sindjor-TO

Federação Nacional dos Jornalistas- FENAJ