Na manhã desta terça-feira, 15, a Polícia Civil do Tocantins cumpriu 14 mandados de busca e apreensão contra cinco policiais militares e um guarda metropolitano suspeitos de simular uma troca de tiros que resultou na morte de Jaimeson Alves da Rocha, de 35 anos, ocorrida em junho deste ano no Jardim Aureny III, região sul de Palmas.
A operação foi realizada pela 1ª Divisão de Homicídios e Proteção à Pessoa (DHPP – Palmas), que chegou a solicitar a prisão preventiva dos alvos, porém, teve o pedido negado pela Justiça. Os suspeitos do caso foram afastados de suas funções e foi determinado o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica.
Conheça os envolvidos
Wanderley da Silva Junior – Subtenente que ingressou na Polícia Militar em 2006. No dia do homicídio, concedeu entrevista à imprensa local comentando sobre a morte de Jaimeson e a suposta troca de tiros, que agora foi apontada como forjada pelas investigações.
Lilton Pinto Cardoso Lima – Cabo da PM desde 2014, possui dois processos judiciais por homicídio registrados em 2017 e 2018.
Adeone Antônio Bernardo de Jesus – Cabo da área de Inteligência e que ingressou na Polícia Militar em 2014.
Willian Tiago Lopes – Soldado que entrou para a corporação no último concurso, realizado em 2022.
Danilo Henrique Rocha Filgueiras – Soldado também ingressado em concurso no ano de 2022.
Os dois soldados recém-ingressos (Willian e Danilo) são suspeitos de participarem de um “ritual de batismo” na morte de Jaimeson, após concluírem um curso da Rondas Ostensivas Táticas Metropolitana (Rotam).
Emanuel Portinari Ferreira Lima – Guarda Metropolitano da Prefeitura de Palmas, envolvido anteriormente na operação “Tiro no Pé” da Polícia Federal em 2019, que investigou o uso de documentos falsos para aquisição de armas de fogo.
Detalhes da Operação
Segundo a Secretaria de Segurança Pública do Tocantins, o grupo teria forjado a troca de tiros para justificar a execução de Jaimeson. Os policiais teriam plantado uma arma próximo à vítima para simular um confronto.
O material coletado e os depoimentos de testemunhas não sustentam a versão apresentada pelos policiais e pelo guarda metropolitano. A Justiça determinou o afastamento dos envolvidos de suas funções, a proibição do porte de armas, o acesso às dependências do quartel e o uso obrigatório de tornozeleira eletrônica.
O Caso
Imagens de câmeras de segurança mostram Jaimeson chegando a uma oficina mecânica no dia 19 de junho deste ano para consertar sua motocicleta com vazamento de óleo. Enquanto o mecânico inicia o serviço na calçada, Jaimeson entra no estabelecimento.
Poucos minutos depois, três policiais da Rotam, os mais antigos da corporação, chegam ao local e pedem para que o mecânico saia, adentrando a oficina.
A proprietária é solicitada a se retirar e, antes de sair, observa Jaimeson sendo revistado, com as mãos para o alto. Na saída, ela foi abordada por Emanuel Portinari, que faz questionamentos sobre a vítima. Em seguida, ela ouve disparos e corre.
Um policial da inteligência do Batalhão de Choque acompanha a operação, sendo visto nas imagens passando em frente à oficina em veículo descaracterizado antes da chegada dos demais militares.
Testemunhas relataram um intervalo significativo entre dois blocos de disparos, sugerindo que os primeiros atingiram Jaimeson e os seguintes foram para simular um confronto. A perícia encontrou projéteis na parede correspondentes aos tiros supostamente disparados pela vítima.
O laudo cadavérico indica que Jaimeson foi atingido por dois tiros no tórax e um no ombro. A arma encontrada próxima ao corpo foi analisada e constatou-se que o contato de Jaimeson com ela foi forçado, já sem vida. DNA de outras duas pessoas foi encontrado na arma, reforçando a hipótese de que foi plantada na cena do crime.
Sobre a vítima
As investigações apontaram ainda que Jaimeson estava sendo monitorado pelos policiais e pelo guarda metropolitano antes de sua morte. Eles teriam coletado informações sobre sua rotina e localização.
Em dezembro de 2023, Jaimeson foi abordado em uma ação policial que resultou em um desentendimento e luta corporal, durante a qual ele agrediu um policial e foi baleado na região pélvica.
O episódio foi filmado por moradores e divulgado nas redes sociais. Após receber atendimento médico, Jaimeson foi preso e permaneceu detido até os primeiros meses do ano.
Nota
O Jornal Primeira Página solicitou uma nota da Polícia Militar do Tocantins e aguarda retorno. Espaço segue aberto para manifestação.