SINOPSE – “Wicked”: A grata surpresa que encanta além das expectativas

SINOPSE é a coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!

Assistir a “Wicked” foi como embarcar em um balão mágico rumo a um espetáculo grandioso. Eu já sabia que encontraria uma superprodução repleta de figurinos deslumbrantes, coreografias bem ensaiadas e vozes impecáveis, mas o que me impactou mesmo foi a carga emocional e a relevância do enredo. Não seria exagero dizer que o filme me foi uma grata surpresa. Muito além de um musical visualmente encantador, “Wicked” se revela uma fábula contemporânea sobre identidade, preconceito e a superficialidade das aparências. A história nos leva de volta ao universo de Oz, mas agora, sob uma nova perspectiva. Conhecemos Elphaba (Cynthia Erivo, magnífica), a temida Bruxa Má do Oeste, e Glinda (Ariana Grande, carismática e afiada), a Bruxa Boa. No entanto, antes de se tornarem os ícones conhecidos do imaginário popular, elas são apenas jovens estudantes na Universidade de Shiz. É como embarcar em um coming-of-age que subverte as idealizações.

O longa, baseado no musical da Broadway e inspirado no livro de Gregory Maguire, ganha vida sob a direção de Jon M. Chu, que já demonstrou sua maestria em narrativas musicais com “Podres de Ricos” e “Em um Bairro de Nova York”. Desde o primeiro ato, fica claro que a produção aposta na grandiosidade dos cenários e nos efeitos visuais exuberantes, destacando-se o uso inteligente das cores – o verde de Elphaba contrastando com o rosa de Glinda é um detalhe visual que reforça suas personalidades opostas. A direção de arte e a fotografia de Alice Brooks contribuem para criar um Oz que parece saído de um sonho, mas que, por trás do brilho, esconde verdades incômodas. E é aí que “Wicked” encontra sua força: na dualidade entre fantasia e crítica social. A obra nos traz um recorte de gênero e raça que se mantém constante por toda a produção, remetendo a questões da mulheridade negra e como estas são constantemente preteridas.

No início, o filme poderia seguir pelo caminho convencional do bullying e do preconceito explícito, mas opta por uma abordagem mais complexa, envolvendo poder, gênero e raça. A escolha de Cynthia Erivo para o papel eleva essa discussão, e sua performance transmite uma gama impressionante de emoções – há dor, resistência e uma vulnerabilidade latente que fazem da personagem uma das mais humanas da trama. Do outro lado, Glinda começa como a típica garota popular e superficial, mas a interpretação de Ariana Grande adiciona nuances à personagem. Sua jornada de amadurecimento acontece aos poucos, e a relação entre as duas protagonistas se torna o verdadeiro coração da história. A amizade entre Elphaba e Glinda oscila entre cumplicidade e rivalidade, levando a momentos de grande impacto emocional, especialmente quando percebemos que a sociedade impõe rótulos rígidos que as forçam a seguir caminhos opostos.

Musicalmente, “Wicked” brilha, o diretor consegue transpor o teatro musical para o cinema de forma fascinante. As canções são executadas com primor, e cada número musical é um espetáculo. Eu sei, o excesso de músicas pode tornar o ritmo um pouco arrastado para quem não está familiarizado com o gênero, mas, felizmente, as coreografias e a energia do elenco ajudam a manter a dinâmica envolvente. “Wicked” se destaca como um excelente musical, não o melhor ou maior do ano, mas algo que vai além das expectativas. Consegue ser grandioso sem perder sua essência, mágico sem ignorar as complexidades da realidade. É um filme que celebra a diferença, questiona a superficialidade e nos lembra que toda história tem dois lados. Com um elenco afiado, direção competente e uma estética luxuosa, a produção estabelece um novo padrão para adaptações de musicais no cinema. E se essa é apenas a primeira parte, já estou ansiosa para o que virá no final de 2025.

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