SINOPSE – Motel Destino: tensão, desejo e violência no Ceará de Karim Aïnouz

SINOPSE é a coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!

Karim Aïnouz é, sem dúvidas, o cineasta cearense de maior renome da atualidade. Conhecido por explorar histórias de identidade, desejo e pertencimento em suas obras, como nos aclamados “Madame Satã” (2002), “O Céu de Suely” (2006) e “A Vida Invisível” (2019), o diretor agora nos presenteia com Motel Destino, um filme que mistura erotismo, violência e crítica social em um cenário de sufocantes cores neon. Uma obra que confirma sua habilidade de criar narrativas intensas e ambientes viscerais. Aïnouz, mesmo após realizar projetos fora de sua terra natal, mostra que é no Ceará que seu cinema se expande e ganha ainda mais força, trazendo um universo estético e narrativo que é ao mesmo tempo familiar e inovador.

A história segue Heraldo, interpretado por Iago Xavier que, após um assalto mal-sucedido, se refugia no Motel Destino, onde começa a trabalhar como faz-tudo em troca de abrigo. O motel é administrado por Elias (Fabio Assunção), um homem bruto e conservador, e sua esposa Dayana (Nataly Rocha), uma mulher misteriosa e cheia de desejos reprimidos. A dinâmica entre o trio é marcada por uma tensão sexual latente oscilando entre a cumplicidade e o perigo. A narrativa se desenrola com uma crescente tensão, onde se constrói um jogo de poder e submissão dentro das paredes do motel. Dayana enxerga em Heraldo uma possibilidade de fuga da opressão de seu marido, enquanto Heraldo vê em Dayana uma mulher que ele precisa salvar, ao mesmo tempo em que lida com o constante perigo representado por Elias.

Motel Destino é vibrante, pulsante e profundamente exagerado, no melhor sentido possível. A estética do filme é marcada por cores saturadas, criando um ambiente ao mesmo tempo fascinante e perturbador. O cenário do motel, localizado em uma beira de estrada no litoral cearense, é hipnotizante. Suas paredes iluminadas por tons de rosa e verde evocam uma atmosfera de constante tensão, onde o desejo e o perigo caminham lado a lado. A cinematografia é espetacular, criando uma experiência visual que reflete os estados emocionais dos personagens e suas pulsões mais profundas. O motel se torna um espaço ao mesmo tempo de refúgio e de prisão, onde a violência e o erotismo se misturam de maneira explosiva.
O filme lida com o erotismo de forma natural e direta, sem estilizações artificiais ou pudores.

O sexo é parte integrante da vida cotidiana dos personagens, tanto devido ao cenário em que se encontram, quanto às suas próprias psiquês. O diretor nos faz mergulhar em um universo onde o prazer carnal é apenas mais uma das manifestações de poder e vulnerabilidade. A tensão sexual que permeia o triângulo amoroso entre Heraldo, Dayana e Elias é palpável e aumenta conforme a narrativa avança, com Aïnouz brincando com as expectativas do público. É uma experiência cinematográfica ousada, que, além de entreter, desafia as normas sociais e confronta nossa percepção de desejo, poder e moralidade.

Motel Destino é uma obra que explora os extremos da natureza humana. Aïnouz nos entrega um filme denso, cheio de camadas e significados, que vai muito além de uma simples história de fuga ou de um triângulo amoroso. É uma crítica afiada a uma sociedade repressiva e hipócrita, ao mesmo tempo em que é um estudo sobre o desejo, o poder e a liberdade. Karim nos confronta questionando o desconforto que cenas de sexo ainda causam no público em comparação à aceitação da violência.

Explorando o prazer e o desejo de forma crua, sem filtros, enquanto nos faz refletir por que nos sentimos mais à vontade com a brutalidade do que com a intimidade. Uma obra visualmente deslumbrante e tematicamente poderosa que reafirma Karim Aïnouz como um dos diretores mais importantes do cinema brasileiro contemporâneo.

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