SINOPSE – “É assim que acaba”: Um filme que falha na abordagem de temas delicados

SINOPSE é a coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!

Adaptações cinematográficas de grandes sucessos literários sempre geram expectativas elevadas e discussões intensas. “É Assim Que Acaba”, baseado no livro homônimo de Colleen Hoover, é um exemplo perfeito dessa dinâmica. O romance, que se tornou um fenômeno no TikTok e vendeu mais de um milhão de cópias apenas no Brasil, conquistou uma legião de fãs que aguardava ansiosamente por sua versão cinematográfica. No entanto, apesar de sua fidelidade ao material original, o filme dirigido por Justin Baldoni falha em explorar de maneira profunda os temas delicados que aborda.

A história segue Lily Bloom, interpretada por Blake Lively, uma mulher marcada por traumas do passado que decide começar uma nova vida em Boston, onde realiza o sonho de abrir sua própria floricultura. Ao conhecer Ryle Kincaid, um neurocirurgião charmoso e bem-sucedido vivido por Justin Baldoni, Lily se envolve em um relacionamento que, à primeira vista, parece ser a realização de seus sonhos. No entanto, à medida que o romance avança, Ryle revela um lado sombrio e violento, lembrando Lily do relacionamento abusivo que presenciou entre seus pais. A trama se complica ainda mais com o aparecimento de Atlas Corrigan (Brandon Sklenar), o primeiro amor de Lily, que ressurge para desafiar suas escolhas e emoções.

Um dos aspectos mais problemáticos da adaptação é a maneira como a violência doméstica é tratada. A abordagem é superficial e, em muitos momentos, ingênua. A narrativa parece sugerir que a violência é uma questão que pode ser resolvida por meio de escolhas individuais, sem considerar as estruturas sociais e culturais que perpetuam esses comportamentos. Ryle não é apresentado como um homem transformado pela toxicidade da masculinidade, mas como alguém que simplesmente se permite ser violento por conta de sua posição privilegiada. Esse tratamento raso não apenas simplifica a complexidade do problema, mas também desconsidera as raízes mais profundas da violência de gênero.

Os clichês narrativos são outro ponto fraco da adaptação. A construção dos personagens segue uma fórmula previsível: o homem poderoso e emocionalmente indisponível que se apaixona pela mulher valorosa, mas que precisa enfrentar seus próprios demônios antes de ceder ao amor. Embora esses clichês possam funcionar em determinadas histórias, em “É Assim Que Acaba” eles se tornam um peso que impede a narrativa de se destacar. Lily, apesar de ser retratada como uma mulher independente e empreendedora, acaba caindo no estereótipo da protagonista que conquista o homem por sua recusa em se submeter a relações casuais. Isso reforça uma visão conservadora e simplista, que não dialoga com as complexidades contemporâneas das relações de gênero.

Além disso, a obra faz uso excessivo de flashbacks para tentar explicar as motivações dos personagens, mas a execução deixa a desejar. A repetição constante desses recursos narrativos torna a trama cansativa e impede o desenvolvimento de uma narrativa mais fluida e envolvente. Os diálogos, muitas vezes expositivos, subestimam a inteligência do espectador, explicando demais o que está acontecendo em vez de permitir que as ações dos personagens falem por si mesmas. E embora a atuação de Blake Lively como Lily Bloom seja convincente, ela não é suficiente para salvar a produção de seus problemas estruturais.

Em resumo, “É Assim Que Acaba” é uma adaptação que promete agradar os fãs de Colleen Hoover e fazer sucesso de bilheteria exatamente por sua base fiel de apaixonados, mas corre o risco de ser considerada descartável por quem busca uma narrativa mais profunda e inovadora. O final, inclusive, sugere a possibilidade de uma continuação, mas sem a coragem de ir além do que foi apresentado nesta primeira adaptação, o que resta é uma obra que falha em provocar reflexões mais profundas e que, em muitos aspectos, poderia ter sido muito mais do que é.

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