SINOPSE é a coluna do Jornal Primeira Página assinada por Carolinne Macedo. Tudo sobre os principais lançamentos cinematográficos do mês e um mergulho na sétima arte!
Não se pode negar que “Coringa: Delírio a Dois” é ousado em sua proposta. Afinal, transformar um personagem tão icônico quanto o Coringa em parte de um musical é, no mínimo, uma aposta arriscada. Mas, infelizmente, essa ousadia acaba se perdendo em uma execução arrastada e confusa. Todd Phillips, que no primeiro filme entregou uma obra envolvente, parece não saber muito bem como conduzir um musical. As cenas musicais surgem de maneira abrupta, cortando o clima e impedindo que a tensão natural da narrativa se desenvolva. A tentativa de misturar gêneros não flui, deixando o espectador mais entediado do que impressionado.
A trama, que gira em torno da busca de Arthur Fleck por amor e aceitação, se arrasta. O Coringa só queria amar e ser amado, mas a história nos entrega mais violência brutal sem propósito, mais delírios que não levam a lugar algum, e, no fim, tudo o que o espectador deseja é que o filme acabe logo. A sensação de cansaço é inevitável, à medida que as músicas se tornam uma distração incômoda e o enredo parece não ter muito a dizer além de repetir os dilemas existenciais já apresentados no primeiro filme. A decisão do diretor de decepcionar o público propositalmente pode até parecer uma escolha artística interessante, mas ela não funciona em um blockbuster que custou milhões de dólares.
Logo no início, o filme já revela a sua maior falha: a incapacidade de criar uma conexão entre o drama psicológico de Arthur e os números musicais que, em teoria, deveriam enriquecer a trama. O roteiro de Phillips e Scott Silver, que no primeiro filme explorou com sucesso as nuances psicológicas do personagem, aqui se perde em divagações. A metalinguagem é usada de forma superficial, sem trazer realmente algo de novo para a discussão. O filme tenta mostrar que o Coringa é um produto da sociedade que o criou, há uma tentativa de criar uma crítica ao culto em torno de figuras destrutivas, mas essa reflexão é diluída em cenas de tribunal exageradas e números musicais sem emoção.
Joaquin Phoenix, faz o que pode para segurar a barra, mas nem mesmo sua atuação poderosa consegue salvar o filme de sua própria falta de direção. O ator, mais uma vez, entrega uma performance admirável, explorando novas camadas de um Arthur ainda mais fragmentado e, ironicamente, mais humano. Phoenix continua a ser o coração do filme, e sem ele, a experiência seria praticamente insuportável. Lady Gaga, por outro lado, parece perdida no meio da bagunça. Sua Arlequina não tem a oportunidade de brilhar, e sua presença, que poderia ser o grande diferencial do longa, é subaproveitada. Em vez de ser uma parceira à altura do Coringa, ela é relegada a coadjuvante em um espetáculo que mal a permite mostrar suas capacidades dramáticas e musicais.
No fim, a obra é um experimento que falha em quase todos os aspectos. O que deveria ser um blockbuster impactante, decepciona com uma execução inconsistente. Para quem esperava uma sequência sólida, o resultado é realmente frustrante. Apesar dos momentos de brilho de Phoenix, que mantém o filme minimamente interessante, isso não é o bastante para salvar a obra. Enquanto o primeiro filme gerou debates intensos, “Coringa: Delírio a Dois” sequer merece o título de sequência menos inspirada. Suas mais de duas horas são uma piada de mau gosto que faz o espectador perder a conta de quantas vezes revirou os olhos. Felizmente, pelo desfecho, parece ser a última. Mas aí eu me pergunto: porque não deixaram quieto?
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