O Setembro Amarelo, movimento de conscientização sobre a prevenção do suicídio criado em 2014 por entidades como o Centro de Valorização da Vida (CVV), chega em 2025 com o tema “Conversar pode mudar vidas”. A campanha, realizada pela primeira vez em 2015, tem como referência o Dia Mundial de Prevenção do Suicídio, em 10 de setembro, e busca estimular o diálogo como forma de acolher quem enfrenta sofrimento emocional.
A iniciativa defende que qualquer pessoa, física ou jurídica, pode participar. Mais do que iluminar locais públicos, a proposta é abrir espaços de conhecimento e conscientização por meio de palestras, debates, simpósios e publicações na imprensa.
Origem e importância do diálogo
Em entrevista ao Jornal Primeira Página, o médico Adalberto Lopes, pós-graduando em psiquiatria, destacou a origem do movimento:
“Vem de lá dos Estados Unidos, na década de 90, quando um jovem […] tinha um carro antigo de cor amarela. Infelizmente, ele partiu de maneira trágica por meio do autoextermínio. E as pessoas que o amavam […] portaram, no momento do enterro, lacinhos amarelos. Daí surgiu a campanha do Setembro Amarelo.”
Segundo Lopes, falar sobre o tema é fundamental:
“Durante muito tempo se pensou que poderia se prevenir ficando-se calado. […] Mas não é assim. É preciso falar sobre isso. […] As trevas se esvanecem quando a gente joga luz nelas.”
O médico destacou que o isolamento é um dos principais sinais de alerta e orientou que amigos e familiares acolham e encaminhem a pessoa a um profissional de saúde:
“Não se sinta responsável por reerguer você mesmo essa pessoa. Apenas perceba, acolha e encaminhe […] porque, na tentativa de ajudar sozinho, pode ser que a gente machuque ainda mais.”
Sobre a escuta ativa, Lopes reforçou:
“Você ouve muito e fala pouco, porque qualquer coisa, naquele momento, pode soar mal, pode machucar. […] Hoje, nós vivemos numa sociedade muito corrida, todo mundo fala muito, mas quase ninguém ouve.”
Em mensagem final, alertou:
“Não deixe para amanhã. Se você está percebendo sinais e sintomas de sofrimento em alguém próximo, não hesite. […] É melhor a gente se arrepender de levar uma cortada da pessoa do que, por exemplo, algo acontecer e a gente ficar com a sensação de que poderia ter feito e não fez.”
Papel da mídia e das instituições
A professora de jornalismo da Universidade Federal do Tocantins, Ingrid Pereira de Assis, analisou o tratamento do tema pela imprensa:
“Para o jornalismo, esse tema foi um tabu durante muito tempo. […] Depois, isso foi sendo repensado porque surgiu uma nova perspectiva social sobre a questão do suicídio, que é: precisamos falar sobre saúde mental, precisamos falar sobre as pessoas que se sentem vulneráveis.”
Ela defendeu que as coberturas devem ser responsáveis, sem sensacionalismo:
“A gente precisa mostrar os diferentes pontos, tentar conscientizar a respeito, tentar fazer matérias socialmente relevantes e responsáveis. Isso significa também tomar cuidado com materiais que explicitam detalhes que não precisariam explicitar.”
Ingrid também destacou a importância do acesso ao acompanhamento psicológico:
“O acompanhamento psicológico ainda é muito elitista no Brasil. […] As instituições deveriam trazer isso para todos os alunos, professores e servidores. […] Isso seria o ideal.”
Voz dos estudantes
Um estudante universitário, que preferiu não se identificar, relatou a dificuldade de reconhecer sinais:
“É muito difícil saber quando a pessoa está planejando se matar. Elas são muito boas em esconder o quão mal estão. […] Mas, na maioria dos casos que passaram por mim, o que acontece geralmente são surtos momentâneos que fazem elas consumarem o ato.”
Ele também relacionou a prevenção a condições estruturais:
“Alimentação, moradia, emprego e saúde dignos são os pilares para prevenir muitos dos males que acarretam em mortes, tanto as auto infligidas quanto as terceirizadas.”
O Setembro Amarelo reforça que abrir espaços de diálogo e escuta é essencial para acolher quem enfrenta sofrimento e reduzir os riscos relacionados ao suicídio. A campanha lembra que ninguém precisa enfrentar o sofrimento sozinho. Procurar ajuda de profissionais de saúde, conversar com amigos e familiares ou buscar apoio em iniciativas como o CVV pode fazer diferença. Falar sobre saúde mental e pedir ajuda são passos importantes de cuidado e coragem.
Canais de ajuda
CVV – Centro de Valorização da Vida
Telefone: 188 (ligação gratuita, disponível 24 horas por dia, todos os dias da semana)
Site: cvv.org.br
Atendimento também por chat
App Miga: Apoio emocional e autocuidado para mulheres
Samu – Serviço de Atendimento Móvel de Urgência
Telefone: 192 (em caso de emergência médica).
Unidades Básicas de Saúde (UBS)
Atendimento psicológico e psiquiátrico podem ser buscados pelo SUS.
UPA – Unidade de Pronto Atendimento
Atendimento de urgência em saúde mental, disponível em várias cidades.