A professora da rede municipal de Palmas Gilvânia Rosa lançou sua primeira obra literária infantil, Hulk Dufe, que mistura narrativa de contos com ilustrações em estilo mangá. A publicação nasceu do desejo da autora de compreender e enfrentar a dificuldade de leitura observada entre seus alunos, fenômeno que considera cada vez mais comum nas escolas.
“Falamos muito em formação do leitor, mas cada vez mais nossos estudantes leem menos. Pensei que, se eu escrevesse uma história interessante, que acrescentasse valores e informações, e utilizasse um estilo de ilustração mais contemporâneo, talvez conseguisse prender a atenção das crianças”, afirmou a professora em entrevista ao Jornal Primeira Página.
Inspiração pessoal e trajetória
Natural de Minas Gerais, Gilvânia conta que a poesia sempre esteve presente em sua vida. O gosto pela leitura começou ainda na infância, quando o pai lia histórias para ela e seus irmãos. Durante a pandemia de Covid-19, em casa com os filhos Roger e Cauê, foi introduzida ao universo dos animes e mangás.
“Encantei-me com esse universo, porque embora pareça infantil, trabalha valores importantes, desmitifica a imagem do herói e nos coloca em contato direto com nossas emoções. É impossível não se identificar com alguns personagens a partir da nossa humanidade”, disse.
O projeto começou a ser desenhado antes da pandemia, quando a professora ainda trabalhava na ETI Monsenhor Pedro Pereira Piagem. Foram meses de leitura e análise de obras infantis até decidir pelo estilo que uniria enredo e visual mais próximos do público jovem.
História e personagens
A primeira versão da história foi escrita em Minas Gerais, durante uma visita aos pais da autora. A inspiração principal veio de Fefê, filha pequena de seu treinador de corrida, em Uberlândia. A menina se tornou personagem central da trama, ambientada em um universo que mistura referências culturais mineiras e do cerrado tocantinense.
Os personagens foram ilustrados pelo designer gráfico Gabriel Celestino, escolhido após uma longa busca por artistas locais. “Queria alguém da cidade que tivesse o traço de mangá. Gabriel conseguiu dar vida à imagem que eu tinha na cabeça”, contou.
A trilogia terá três volumes: o primeiro, já publicado, é voltado a crianças do 4º e 5º ano do ensino fundamental; o segundo deve acompanhar o crescimento dos personagens e será direcionado a alunos do 7º e 8º ano; e o terceiro, mais denso, terá como público os estudantes do 9º ano.
Além de incentivar o gosto pela leitura, a autora espera que a obra ajude as crianças a refletirem sobre questões emocionais e sociais.
“O enredo aborda temas como bullying, preconceito e medos. Espero que meus pequenos leitores aprendam a superar as diferenças e lidar com suas emoções”, destacou.
Segundo Gilvânia, o estilo mangá contribui para esse processo porque apresenta heróis mais próximos da realidade. “Nos mangás, os personagens são marginalizados, rejeitados, fracassados, têm medo e conhecem a dor. Eles não são idealizados segundo padrões de comportamento e beleza europeia, como muitas vezes acontece na nossa literatura”, explicou.
Publicação e distribuição
A obra foi publicada de forma independente, sem apoio de projetos institucionais ou financiamento público. Parte da tiragem foi doada a escolas municipais, e exemplares estão disponíveis para venda na Livraria Leitura e na Vitória Geek, ambas no Capim Dourado Shopping, além de versões digitais em plataformas como Amazon e Clube de Autores.