MPF e Fundação Vladimir Herzog atuam em defesa do jornalista Ricardo Fernandes após ataques da Prefeitura de Colinas-TO

O jornalista Ricardo Fernandes, diretor do portal Diário Tocantinense, registrou boletim de ocorrência denunciando ataques virtuais, ameaças e ofensas contra ele, sua equipe e familiares, após a publicação de matérias que questionavam a legalidade de pagamentos e condutas da Prefeitura de Colinas do Tocantins.

Boletim de ocorrência

No documento, o jornalista relata que os ataques partiram de um grupo de pessoas ligadas politicamente à gestão municipal, sendo o principal articulador, segundo o registro, John T. Emanuel.

O boletim detalha as seguintes falas e registros:

  • John T. Emanuel liderou as investidas contra o jornalista, com postagens ofensivas e provocativas. Em um comentário no Instagram do Diário Tocantinense, escreveu: “me processa, fofo”, em tom desafiador.

  • Jonathan chamou o jornalista de “mentiroso” e “caluniador”, afirmando publicamente que “o caluniando jornalista Ricardo” estaria inventando fatos contra a gestão.

  • Rafaela Martins Felipe teria participado ativamente da difusão de ataques nas redes sociais.

  • Valdivino Eterno, dono da página Colinas Notícias e atual diretor de gabinete da Secretaria de Finanças, foi citado como apoiador nas ações contra o jornalista.

  • Renato Castro, identificado como aliado político no município, teria feito postagens em defesa da gestão e contra o jornalista.

Ricardo Fernandes afirma que as postagens e vídeos ofensivos “foram direcionadas para atingir sua honra, intimidar e descredibilizar o trabalho jornalístico, causando danos morais e ameaça à liberdade de imprensa”.

O caso está sob investigação na 42ª Delegacia de Polícia Civil.

Denúncia sobre pagamentos

Poucos dias depois, o portal AF Notícias publicou documentos que mostram que o prefeito Josemar Carlos Kasarin (UB) recebeu R$ 144.666,66 sob a rubrica de “rescisão contratual” — classificação inexistente na Lei Orgânica do Município para cargos eletivos.

O valor foi pago em duas parcelas no dia 23 de dezembro de 2024:

  • R$ 98.000,00 — “despesa com rescisão contratual (não faz base previdência)”;

  • R$ 46.666,66 — “despesa com rescisão contratual (base previdência)”.

A matéria destacou que a Lei Orgânica de Colinas prevê apenas o subsídio mensal do prefeito, sem previsão para indenizações trabalhistas típicas da CLT.

Reação do prefeito

Em entrevista e nota enviada à Gazeta do Cerrado, o prefeito Josemar Carlos Kasarin declarou:

“Veio o parecer e a lei, mas eu não autorizei. Sabe quem autorizou, quem modificou a lei no município? Os próprios vereadores da gestão passada, para beneficiar o ex-prefeito. Não é ilegal, tudo é legal.

Eu não pedi para receber nada. Não houve pedido meu, houve um cálculo que veio da Secretaria de Finanças. O então secretário foi exonerado depois disso.

Essa situação é usada pela oposição como malandragem para tentar me desgastar politicamente. A verdade é que todos os atos estão dentro da legalidade e com respaldo na lei municipal aprovada pela Câmara.”

Nota oficial da Prefeitura

Em paralelo, a Prefeitura de Colinas divulgou nota oficial — publicada na íntegra pelo Diário Tocantinense — afirmando que “repudia, com veemência, as informações falsas” sobre suposta irregularidade no pagamento, alegando que os direitos são garantidos pela Constituição Federal (art. 7º, incisos VIII e XVII) e pela Emenda nº 02/2023 da Lei Orgânica Municipal.

Apoio e tramitação do caso

O caso gerou manifestação do Sindicato dos Jornalistas Profissionais no Estado do Tocantins (Sindjor), que enviou nota de solidariedade e encaminhou a denúncia ao Ministério Público. A Federação Nacional dos Jornalistas (Fenaj) também repudiou os ataques e defendeu a liberdade de imprensa.

O Ministério Público Federal (MPF) e a Fundação Vladimir Herzog passaram a acompanhar a situação e oferecer apoio institucional ao jornalista.

O Ministério Público Estadual (MPE) encaminhou o caso para a Promotoria de Justiça de Colinas do Tocantins, mas não se pronunciou publicamente. Mesmo após o encaminhamento, os ataques virtuais continuaram.