Apuração exclusiva do Jornal Primeira Página informa que o estudante de Direito Vitor Gomes Alves de Paula, de 21 anos, que estava dirigindo um carro de luxo em alta velocidade e vitimou Maria Alice Guimarães Silva, de 25 anos, admitiu ter ingerido bebida alcoólica para um agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que atendeu à ocorrência poucos minutos após o acidente em Araguaína-TO, na rodovia BR-153.
A informação consta no depoimento do agente da PRF, Willian Sued Carvalho, ao delegado Charles Marcelo de Arruda, da 5ª Central de Atendimento da Polícia Civil de Araguaína-TO.
O policial rodoviário federal Willian Sued destacou, contudo, que Vitor se recusou a fazer o teste do bafômetro. “Durante os procedimentos, o Vitor, apesar de ter dito à gente na entrevista que tinha ingerido bebida alcoólica, recusou-se a realizar o teste [bafômetro]. Dessa forma, fizemos a condução pela questão do homicídio, já que, avaliando a dinâmica do acidente, viu que ele teria sido o causador do evento.”
Destaca-se que, durante seu depoimento, o agente da PRF Willian Sued afirmou que Vitor não “tinha sinais de embriaguez visíveis para que fosse realizado o Termo de Constatação. Ele estava bem lúcido durante a conversa”, pontuou. (assista o vídeo abaixo)
O Termo de Constatação de Sinais de Embriaguez é um relato oficial feito por agentes de trânsito ou policiais, onde são verificados sinais como hálito etílico, falta de coordenação motora, dificuldade na fala, entre outros aspectos do condutor do veículo.
O motorista Vitor Gomes foi detido em flagrante por homicídio doloso, com dolo eventual, sem possibilidade de fiança, por ter assumido o risco de causar o resultado fatal. Conforme informou o Ministério Público do Tocantins, a Justiça decidiu converter sua prisão em preventiva e ele segue detido na Unidade Penal de Araguaína.
Agentes da PRF relatam possíveis causas do acidente
O acidente que matou Maria Alice Guimarães Silva, mãe de dois filhos, de seis e nove anos, aconteceu às 06h:46min da manhã, conforme imagens de uma câmera de segurança que registraram o carro em alta velocidade e mudando de faixa na rodovia BR-153, em um trecho de pista dupla.
O segundo agente da Polícia Rodoviária Federal (PRF) que prestou depoimento na Polícia Civil e que atendeu à ocorrência do acidente de trânsito junto com Willian Sued foi o colega de farda Elisson Joaquim Correia.
Questionado pelo delegado Charles Marcelo de Arruda sobre as possíveis causas do acidente de trânsito, Elisson destacou: “Pelos indícios, possivelmente [o carro] vinha em alta velocidade e foi mudar de faixa […] e colidiu com a traseira da moto, que seguia o fluxo da via no sentido normal. Provavelmente ele vinha atrás em alta velocidade e, ao tentar mudar, colidiu na moto”, destacou o agente.
Elisson informou também que a vítima, Maria Alice, foi arremessada a uma distância de 20 metros após a batida com o veículo que vinha atrás. Willian Sued, por sua vez, reafirmou também uma possível colisão traseira: “Foi uma colisão traseira, havia marcas de frenagem e fricção, que seria o arrastamento da moto da moça”, destacou.
O local onde ocorreu o acidente tem limite máximo de tráfego de 110 km/h. Contudo, informações da Polícia Civil apontam que o carro que atingiu Maria Alice estava a 200 km/h.
Amigos de longa data voltavam de uma festa; Depoimentos apresentaram informações conflitantes à Polícia
Foram estes dois agentes da PRF que encaminharam à delegacia os três ocupantes que estavam no veículo que atingiu a traseira da motocicleta de Maria Alice: Vitor Gomes (motorista), de 21 anos, Gustavo Fidalgo Vicente (banco da frente), de 20 anos, e Gabriel Yuzo Silva (banco de trás), de 21 anos.
Vitor é estudante de Direito e os dois últimos, estudantes de Medicina em uma faculdade particular em Araguaína. Os três afirmaram ser amigos de longa data e terem estudados juntos quando adolescentes.
O Jornal Primeira Página obteve acesso aos depoimentos dos três que estavam no veículo, uma BMW 230i Sport avaliada em R$ 370 mil. O carro pertence ao pai de Gustavo Fidalgo, conforme oitiva prestada por ele ao delegado responsável pelo caso.
De acordo com os depoimentos prestados à Polícia Civil, os três são amigos de longa data e estavam em uma festa antes do acidente de trânsito. Segundo Gustavo, ele não sabia que Vitor não era habilitado para dirigir.
“O que aconteceu é que eu lembro certamente de ir pro carro [na hora de ir embora], e ele falou: ‘Cara, deixa eu dirigir que é aqui perto’, só que eu conheço ele há muito tempo, e ele dirige um carro normal, então eu sempre achei que ele tinha carteira [de motorista], mas ele também nunca me mostrou. […] Ele falou ‘deixa eu dirigir’ e falei ‘tranquilo, beleza’. Tanto que não vi ele bebendo e nem eu bebi.”
Acidente na BR-153, altura do Km-144
O delegado Charles Marcelo de Arruda, da 5ª Central de Atendimento da Polícia Civil, questionou a dupla Gustavo e Gabriel sobre o fato de o trio de amigos ter se envolvido no acidente na rodovia BR-153, já que havia a informação de que eles se dirigiam, na verdade, para a casa deles, sentido contrário ao local onde ocorreu o acidente.
Ambos, Gustavo e Gabriel, não souberam responder por que o motorista, Vitor, estava na rodovia BR-153. Os dois afirmaram estar dormindo enquanto o colega dirigia.
Consumo de Bebida alcoólica
No depoimento de Gabriel Yuzo Silva, o delegado Charles questionou se alguém do trio estava ingerindo bebidas alcoólicas na festa em que estavam. Gabriel, que estava no banco de trás do carro, foi o único que confirmou ter bebido.
O delegado então o questionou novamente: “Você estava numa festa, você bebeu, mas não viu os colegas beberem? Você não viu o Vitor nem o Gustavo bebendo?”
“Eu bebi, mas como estava de carona, eu fiquei tranquilo, vou embora com o pessoal e estou tranquilo. Eu bebi, estou admitindo, mas o pessoal [Vitor e Gustavo] não fiquei reparando nisso”, respondeu Gabriel.
Em seu depoimento a polícia, Gustavo Fidalgo negou ter consumido bebida alcoólica, e informou ao delegado que Vitor, motorista, também não ingeriu.
Passageiro responde processo por outro acidente fatal ocorrido em 2023
Conforme apurado pelo Jornal Primeira Página, Gabriel Yuzo Silva, que estava no banco de trás do carro neste acidente ocorrido no sábado, 22, responde a um processo judicial por ter matado, em um outro acidente de trânsito em 2023, um motociclista em um cruzamento de uma avenida em Araguaína-TO.