Ao som de canções tradicionais da Comunidade Mumbuca, os estudantes da Escola Estadual Silvério Ribeiro de Matos, na região do Jalapão, receberam o secretário de Estado da Educação, Fábio Vaz, e a filósofa e escritora de educação antirracista, Djamila Ribeiro, nessa quarta-feira, 16. A unidade escolar, que atende estudantes das comunidades Ambrósio, Formiga, Carrapato e Fazenda Nova, é uma das quatro escolas estaduais quilombolas do Tocantins.
O encontro aconteceu um dia após a participação de Djamila no Encontro Formativo de Educação Antirracista, promovido pelo Governo do Tocantins, por meio da Secretaria da Educação (Seduc). No evento, ocorrido em Palmas, ela dialogou com educadores sobre práticas pedagógicas voltadas à equidade racial.
“Acreditamos que a educação transforma realidades. A presença da Djamila aqui no Tocantins, falando com nossos educadores e sendo recebida em uma comunidade quilombola, representa o compromisso da gestão estadual em valorizar a diversidade, garantir a equidade e promover o respeito às identidades que compõem o nosso povo. Estamos fortalecendo políticas públicas que reconhecem, respeitam e incluem”, destacou Fábio Vaz.
A recepção foi organizada com cuidado pela comunidade escolar. Estudantes apresentaram músicas tradicionais do quilombo e recitaram poesias que celebram as raízes e a história local. As apresentações foram preparadas com orientação da professora Railane Ribeiro, que leciona a disciplina Cultura Quilombola.
“Esse é um dia muito especial. Receber o secretário Fábio e a Djamila aqui e mostrar as músicas e poesias, que preparamos com tanto carinho, importa muito para nós. Poder ver uma mulher tão importante com a nossa cor nos inspira e mostra para os estudantes que eles podem chegar onde eles quiserem. O dia de hoje foi um dia de vida”, completou Railane.
Para o estudante Davi Rodrigues Gomes, participar desse momento também foi marcante. “Eu sou muito feliz por estudar em uma escola quilombola. A gente aprende muito ouvindo a nossa própria história e mostrando isso para quem vem de fora. Dá orgulho ver que a nossa cultura está sendo reconhecida”, destacou o jovem.
Ao longo da visita, a escritora e o secretário Fábio foram guiados por moradores e estudantes até o Memorial Mumbuca, espaço que resguarda a memória e o legado de lideranças como Dona Miúda, Laurentina, Laurinda e Tia Doutora, mulheres que, com seus saberes, construíram um legado que segue vivo na cultura e nos modos de vida tradicionais do quilombo, que atualmente conta com uma população de cerca de 450 pessoas.
Durante a visita, Djamila falou sobre a emoção de estar, pela primeira vez, em solo tocantinense e em uma escola quilombola.
“Estou muito feliz de ter sido acolhida pela comunidade e de ter conhecido a escola. É bonito ver que a maioria das pessoas que trabalham aqui é da própria comunidade, que as crianças estão aprendendo sobre sua própria história, sobre a cultura quilombola, sobre quem foi essa grande matriarca, Dona Miúda, a rainha do capim dourado. Saber que esse legado está sendo passado adiante é muito emocionante. Nós, pessoas negras, sofremos com a invisibilidade da nossa história, e aqui acontece o contrário. A história está sendo mantida com o esforço da comunidade e o apoio do poder público. Isso fortalece. É um exemplo para outros estados do nosso país”, ressaltou Djamila.
Formação de Educação Antirracista
Mais de 700 educadores das 13 Superintendências Regionais de Educação (SREs) se reuniram em Palmas, nos dias 14 e 15 de abril, no Encontro Formativo de Educação Antirracista do Tocantins, no Centro de Convenções Arnaud Rodrigues. Promovido pelo Governo do Tocantins, por meio da Secretaria de Estado da Educação (Seduc), o evento teve como objetivo fortalecer práticas pedagógicas antirracistas nas escolas tocantinenses
A iniciativa faz parte do projeto Poder Afro de Combate ao Racismo nas Escolas Estaduais e o Programa de Fortalecimento da Educação Indígena (PROFE Indígena), e integra a Política Nacional de Equidade, Educação para as Relações Étnico-Raciais e Educação Escolar Quilombola (Pneerq).
O momento mais aguardado da formação foi protagonizado pela escritora, ativista e também educadora Djamila Ribeiro, que trouxe um debate importante com a sua palestra “Lugar de fala nas escolas: por que representatividade transforma realidades?”. A escritora, que é uma das principais vozes do movimento antirracista no Brasil, trouxe em sua fala assuntos como: o racismo científico, um contexto histórico sobre como a desigualdade foi construída, o mito da democracia racial, diversidade, racismo recreativo e, por fim, sobre os locais de fala e a importância da representatividade.
Ana Luiza Dias/Governo do Tocantins