Na noite da última sexta-feira, 27 de junho de 2025, após a publicação da reportagem do Jornal Primeira Página intitulada “Policial preso com Eduardo Siqueira Campos é irmão de desembargador federal em Brasília”, a delegada aposentada Millena Coelho Jorge Albernaz, esposa do desembargador Marcelo Velasco Nascimento Albernaz, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), fez ameaças e intimidações ao autor da matéria, o jornalista Rafael Miranda.
O policial civil preso e citado na reportagem é Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz, irmão do desembargador federal Marcelo Albernaz e cunhado da delegada aposentada Millena Coelho – esposa do desembargador. As ameaças ocorreram por meio de uma ligação telefônica direta ao jornalista Rafael Miranda, na qual Millena, de forma exaltada, exigiu a retirada imediata de seu nome e do nome do marido, que também já atuou como juiz federal no Tocantins – da reportagem.
O texto jornalístico foi publicado no contexto de uma nova fase da Operação Sisamnes, da Polícia Federal, que prendeu, na sexta-feira, 27, o prefeito afastado de Palmas, Eduardo Siqueira Campos (Podemos), além do advogado Antônio Ianowich Filho e do policial civil afastado Marco Albernaz.
Delegada aposentada utilizou termos ofensivos contra jornalista
Durante a ligação, Millena Coelho reafirmava continuamente sua condição de delegada aposentada da Polícia Civil e a posição do esposo como integrante da alta magistratura. Ao longo de mais de cinco minutos de conversa, que foi gravada pelo jornalista Rafael Miranda, a delegada aposentada utilizou termos ofensivos para descrever a reportagem, classificando-a como “maldade”, “veneno”, “sujeira” e “irresponsável”.
A delegada aposentada repetiu pelo menos sete vezes ameaças de processar o jornalista e o Jornal Primeira Página. Inclusive, não permitiu apartes do jornalista. Em tom intimidador, recorreu reiteradamente à sua trajetória na Polícia Civil e ao cargo do marido como desembargador federal. Em pelo menos três momentos, exigiu, de forma agressiva, a retirada imediata dos nomes e imagens da matéria, afirmando que tanto ela quanto o marido sempre mantiveram conduta ilibada na vida pública.
A reportagem do Jornal Primeira Página foi elaborada com informações de interesse público e revela o vínculo familiar entre o policial civil Marco Albernaz, preso na operação da Polícia Federal, e seus parentes, também servidores públicos com atuações no Poder Judiciário e na Segurança Pública.
O texto publicado na sexta-feira, 27, já havia feito questão de esclarecer, de forma explícita, que nem o desembargador Marcelo Albernaz nem sua esposa, a delegada aposentada Millena Coelho, foram alvos ou mencionados na investigação deflagrada pela Polícia Federal.
Diante das ameaças, o Jornal Primeira Página registrou boletim de ocorrência e apresentou pedido de representação criminal contra Millena Coelho ainda na mesma noite, na 1ª Central de Atendimento da Polícia Civil do Tocantins, em Palmas. A gravação da ligação foi anexada ao procedimento.
Confira a nota na íntegra ao final da reportagem.
Reportagem também retratou envolvimento de Marco Albernaz em outra operação
A matéria jornalística, questionada por Millena Coelho, detalhou ainda que seu cunhado, Marco Albernaz, já havia sido investigado anteriormente, sendo denunciado junto com o ex-governador Mauro Carlesse e outros policiais civis por suposta associação criminosa.
Segundo o Ministério Público do Tocantins (MPTO), entre abril e junho de 2020, o ex-governador teria ordenado que vários policiais conduzissem uma investigação clandestina — sem respaldo em qualquer procedimento oficial — com o objetivo de identificar o autor da produção e divulgação de um vídeo que atribuía à então primeira-dama do Estado um relacionamento extraconjugal. O grupo é réu na Justiça.
Operação Sisamnes da Polícia Federal
Conforme publicado pelo Jornal Primeira Página, a operação da Polícia Federal revelou os detalhes da atuação do Oficial Investigador da Polícia Civil, Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz, que está preso desde a sexta-feira, 27, e o uso da estrutura da Secretaria de Segurança Pública do Tocantins para monitorar investigações sigilosas e operações contra autoridades políticas no Tocantins.
Uma das formas de atuação do Oficial Investigador da Polícia Civil, Marco Albernaz, descritas na decisão do STF, envolve o uso de Estações Rádio-Base (ERBs) — estruturas operadas por empresas de telefonia móvel que registram a localização e a movimentação de celulares conectados à rede.
Por meio desses dados obtidos por sistemas da Secretaria de Segurança Pública, Marco Albernaz teve acesso às movimentações de agentes da Polícia Federal e de outras autoridades envolvidas em operações.
Em sua decisão, que autorizou a operação, o ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Cristiano Zanin, destacou:
“Há registro de troca de informações sigilosas entre o policial civil Marco Augusto Velasco Nascimento Albernaz e José Eduardo Siqueira Campos, revelando investigações no Tribunal de Justiça de Goiás, inclusive com compartilhamento de dados provenientes de Estações Rádio-Base (ERBs). A esse respeito, em 19/11/2024, Eduardo Siqueira mencionou: ‘Chuva manhã ou depois’. Na sequência, reencaminhou mensagens do advogado [Antônio Ianowich], a respeito da vinda de quatro equipes de Brasília [da Polícia Federal], compostas por Delegado, escrivão e dois agentes, cada uma. Marco Augusto, então, afirmou que Tiago Sulino [advogado e um dos alvos da Operação Máximus da Polícia Federal] seria ouvido na Procuradoria da República, fazendo colaboração sobre agentes da polícia federal e da polícia civil. Ainda, Eduardo Siqueira pergunta sobre pareceres da Procuradoria-Geral da República, ao que Marco Augusto confirma, e indica possíveis investigados”.
NOTA DE REPÚDIO DA FENAJ E SINDJOR/TO
AMEAÇAS AO JORNALISTA RAFAEL MIRANDA E AO JORNAL PRIMEIRA PÁGINA
A Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ) e o Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins (Sindjor-TO) vêm a público manifestar repúdio às ameaças, intimidações e tentativas de censura dirigidas ao jornalista Rafael Miranda e ao Jornal Primeira Página, por parte da delegada de polícia civil aposentada Millena Coelho Jorge Albernaz.
Na noite da última sexta-feira, 27 de junho de 2025, após a publicação da reportagem intitulada “Policial preso com Eduardo Siqueira Campos é irmão de desembargador federal em Brasília”, a delegada aposentada, esposa do desembargador Marcelo Velasco Nascimento Albernaz, do Tribunal Regional Federal da 1ª Região (TRF-1), realizou uma ligação direta ao jornalista Rafael Miranda, exigindo, de forma agressiva e bastante alterada, a retirada imediata de seu nome e do nome de seu esposo, que também já foi juiz federal no Tocantins, da referida matéria jornalística.
Durante a ligação, que durou mais de cinco minutos e foi gravada pelo jornalista Rafael Miranda, a delegada aposentada utilizou tom de voz alto, agressivo e intimidador, não permitindo argumentos com o profissional da imprensa, mencionando sua condição de policial civil aposentada e a do seu esposo como desembargador federal, além de afirmar, por sete vezes, que processaria o jornalista e o veículo de comunicação.
Millena Coelho utilizou ainda expressões ofensivas para desqualificar o trabalho jornalístico, chamando-o de “maldade”, “veneno”, “sujeira” e “irresponsável”, e exigiu, em três momentos distintos, a remoção dos nomes e imagens da reportagem, reafirmando constantemente o trabalho ilibado dela e do seu esposo nas suas funções públicas.
Logo após a ligação, ainda na noite da sexta-feira, 27, um Boletim de Ocorrência e pedido de representação criminal foram registrados por Rafael Miranda contra a delegada aposentada Millena Coelho Jorge Albernaz, na 1ª Central de Atendimento da Polícia Civil do Tocantins, em Palmas-TO, com o áudio contendo a gravação da ligação e as ameaças e intimidações anexado ao processo.
A matéria publicada pelo Jornal Primeira Página se baseou em informações apuradas com responsabilidade e relevância jornalística, trazendo à tona o grau de parentesco entre Marco Velasco Nascimento Albernaz, policial civil preso durante a Operação Sisamnes, e seus familiares com trajetória em cargos públicos no Poder Judiciário e na Segurança Pública: seu irmão, desembargador federal, e sua cunhada, delegada de polícia civil aposentada.
Ressalta-se que a reportagem fez questão de destacar, de forma clara, que nenhum dos familiares de Marco Albernaz foi citado ou mesmo alvo da operação da Polícia Federal da última sexta-feira, 27.
A tentativa de intimidação, especialmente partindo de uma autoridade policial aposentada, representa um grave ataque à liberdade de imprensa e ao exercício do jornalismo independente — pilares fundamentais da democracia. A FENAJ e o Sindjor-TO alertam que atitudes como essa não apenas ferem o livre exercício profissional, como também contribuem para o fortalecimento de um ambiente hostil à atividade jornalística, com potencial de fomentar a censura e o medo.
Reafirmamos nossa solidariedade ao jornalista Rafael Miranda e ao Jornal Primeira Página, veículo de comunicação pioneiro e tradicional, com 40 anos de atuação, bem como nosso compromisso intransigente com a defesa da liberdade de imprensa, da ética jornalística e do direito da sociedade à informação.
-Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ)
-Sindicato dos Jornalistas Profissionais do Estado do Tocantins (Sindjor-TO)
Palmas, 30 de junho de 2025