Leia a coluna da jornalista e advogada, Sandra Miranda, fundadora do Jornal Primeira Página:
A política no Tocantins está marcada por uma guerra franca entre o governador Wanderlei Barbosa e seu vice Laurez Moreira, que vem articulando o afastamento do chefe do Executivo. A tensão entre eles reflete um clima de disputas intensas pelo poder. Enquanto isso, o desmatamento autorizado no estado entre 2021 e 2024 atingiu um número alarmante de 886.253 mil hectares, evidenciando os impactos ambientais significativos com aval do governo.
DE VIDRO
O senador Eduardo Gomes, que já demonstrou intenção de se candidatar a governador do Tocantins, nas eleições do ano que vem, tem um problema pela frente: o seu imenso telhado de vidro, com o mais visível sendo os recursos da Codevasf – a Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba. Coisa na casa de bilhões de reais.
LÓGICA
Por falar nas eleições do ano que vem, a lógica diz que o governador Wanderlei Barbosa vai acabar renunciando ao governo em abril de 2026, única forma de viabilizar sua candidatura ao Senado – que tem duas vagas em jogo, bem como uma candidatura da sua esposa, a Karynne Sotero, que a julgar pela movimentação dela, é candidatíssima nas próximas eleições.
GUERRA
Há no momento uma guerra franca entre Wanderlei e seu vice Laurez Moreira. Este articulou sim, por bastante tempo, o afastamento do governador, com a ajuda de nomes de peso em Brasília, já que o Tocantins fez história nessa seara, com o próprio Wanderlei tendo ocupado o lugar de Mauro Carlesse, após seu afastamento e por fim, desistência do mandato.
ATÉ CASAMENTO
Para mágoa de Wanderlei, Laurez manteve tratativas sobre um possível afastamento, até durante a festa de casamento da filha do governador, no Nordeste, para a qual o vice foi convidado, isso lá no final de 2023. Contudo, se a lógica imperar – o que não acontece sempre em política, os ânimos de ambos os lados devem ir serenando. E claro, vão dizer depois que “é pelo bem do Tocantins”.
NEPOTISMO
Impressionante como impera no Tocantins a prática velhaca de concentração e continuísmo do poder. É o nepotismo na política. São os casos de parentesco entre os políticos, quando a mãe e/ou pai, e/ou marido/esposa, tios, sobrinhos, primos, etc, também conquistam um mandato na esteira do familiar.
EMPURRÃO
O negócio em família, começa quando um dos membros chega ao poder, e usando desse poder – político e econômico (com o dinheiro do contribuinte), o número um dá um senhor empurrão na candidatura do parente.
DE COR
Quem tem estômago para acompanhar a política tocantinense de perto, sabe de cor os casos de dupla pai/filho, marido/mulher, trio até de irmão/irmãos, tios/sobrinhos. Isso vem ocorrendo desde a criação do Tocantins. Mas não é difícil lembrar, basta olhar os sobrenomes.
NÃO ADIANTA
E não adianta fazer como o senador Irajá Abreu, que na eleição de 2022, quando concorreu ao governo do Estado, escondeu dos eleitores, o sobrenome Abreu, que utilizou durante a vida inteira, preferindo se apresentar com o seu outro sobrenome, Silvestre, para se afastar da imagem da mãe Kátia Abreu, já muito desgastada, e que foi derrotada na sua tentativa de reeleição.
CARGOS
Quando o parente não engata uma carreira na política, vai ocupar cargos importantes na gestão do poderoso de plantão, apesar dos esforços dispendidos pela justiça para colocar fim nessa prática. É a concentração de poder na sua essência. E que facilita a corrupção.
ALAVANCAR
Aliás, há casos em que esses cargos são dados aos parentes, para alavancar candidaturas à reeleição do poderoso, ou quiçá, serve também a uma pretensão política futura dos próprios parentes.
CRUZADO
Os Poderes Judiciário e Legislativo, os Ministérios Públicos, os Tribunais de Contas, etc, acharam no nepotismo cruzado, uma forma de burlar o impedimento legal, com a troca de favores entre os gabinetes, na base do “você contrata o meu parente, que em troca eu contrato o seu”. Vergonha!
MARCOU ÉPOCA
Uma frase do ex-governador Moisés Avelino, marcou época, quando em entrevista para a imprensa na ocasião, declarou que o filho Igor Avelino, que foi deputado federal entre 1999/2003, “iria ser o representante da família na política tocantinense”, o que foi muito criticado pelos adversários.
SOMBRA
As feministas falam tanto no empoderamento, mas uma análise do cenário, mostra que quase sempre as mulheres que conquistam cargos políticos, o fazem sob a sombra de um homem. Um dos exemplos é Cinthia Ribeiro, viúva do senador João Ribeiro. Já com o deputado estadual Eduardo Mantoan, ocorreu o inverso.
NOTÓRIOS
Há casos notórios no estado do Tocantins, alguns provenientes, inclusive, de infidelidade conjugal. E quando elas chegam lá, muitas vezes são acometidas da síndrome do capitão do mato, mostrando-se hostis com outras mulheres que batalham na caminhada rumo ao sucesso, mesmo em áreas diferentes.
DESMATAMENTO
Dados consolidados pelo Ministério Público do Tocantins (MPTO) revelam a real dimensão do desmatamento que vem ocorrendo no Tocantins. Ao longo de 2023, foram identificados 2.181 imóveis rurais responsáveis por desmatar ilegalmente mais de 44 mil hectares de área.
AUTORIZADO
Quando analisados os números de desmatamento autorizado pelo Governo do Tocantins, por meio de licenças concedidas pelo Naturatins, o valor chama a atenção: 886.253 mil hectares entre os anos de 2021 e 2024. Um número assustador.
MUNICÍPIOS
No ranking de municípios com desmatamento autorizado, destaca-se a cidade de Rio Sono, com 71.818,8 hectares, seguida por Paranã, no Sul do Tocantins, com 54.639,9 hectares, e Ponte Alta do Tocantins (portal de entrada do Parque do Jalapão), que somou 42.491,8 hectares.
OS GRANDES
Conforme dados do Ministério Público do Tocantins, a maior parte dos alertas de desmatamento autorizados no estado concentra-se entre 100 ha e 1.000 ha, correspondendo a 80% do total registrado entre 2021 e 2024.
MAURO CARLESSE
Por curiosidade, uma das fazendas com grandes alertas de desmatamento está localizada entre Paranã e São Salvador: a Fazenda Joia Rara. Ao todo, foram desmatados 4.821,48 hectares nesta propriedade ao longo de seis anos. Foi lá, inclusive, que o ex-governador Mauro Carlesse foi preso em dezembro de 2024, enquanto planejava uma fuga do país para evitar a prisão.