Vídeos mostram o momento em que o indígena David Dias Apinajé, de 29 anos, foi espancado até a morte em Tocantinópolis, norte do Estado, sem motivação e sem chance de defesa, no último sábado (16). Os dois suspeitos, de 18 e 20 anos, foram presos nessa quarta-feira (20), após serem identificados por câmeras de segurança de estabelecimentos comerciais.
Dois homens de 18 e 20 anos, flagrados por câmeras, foram presos pela 20ª Delegacia de Polícia.
Trechos das imagens que circulam nas redes sociais mostram o momento em que o indígena, aparentemente, agachado é atingido por algum objeto, por um dos homens. Ele consegue se levantar, mas é atingido por um chute e cai de costas. As agressões se tornam mais violentas, dessa vez pelos dois homens, com chutes e pontapés. Os homens pegam algo no chão e começam a atingi-lo novamente.
Detalhes de um outro vídeo mostram os homens subindo uma rua e olhando para trás, depois retornam. De acordo com o delegado Tiago Daniel de Moraes, da 20ª Delegacia de Polícia Civil, de Tocantinópolis, que investiga o caso, esse é o segundo momento das agressões.
Câmeras de segurança levam à identificação e prisão de suspeitos pela morte brutal de jovem indígena em Tocantinópolis.
Antes, os criminosos teriam encontrado a vítima dormindo na calçada e, gratuitamente, começaram a agredi-lo, conforme relataram no depoimento à polícia. O indígena teria seguido na direção dos criminosos, que se afastavam. Neste momento, eles se voltam e acabam por atacá-lo novamente, desta vez com tijolos, conforme posteriormente identificado.
A brutalidade ao jovem, a quem não foi dada chance defesa, ocorreu sem motivação, ou seja, por motivo torpe (repugnante). No depoimento, os suspeitos não apresentaram motivos para o crime e informaram que tinham ingerido bebida alcoólica.
De acordo com o delegado, foi representada à Justiça pela prisão preventiva dos dois suspeitos enquanto ocorrem as investigações, por homicídio qualificado, por motivo torpe. Eles estão presos na delegacia de Tocantinópolis enquanto as investigações se desenvolvem. Pelos circunstâncias do crime, os suspeitos se condenados podem cumprir pena de 12 a 30 anos de prisão, segundo explicou o delegado.
Instituto Indígena se manifesta
O Instituto Indígena do Tocantins (Indtins) se manifesta diante da prisão dos suspeitos, que traz à família e à comunidade a esperança de justiça. A entidade reforça que espera que os criminosos sejam julgados e punidos com o rigor da lei e que, uma vez a justiça feita, sirva de exemplo para prevenir novos ataques como o que vitimou David.
Confira na íntegra o manifesto da entidade
Diante da brutalidade que tirou a vida do jovem David, por motivo torpe, sem chance de defesa, o que revela o descaso com a vida das pessoas indígenas, que se veem constantemente intimidadas, violentadas e, muitas vezes, como nesse caso, mortas, pelo simples fato de existir e de ir e vir, exercendo um direito constitucional que lhe é dado ao nascer, como a qualquer outro cidadão e cidadã.
Com igual indignação, acompanhamos outras violências acometerem o nosso povo dia após dia. No domingo (17), perdeu a vida a adolescente Maria Clara Batista Vieira, de apenas 15 anos, do Amapá, vítima de feminicídio, na Guiana Francesa, 4 dias após brutal violência sexual. Ela era da etnia Karipuna, de origem da Aldeia do Manga, no município de Oiapoque (AP), no extremo Norte do Brasil.
Na segunda (18), também morreram a líder religiosa Sebastiana e o marido Rufino, ambos da etnia guarani-kaiowá carbonizados dentro da casa em que moravam, na aldeia Guassuty, em Aral Moreira (MS).
Diante de tanta violência e banalidade a vida do nosso povo, cobramos a proteção do Estado Brasileiro, exigimos políticas públicas de segurança das autoridades estaduais e locais onde habitam o nosso povo; exigimos respeito aos nossos corpos territórios; exigimos apuração dos fatos e a punição dos criminosos; exigimos uma educação que nos enxergue e que promova a cura de uma sociedade adoecida, que renega seus iguais irmãos da raça humana pelo simples fato das diferenças étnicas.