Quem vive na região sul de Palmas está com medo. Desde o início do ano, uma série de assassinatos tem deixado os moradores apreensivos. Bairros como Morada do Sol, Aureny 2, União Sul, Lago Sul e Irmã Dulce já registraram homicídios este ano.
Uma dona de casa que vive no Irmã Dulce há dez anos aceitou conversar com o Jornal Primeira Página mas sem revelar sua identidade. A senhora que tem 60 anos e é aposentada diz que é uma verdadeira tortura estar em casa presa enquanto criminosos atuam na cidade.
“A gente sofre aqui no Irmã Dulce. Não tem infraestrutura, não tem o básico, asfalto, as vezes falta iluminação pública e agora não tem mais segurança. Quando a gente reclama, a única desculpa é que o setor não é regularizado. Mas nós que somos cidadãos de bem merecemos mais”, lamenta.
Foi nesse setor que o jovem Diego Sales de 22 anos foi morto. Morando no Irmã Dulce há cerca de três meses, Diego foi executado com pelo menos 11 tiros. De acordo com informações da Polícia Militar, a vítima foi abordada por dois homens em uma moto que efetuaram os disparos e depois fugiram.
“Como que você pode se sentir segura, quando uma pessoa recebe 11 tiros no bairro que você mora. Como você vai se sentir segura para tomar um ar na porta de casa? Comprar algo na mercadinho a noite? A gente fica com medo, imagine você estar no lugar errado na hora errada?”, questiona.
Diego não foi o único jovem que foi morto. Matheus Sousa de 22 anos estava em casa no Jardim Aureny II quando foi executado com seis tiros. A sogra de Matheus contou à polícia que dois homens estavam parados na porta de casa, quando um deles entrou e chamou por ele. Quando o jovem saiu os disparos foram efetuados e os dois fugiram em uma moto.
A sogra também informou que a vítima era uma pessoa quieta e que só vivia dentro de casa. A família abalada cobra por respostas e por mais segurança.
O perfil das vítimas de 2023 mostram que mais jovens tem sido assassinados no Tocantins. Este ano, até o dia 17 de janeiro foram 20 homicídios. Apenas três mortos tem mais de 34 anos. 71,4% dos mortos são homens.
O assassinato de jovens não é uma exclusividade da capital. Erick de Paiva Sousa tinha18 anos e foi morto a tiros no setor Lago Azul IV em Araguaína, região norte do Tocantins. De acordo com as informações da Polícia Militar, ele estava sentando na sala da casa quando foi executado.
Testemunhas disseram que Erick estava na companhia de três homens, quando os autores chegaram em duas motocicletas. O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou a ser acionado, mas a vítima não resistiu aos ferimentos.
Apesar da redução, número de homicídios ainda é alto
Na comparação com o ano passado, houve uma redução no número de homicídios. Enquanto até o dia 17 de janeiro de 2023, 20 pessoas foram mortas, no mesmo período em 2022, 24 assassinatos foram registrados.
Em 2022 Palmas e Araguaína estavam empatadas com o registro de cinco homicídios em cada cidade. Já em 2023, a capital teve crescimento no número de assassinatos, foram sete mortes registradas. Araguaína na contramão reduziu os registros e segue com três homicídios na cidade.
Em todo o Tocantins, em 2022 foram registrados 401 assassinatos. O mês de janeiro foi o mais violento com 55 mortes, na sequência está o mês de agosto com 51 mortes e abril com 40 homicídios. Já o mês menos violento foi setembro com 21 mortes.
Combate à criminalidade e violência
Para reestabelecer a sensação de segurança na população a Polícia Militar tem reforçado ações de patrulhamento, principalmente na região sul de Palmas que é onde os crimes estão ocorrendo. Segundo a PM, esses casos tem relação com o tráfico de drogas e a guerra entre facções criminosas. A queima de arquivo é uma das linhas de investigação. A Polícia Científica e Judiciária não tem descartado essa e as demais possibilidades.
Para o cientista social Fernando Sousa as características desses crimes também revelam outro viés. O especialista conta que a região onde esses crimes acontecem e o perfil das vítimas são reflexo do cenário de desigualdade social.
“Os crimes são realizados em sua grande maioria na região sul de Palmas. São locais onde pessoas mais humildes vivem. São locais mais afastados do centro ou de quadras mais nobres. Outro ponto de atenção é que a maior parte da vítimas é composta por pessoas pardas e pretas. Isso também está dentro do recorte de desigualdade”, aponta o cientista social.
Segundo Fernando Sousa a criminalidade ganha mais força em áreas com escassez de oportunidades. “Você precisa oferecer outras possibilidades para esses jovens que estão morrendo. Não basta fechar os olhos e se justificar dizendo que são jovens envolvidos no mundo do crime. A primeira pergunta e desafio do poder público é: Porque esse jovem se envolveu com o crime? Que tipo de oportunidade o poder público ofertou para que outra realidade fosse possível?”, questiona.
O especialista também alerta sobre como a escola pode ser um caminho para tirar esse jovem do mundo crime. “Já é um fato que as facções estão recrutando jovens de periferia para atuar com tráfico de drogas e diversos outros crimes. Para termos uma sociedade mais segura nós precisamos manter esse jovem na escola, incentivar que ele tenha acesso ao esporte, cultura, alimentação. Isso vai fazer com que esse jovem acredite no sistema e não seja corrompido por essas organizações do crime”.
Já a Secretária de Segurança Pública informou que um novo concurso para Polícia Civil deve ser realizado para reforçar o efetivo policial em todos os 139 municípios. O governador Wanderlei Barbosa já teria autorizado o certame e o autorização para lançar o edital deve ser dada em breve. Nós também questionamos a pasta sobre ações pontuais para frear essa criminalidade, mas até o fechamento desta edição não houve resposta.