O afastamento do governador do Tocantins, Wanderlei Barbosa (Republicanos), e da primeira-dama Karynne Sotero, completa um mês nesta sexta-feira (3). Ambos foram afastados por decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) durante a segunda fase da Operação Fames-19, da Polícia Federal, que apura suposto esquema de desvio de recursos em contratos de compra de cestas básicas na pandemia de Covid-19. Desde então, o vice-governador Laurez Moreira (PSD) está à frente do Executivo estadual.
A decisão tem prazo de 180 dias, ou seja, seis meses. A defesa de Wanderlei apresentou pedido de habeas corpus ao Supremo Tribunal Federal (STF), que foi inicialmente recusado por falta de documentação, mas segue em análise. Outros recursos ainda estão previstos para os próximos meses.
Defesa e acusações
A assessoria de Karynne Sotero afirmou que ela “está acompanhando o governador Wanderlei Barbosa nas discussões com os advogados e aguardando a decisão para restabelecer a normalidade jurídica, política e democrática no estado do Tocantins, com o retorno do eleito pelo povo”.
Segundo a PF, os dois integram o núcleo político do esquema investigado, que envolveria ainda servidores públicos e empresários, responsáveis por direcionar licitações e simular concorrência. Os crimes apurados incluem frustração ao caráter competitivo de licitação, peculato, corrupção passiva, lavagem de capitais e formação de organização criminosa.
As investigações apontam que empresas contratadas teriam forjado a montagem das cestas básicas para simular entregas, usando listas falsas com CPFs de beneficiários e imóveis em nome de terceiros para ocultação de recursos.
Impactos políticos e administrativos
Após o afastamento, Laurez Moreira exonerou todos os secretários do primeiro escalão, medida que, segundo ele, atendeu a recomendação do STJ. Desde então, iniciou a recomposição da equipe, reconduzindo alguns nomes e nomeando novos gestores.
A mudança também desencadeou embates políticos. Nas redes sociais, Wanderlei nega as acusações e afirmou ser vítima de perseguição:
“Derrotei pessoas que não aceitaram e se juntaram ao vice-governador Laurez. Durante todo esse tempo eu sofri muito, por isso houve o meu afastamento do Laurez, porque eu sabia o que ele estava fazendo.”
Laurez respondeu:
“O afastamento dele é questão da Justiça, e é um problema que tem que resolver com a Justiça, não comigo, né? Quem sou eu para tramar contra alguém ou fazer alguma coisa. Ele tem que responder pelos atos que praticou.”
Outra medida adotada pelo governo em exercício foi a suspensão do contrato de táxi aéreo que fornecia aeronaves utilizadas por Wanderlei. Segundo Laurez, o serviço deve ser utilizado para viagens institucionais em busca de recursos, “mas não sair com seus amigos para fazer viagens internacionais”.